Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Nosso Deus é o Deus da vida – Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra - Ano C – 32º Domingo do Tempo Comum - 10-11-2013

Aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a ressurreição, e lhe perguntaram: “Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência para o seu irmão. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. Também o segundo e o terceiro se casaram com a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com ela”. Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. Lc 20, 27-38

Num site no qual ajudo, através da oferta de orientação espiritual pela internet, uma mãe me enviou, angustiada, um e-mail, contando da sua aflição por conta de umas perguntas da sua filhinha de 5 anos, as quais ela se sentia incapaz de responder: “Mãe, lá no céu tem macarrão?” Pois diga para a sua filha que claro que sim. No céu há muito macarrão. Um macarrão ainda bem mais gostoso do que esse que ela come e que acha tão bom. Diga-lhe que, além do macarrão, o céu tem boneca, tem pai e mãe, tem avô e avó, tem irmãos e todos os amigos e demais pessoas queridas que ela quiser que estejam junto dela. Foi o que lhe respondi.

Os saduceus, Lucas já nos informa, não acreditavam na ressurreição. Com o povo judeu acontece uma evolução interessante no entendimento do sentido da vida para além da morte. Podemos ver isto na Bíblia. No começo a crença deles na vida eterna se dava imaginando que as pessoas continuavam a viver nos seus descendentes apenas.

Por causa disto os grandes patriarcas, como Matusalém, parecem ter tido essas vidas tão longas. Simbolicamente o autor bíblico quis nos dizer que eles se mantiveram vivos, mantendo-se presentes nas gerações que os sucederam.

Os saduceus, muito conservadores, não tinham evoluído nada nessa questão. Eles continuavam crendo que a vida eterna se dava a partir da existência dos filhos e netos. Daí fica mais simples compreender a questão capciosa que trouxeram para Jesus. Afinal sete irmãos se casaram com a mesma mulher e nenhum filho foi gerado dessas relações. Ou seja, como poderá ressuscitar se não gerou descendência, e de quem a tal mulher dos sete maridos defuntos será esposa no céu?

Como não haveria descendentes, conforme o seu modo de ver as coisas, o mais certo seria constatar que tudo estava acabado com as suas mortes. Ou então e aí eles queriam testar Jesus, os sete não poderiam estar juntos com a mesma esposa na eternidade. Eis que isto iria seria uma tremenda afronta à Lei.

Também, como os conservadores saduceus, costumamos entender de maneira equivocada a ressurreição. É comum que nas nossas reflexões ao tratar dela, somente consideremos os parâmetros tão humanos de tempo e de espaço aos quais estamos presos.

É obvio que a ressurreição jamais poderá ser explicada a partir dessas nossas contingências. Dito de outra forma poderemos ponderar que a questão não é nem um pouco pertinente. Não cabe manter,, para tratar da ressurreição as mesmas realidades vividas nesse mundo no qual estamos inseridos.

Desse nosso mundo a única coisa que permanecerá para todo o sempre será o Amor. Será através dele que nos manteremos vivos eternidade afora. Talvez facilite entender um pouco mais assunto tão complexo, imaginarmos a ressurreição como uma imensa teia. Nela cada um de nós constitui-se como um pequenino nó de onde partem muitos fios, a nos ligar a cada uma das pessoas a quem amamos.

Só que esta teia não está num plano (dimensão do espaço) e muito menos num determinado momento (dimensão do tempo). Ela vai para o amanhã e o ontem. Ela está no aqui e no ali de todos os lugares por onde tenhamos estado, ou imaginado. A teia rompe com essas dimensões. A ressurreição nos faz totalmente livres de tudo que nos prende na terra.

Quando imaginarmos então o céu, será bom que o vejamos e sintamos com todas aquelas pessoas com as quais queremos conviver por lá. Na categoria das coisas, poderemos também ver que na eternidade teremos tudo aquilo que aqui a gente mais gosta.

Um antigo professor de teologia, fascinado pelos astros, nos dizia uma vez que quando morrer, se o quisermos ver imediatamente após a sua páscoa, bastará que olhemos para Saturno. Eis que a primeira coisa que pedirá ao Pai quando se encontrar com Ele, será para que o leve até aqueles anéis fantásticos, para que possa curti-los. Por isto também o céu daquela menina terá, é claro, o macarrão mais apetitoso do mundo.

Mas a mensagem mais importante dessa passagem de Lucas está contida no seu final. Nosso Deus não é de forma nenhuma o Deus dos mortos, das coisas estáticas e que até podem estar cheirando mal. Ele é sempre o Deus da vida. É criativo e está sempre aberto para o futuro. Por isto, quem está ligado a Ele jamais poderá morrer.

Perguntas para refletir durante a semana:

- Eu creio de verdade na ressurreição conforme afirmo em toda missa no Credo?

- O que não poderá faltar, definitivamente, no meu céu?

- O meu Deus é o Deus da vida, ou é o Deus dos mortos?


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 04/11/2013


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