Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos

Näo consigo permanecer nos empregos. O que há de errado comigo?

Minha cara Marcela, 
Paz!

Você me conta viver o drama de não conseguir permanecer em empregos. Está sempre saindo deles. Pergunta-me então o que possa estar acontecendo com você: Será que é uma pessoa incompetente? Digo-lhe que essa questão que aqui me traz não é nada simples. Ela exige que a avaliemos por vários ângulos. Aqui com você refletiremos sobre cinco deles. Talvez os mais importantes numa primeira abordagem.

1 – A questão da competência. Todos nós temos talentos. São os dons que nos fazem capazes de executar aquilo que nos é demandado. O problema é que somos limitados e por causa disto não temos todas as competências possíveis no mundo. Possuímos somente um pedaço (pequeno) delas. Com isto quero lhe dizer que cada um de nós é bastante competente para uma série de coisas, ao mesmo tempo em que não o será para outras. É impossível ser bom em tudo. Há muitas coisas que não somos capazes de fazer. São temas ou atividades que mesmo tendo investido muito tempo no estudo e treino delas seremos capazes de adquiri-las. Para ficar mais claro vamos usar aqui o exemplo da competência para se ser um bom atleta de corrida. Mesmo que quando jovem eu quisesse ser atleta não conseguia correr mais do que o meu limite e esse era bem baixo. Ainda que me superasse chegava corriqueiramente bem atrás daqueles outros que tinham mais competência nessa atividade esportiva do que eu. Ou seja, eu era incompetente para correr naquele ritmo estipulado. É preciso tomar consciência de que nunca seremos competentes para tudo. Para um tanto de coisas sempre seremos incompetentes e isto não pode ser causa de tristeza, desânimo e baixa estima. Daí que lhe faço a seguinte pergunta: Não estaria você buscando trabalhar em tarefas, funções ou atividades para as quais não tem a competência necessária para bem executá-las e por isso acaba demitida quando vêem que não consegue desempenhar a contento suas funções?

2 – A questão da aquisição de competências. Vamos agora ver um pouco o problema pelo lado da aquisição das competências. Com isto quero dizer que há competências que podem ser adquiridas. Muitas das que utilizamos no trabalho poderão verdadeiramente sê-las. Outras demandarão tanto esforço que nem valerá a pena desenvolvê-las. Para algumas mais, como vimos no item acima, seremos sempre incompetentes. Daí que é importante você fazer um inventário das suas competências técnicas. Estará mesmo assumindo um trabalho no qual se sinta com segurança para realizá-lo com segurança, rapidez e qualidade? Será que está preparada física, mental e psicologicamente para bem realizá-lo? Caso nessa sua reflexão veja que está em falta com alguma ou várias competências deverá, antes de assumir o trabalho, preparar-se bem para ele. Vejamos o exemplo do vendedor. Essa é uma função que requer bastante habilidade interpessoal, ou seja, a pessoa que quiser desempenhar, com competência, esse trabalho precisará saber interagir com os demais. Tratá-los com cortesia, ter paciência, saber ouvir, entender enfim os motivos do outro para que consiga realizar suas vendas. Alguém que tenha dificuldade de falar, que seja inseguro nas interações com as pessoas, ou impaciente e fechado será consequentemente incompetente nessa função. Deverá então procurar algum trabalho que não o exponha tanto ao público, até que tenha superado as suas dificuldades. Algumas delas poderão ser supridas com cursos. Caso sejam mais profundas o aconselhável é que busque ajuda profissional. Repare amiga, que quando vemos um artista dançando e encantamo-nos com seus passos leves e harmoniosos, podemos bem ter a impressão de que faz aquilo naturalmente, como dom. Ledo engano esse nosso. Mesmo possuindo a competência para a dança, aquilo que realiza para o nosso deleite é fruto de imenso esforço. Daí lhe que faço a pergunta: O quanto tem se preparado nas competências técnicas (que é o como se deve agir para desempenhar o trabalho) e interpessoais (o como interagir com as pessoas para que a tarefa se realize com qualidade)? Será que não está indo para o trabalho achando que as coisas “cairão do céu”?

3 – A questão da autoridade. Pode bem ser e isto deverá também ser discernido por você, que veja a instituição como um ser poderoso ao qual deva se subjugar total e completamente. É claro que não gostamos e nem queremos nos sentir por baixo, massacrados mesmo, pela organização. Daí que pessoas que se sentem assim, quando vivem a pressão dos representantes da organização, se sentem tão mal que preferem sair fora. Ou seja, há gente que tem muitas dificuldades no lidar com as autoridades da empresa. Diante delas avalie se você não se comporta como alguém que está costumeiramente desconfiando dos seus líderes, por ter dúvidas sobre as reais intenções que elas possuem em relação a você. Ou então que as fique questionando ininterruptamente para ter segurança de que são realmente capazes de estar na posição que ocupam. Tenho visto muita gente que não consegue prosseguir no emprego por causa disso. Elas têm muito medo e diante desse sentimento costumamos ter dois tipos de reação. Ou fugimos (deixando a empresa), ou atacamos a autoridade (e nesse caso geralmente a organização nos deixa). Avalie sua postura em relação às autoridades (chefes, supervisores, gerentes) e veja se o que ocorre não está ligado a este ponto. Faço-lhe sobre esse aspecto também um questionamento para sua reflexão: Como lida com a autoridade no trabalho? Aceita-a com naturalidade pela necessidade que todos temos da hierarquia? Por causa do medo costuma atacá-la, ou ao contrário foge dela?

4 – A questão do mercado de trabalho. Nosso país, graças a Deus, ao contrário do que acontece em outras partes do mundo, vive um tempo de crescimento. Principalmente nas grandes cidades chega a haver falta de profissionais competentes. Ou seja, caso a gente se prepare naquilo que sinta que é bom (e cada um tem consciência daquilo que realmente executa bem), haverá alguém precisando do seu trabalho. Mercado aquecido significa que há espaços livres a serem ocupados, mas lembre-se que eles o serão somente por pessoas competentes. E ser competente nada mais é do que ter se ter preparado para assumi-los. Veja as vocações do lugar aonde vive. Por exemplo, caso seja a sua uma cidade turística haverá mais oportunidades em setores como hotelaria, serviços, artesanato, alimentação... Já se morar em uma área industrial as oportunidades estarão mais afeitas às atividades técnicas e administrativas. A partir das vocações do lugar poderá sentir melhor para que lado deva encaminhar a preparação, para bem desempenhar o papel profissional com competência. Nessa questão há que se considerarem também dois momentos muito bem definidos da vida: a juventude e a idade madura. Por um lado o jovem sente dificuldade de entrar no mercado, porque não tem experiência e os contratantes nesse modelo econômico no qual vivemos, infelizmente só pensam no lucro e no curto prazo. Não querem formar as suas pessoas e aí passam a exigir, como se isso fosse possível, experiência de quem nunca trabalhou. Nesse caso, para adquirir experiência, não tenha a “vista muito alta”. Contente-se com uma remuneração menor até que possa, senhor e senhora da sua competência, exigir uma contrapartida realmente justa pelo que realiza. Na outra ponta temos a pessoa que já tem toda uma vida de experiência e que mesmo assim sente ser vista como inadequada pelas organizações. Gente assim é muito útil e necessária no mercado. Elas podem ser treinadoras e mesmo ser suporte para os mais jovens auxiliando-os para que adquiram experiência. Será também nesse foco que poderão encontrar seus espaços. Daí que vem a pergunta: Sente-se apta para o mercado de trabalho do lugar aonde vive? O que lhe falta? Caso esteja faltando algo, como suprir essa carência?

5 - A questão pessoal. Para ser um bom profissional, além das competências é necessário que se possuam as habilidades e atitudes necessárias ao desempenho daquilo a que se propõe. Das competências e habilidades já tratei bastante nos quatro pontos anteriores. Agora quero refletir com você sobre as atitudes. Acaso não tenha conseguido se firmar no emprego por causa das competências e habilidades, será importante que reflita agora sobre as atitudes. Ter atitude é ter valores. O significado de valor é bem claro. Valor nada mais é do que aquilo que vale para mim. O que vale então torna-se algo do qual não posso abrir mão. Se o que vale é uma coisa que deixo de lado serei como uma folha de papel lançada ao vento. Irei para o lado que ele soprar. Mas ter atitudes é também saber conviver e isto não é nada fácil. Conviver com o outro é complexo e requer muita atenção, cuidado e respeito. Atenção para perceber e sentir o semelhante nas suas belezas e também em suas limitações. Saber que cada um tem como eu as suas forças e também fraquezas. Cuidado em tratar essa pessoa como diferente. Um ser único dono de uma maneira de pensar, sentir e agir no mundo bem distinta da minha. Por isto é necessário que eu o respeite, da mesma maneira que também tenho que exigir que eu seja respeitado. Posto isto lhe faço uma última pergunta: Como tenho convivido com as pessoas no trabalho? Não será por causa da convivência difícil que não consigo manter o trabalho conquistado?
O meu abraço fraterno na esperança de que o que tentei lhe passar possa ser útil na caminhada. Caso sinta que, pela repetição das histórias, necessita de ajuda profissional, não hesite em buscar apoio de um psicólogo.

Fernando.

www.genteplena.com.br
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 18/07/2011
Alterado em 18/07/2011


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras