Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Peregrinação ao Castelo de Xavier abril/maio de 2011

A peregrinação não poderia ter melhor começo. Foi iniciada por Paris. Visitamos a cidade e alguns dos seus principais pontos turísticos eis que é literalmente impossível conhecer Paris no tempo do qual dispúnhamos. Estivemos em Notre Dame, uma basílica do Século XII, fomos até à Sorbonne no Quartier Latin, contornamos a Torre Eiffel, vimos os jardins, o Louvre, os Campos Elíseos e o Arco do Triunfo. Depois da visita mais geral do grupo de peregrinos, cada um, por si segundo o que lhe ordenava o coração, passava a visitar aqueles pontos que mais haviam lhe chamado a atenção.

No outro dia fomos a Montmartre onde descortinamos linda vista de Paris, visitamos o imponente Sacre Coeur e a capela de São Pedro, pequena jóia escondida por trás da imensa basílica. Lugar de peregrinação para nós, eis que dentro dela Francisco Xavier, Inácio de Loyola e mais cinco companheiros fizeram seus primeiros votos de castidade, obediência ao papa, pobreza e de peregrinarem até a Terra Santa.

À tarde a nossa primeira missa. Celebrada com grande alegria e consolação na capela da Medalha Milagrosa bem no centro da cidade, junto às relíquias de Santa Luiza de Marilac e Catarina Labouré, pelo padre Josumar. Na noite fria passeamos pelo Sena e um grupo se animou a caminhar do hotel onde nos hospedávamos na Gare de Lion até a Torre. Nosso último dia foi de visita ao Palácio de Versailles para uns e do Louvre para outros. Dia intenso de muitas belezas e muita gente à volta. Há turistas demais em Paris e tivemos que peregrinar também por longas filas para ter acesso ao Castelo.

Saindo de Paris fomos então na direção de Lourdes. Passamos primeiro pelo vale do Loire , onde se encontram vários castelos da nobreza francesa. Visitamos um deles, considerado pelo nosso guia Heitor como o mais bonito de todos. O Castelo de Chambord construído pelo rei Francisco I para lazer e local de caça. Realmente, a construção parece ter saído de alguma tela de filme de fantasia que tenta retratar a vida de alguma rica corte.

No final da tarde, sob a forte chuva que nos lavava e nos deixava preparados para adentrar, limpos, naquele local sagrado chegamos à Lourdes. Entramos cantando e rezando já acolhendo e sentindo, assumidas pelos sentidos todos como peregrinos, a atmosfera sagrada que nos envolvia. Malas jogadas nos quartos, jantar acelerado e caminhávamos rumo à impressionante “procissão de velas”.

Mar de gente seguindo rezando e cantando Ave Marias no exercício da sua fé. Milhares de ponto de luz que marcam a noite provando o amor da mãe. Filas e mais filas de cadeiras de rodas e macas puxadas e empurradas por incansáveis soldados da ajuda. Crianças e adultos portadores de todas as doenças e incapacidades peregrinando em busca do milagre da aceitação da sua limitação.

O rio de águas puras a serpentear, incansável, como a fé dos peregrinos, ao lado da gruta das aparições. Lourdes ajuda-nos na composição do lugar na contemplação da Paixão de Cristo no sofrimento humano. Na capela da padroeira da França, Santa Joana D’Arc a missa matinal na intimidade do nosso grupo peregrino.
Deixados tantos agradecimentos e pedidos trazidos desde a nossa Paróquia, seguimos para o Castelo de Xavier, para meditarmos e rezarmos na casa onde nasceu e viveu nosso padroeiro São Francisco Xavier. Muita emoção ao divisarmos a torre do castelo aonde tremulava a bandeira da sua família. Nossa visita e orações, tendo presentes no coração o tanto de peregrinos que mesmo estando no Brasil, caminham conosco por esses caminhos de fé e de tanta santidade.

Ao final da visita a missa na capela do Cristo sorridente, lugar de oração de São Francisco na sua infância e juventude, bem como por séculos da sua família, hóspedes e empregados, agora retomado por nós, quase quinhentos anos depois, seus filhos espirituais na paróquia tão distante em Niterói. Na missa pudemos, mais uma vez,entregar ao Senhor os agradecimentos pela sua infinita bondade ao nos propiciar essa graça tão grande da peregrinação. Dia que sugere a oração feita através da poesia.

Olhos que perscrutam o horizonte
querendo enxergar além dele outros povos.
Boca de profeta que não se cala e canta,
e grita e repete a boa nova de Jesus.
Ouvidos atentos para escutar tantos pecados,
perdoando e reconciliando os filhos.
Mãos que trabalham duro, carregam peso
e que também abençoam quem passa.
Pés incansáveis a enfrentar as pedras,
o gelo, o calor e o frio para levar o Senhor.
Coração inflamado a dar testemunho que nada,
além do amor de Deus, vale a pena.
Francisco Xavier, que sob seu exemplo
também sigamos com ânimo na missão.

Acabava o dia e lá fomos nós em direção a Pamplona, cansados de corpo, mas leves de espírito. Os peregrinos depois de ter estado aos pés de Maria, haviam conhecido também a casa do seu protetor São Francisco Xavier.

Novo dia que chega e eis que nos colocamos novamente no caminho. Agora para o lugar no qual uma bala de canhão mudou a história ao atingir as pernas de Inácio de Loyola. Onde hoje é o Centro de Pamplona, fomos até o lugar onde caiu em 1525 Santo Inácio de Loyol,a na luta em defesa do castelo da cidade, celebramos, presidida pelo Padre Josumar, a missa. Ao final dela fomos rezar no local exato da queda, defronte a uma capela onde acontece hoje a “adoração perpétua” do Santíssimo Sacramento.

Visita em seguida, guiada por Maria, ao Centro histórico da cidade. A visão impressionante das muralhas, os muito peregrinos cruzando-a a caminho de Santiago, o lugar onde na festa de São Firmino são soltos os touros para correrem, em meio a mais de vinte mil jovens a caminho da praça de touros.

Dia seguinte e estamos no rumo de Barcelona. A grade e bela cidade mediterrânea com suas histórias, sua arte impressionante e o agito de muitos turistas à volta. Visita guiada por Santiago. Bairro Gótico, antiga Catedral, becos que vão se fechando acima pelos prédios que avançam para a rua, Gaudi e suas loucuras maravilhosas e chegamos à Sagrada Família. Não entramos dessa primeira vez, apenas circulamos o Templo e recebemos explicações gerais sobre as três fachadas. A do Nascimento, a da Paixão e a da Glória.

Tarde que nos apanha nos ventos de Montserrat. A montanha que vista ao longe mais se parece com um grupo de peregrinos que se abraçam e nesse contato se agigantam subindo aos céus impelidos pelas orações A beleza do lugar, a aura mística que nos envolve, faz com que nos sintamos, literalmente, mais perto de Deus. Na entrada do majestoso templo a parada no lugar onde o Peregrino Inácio trocara de roupa com o mendigo.

A entrada e a subida para o “camarim” da Virgem de Montserrat, na capelinha, atrás do qual, tivemos a última missa da peregrinação. Celebração de ação de graças pela alegria de estarmos chegando bem ao nosso peregrinar seguindo passos do nosso padroeiro Francisco Xavier. Graças pelos que no Brasil, familiares, amigos e paroquianos, estiveram todos esses dias unidos a nós.

Na noite passeio a pé pelo bairro Gótico. Encontro emocionado na Igreja de Santa Maria do Mar, aonde, sentados, como Inácio de Loyola, no mesmo lugar onde pedia esmolas para o seu sustento e para os pobres, rezamos, tiramos fotos e deixamos acesas duas velas.
Dia seguinte é livre e nova visita, dessa vez ao interior do templo da Sagrada Família. A admiração da genialidade humana, ali expressa na arte de Gaudi, mas mais ainda a tarde de oração compondo lugares nos tantos sentidos que ele vai colocando dentro do Templo para aproximar os peregrinos de Deus. Visita de se sair com o coração lavado por ter sentido o Amor de Deus por cada um de nós a partir da manifestação significativa da Beleza.

Sábado, dia 7 de maio e estamos arrumando malas. Daqui a pouco nossa última viagem no ônibus com o catalão Jordi, Jorge na nossa língua, que tem nos guiado cuidadosamente por esses caminhos de peregrinação. Amanhã, nesse horário todos estaremos já em casa comemorando com nossos familiares o dia das mães e tendo muito o que partilhar com eles.

Na vida temos anjos da guarda e nessa viagem Deus nos enviou um bem especial para estar conosco e nos reunir, não deixando que nos dispersássemos, o Heitor. Agradecemos a Deus por ele, pela sua vida e pedimos nesse agradecimento que continue nesse serviço tão bonito de mostrar o caminho para os peregrinos, animando-os para que não fiquem parados.

Igual às águas também peregrino.
Despenco-me das grossas nuvens
Subo aos céus em mínimas porções.
Caminhante sou de puros regatos
e reconheço-me em valas poluídas.
Reunido aos irmãos torno-me rio,
Em santuários chamamo-nos mar.
Tendo cheiros e cores diferentes,
águas se encontrando no Amor.
Reconhecemo-nos todos em casa,
Somos acolhidos pelo colo materno.
Daquela que nos leva para seu Filho.
Igual às águas também peregrino.

Fernando

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 29/05/2011


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