Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Senhor, que eu veja! – 30º Domingo do Tempo Comum – Ano B 

Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. Então Jesus lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho. Mc 10,46-52

No meio da praça um jovem "vê" Jesus passando em seu coração e, no mais íntimo de si mesmo, grita: "Jesus, tem piedade de mim". Larga ao chão, diante do pai e da sociedade, suas vestimentas. Francisco de Assis se liberta das roupas, empecilhos simbólicos que lhe dificultam a visão e assim possa se aproximar, puro e inocente, daquele diante do qual os trajes são mais que supérfluos.

Apoiados pelo olhar atento de Marcos, continuamos a observar as andanças de Jesus. Agora o veremos a sair de Jericó. Não está sozinho. Ao contrário, bastante gente, uma multidão, o segue. No caminho encontrará um pobre que de tão desprezado, nem pode gritar pelo seu Senhor. Trata-se do filho de Timeu. Bartimeu é o seu nome e será curado da cegueira.

Reparem como este texto é um gostoso convite à contemplação. A cena parece nos pedir para ser vista pelos olhos da imaginação. Ponhamo-nos então na estrada com Jesus. Sejamos mais um em meio àquele povo. Para ver tudo em detalhes não nos coloquemos no rabo da procissão, mas à sua cabeça. Lá, bem próximos daquele a quem buscamos seguir.

O fato de não haver indicação de hora deixa-nos com liberdade para entender que era uma manhã. Acordamos cedo e saímos. Fora de casa a surpresa de topar com muitos outros, que já se encontravam de prontidão para o seguimento.

Pouco havíamos caminhado quando uma voz é ouvida. Não saía dali do meio da gente. É alguém de fora e grita forte. Gera incômodo. Afinal Jesus nos explica algo bem interessante e a gritaria atrapalha. "Que pobre mais chato!" Faz com que se tenha que ficar ainda mais atentos à palavra do Senhor.

Uns posicionados na lateral da procissão o repreendem. Ordenam que se cale, afinal estamos aprendendo coisas importantes do Mestre, mas ele não escuta. O alarido torna-se ainda maior. Penso: “Que inconveniência. Que pessoa mais impertinente!” Mas no meio daquele povo todo há alguém que não reclama. Ao contrário, para surpresa geral, Ele solicita que o chamemos.

O mendigo então se assusta. Sente medo e é então que reparo ser ele também cego. Alguém atrás da gente nos diz tratar-se do filho de um tal Timeu, morador daquela beira de estrada. Acostumado a gritar toda vez que percebia haver gente passando e a não ser ouvido, surpreende-se ao se saber chamado. Ainda mais por aquele de quem já tinha ouvido falar tantas maravilhas.

Será um encontro primordial em sua vida e quando se vive algo assim, é natural que se sinta certo receio. Os que o conheciam e o chamaram logo repararam seu medo. “Tome coragem e vá logo! não percebe que Ele o está chamando?”.

Quem tem coragem não age só através da razão, mas muito mais a partir daquilo que sente, da emoção. Estava frio e sentado no banquinho a pedir esmolas, encarquilhado. Tentava assim se proteger do vento gelado dos caminhos. O cego dá um pulo, o tamborete cai longe.

Há gente que ri do salto dele, ao mesmo tempo em que se livra do manto. Sussurrando uma mulher ao meu lado diz sentir dó. Fala do frio ainda maior que agora ele está sentindo. Não se usava muita roupa além do manto (ainda mais um pobretão como o cego) e as dificuldades em se lidar com o corpo - a nudez - geram desconforto. Mas ele não sente a friagem. Afinal estava se aproximando, cheio de fé, daquele que aquece o coração e o corpo da gente.

A pergunta de Jesus é direta, assertiva, sem duvida que óbvia: “O que queres que eu te faça?” O cego, vencendo o medo, também não faz rodeios: “Mestre, que eu veja!”. E aí acontece o milagre. Surpreende-nos, sabedores de todo o Poder do Messias, que não saia dele a cura, mas sim da fé daquele homem. Como é significativo nos darmos conta disto.

Da mesma maneira que o cego salta, é necessário aqui também dar um pulo na compreensão do texto. O convite do Senhor continua acontecendo. Ele me chama para mais perto e, como Bartimeu o homem da beira do caminho, que lhe peça para ter piedade e curar-me da cegueira.

Mundo afora fomos nos vestindo de “muitas roupas”. Bem mais que nos proteger do frio, elas como que nos “defendem”. Aí acabam impedindo que sintamos o toque de Jesus. Ao atender o chamado é preciso se livrar dessas “vestes”. Há “mantos” que devem ser largados ao chão para que se possa, enfim livres, sentir no coração o calor da presença do Salvador.

De qual cegueira pedirei a Jesus que me cure? Há várias que acometem os seres humanos. Algumas bem maiores do que a física. A de não ver o próximo e necessitado à beira das estradas, os olhos cerrados que fazem dormir na preguiça, a cegueira de não perceber o caminho, a cegueira que impede de ver o Deus verdadeiro e que faz com que se perca no emaranhado de tantos outros deuses...

Pistas para reflexão:

- Quais mantos preciso lançar ao chão?

- Qual a minha principal cegueira?

- Do que Jesus precisa me curar? 


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 22/10/2012
Alterado em 19/10/2021


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