Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos

Jesus nos apresenta o "retrato do Pai" - Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Mesa da Palavra – Ano A – IV do Tempo Comum

Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los: 'Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Mt 5,1-12a


Um certo homem, muito rico, soube que num país distante vivia alguém bastante interessante. Uma pessoa que além de reconhecida pela vasta sabedoria era também feliz. Como buscava a felicidade, resolveu pegar o seu jatinho e ir até a cidade onde morava tal ser humano para aprender com ele. Ao chegar à casa do guru tomou um grande susto. Imaginara um castelo e aquele era um casebre. Quis sentar e na casa não havia cadeiras e muito menos outros móveis. O sábio, sentado no chão, olha para o seu visitante, lhe dá as boas vindas e pergunta: Cadê suas bagagens? O visitante então lhe responde estar com seu avião no aeroporto próximo e que por estar assim, de passagem, não trouxera nenhuma bolsa. Aproveita então o questionamento que lhe tinha sido feito e pergunta ao sábio: na sua casa não vejo nada, onde ficam as suas coisas? Ele lhe responde dizendo não ter coisas, pois que também estava ali de passagem...

Todos nós queremos saber o que pensa e sente Deus. A questão é que temos consciência de que Ele é imenso. É muito mais ainda, Deus é infinito e nunca seremos capazes, como seres limitados e tão pequenos, de percebê-lo e senti-lo totalmente. Por isto Jesus um dia subiu a um monte, olhou para as multidões e contou para elas como era o coração do Pai.

Mateus sabe que irá falar de coisas muito importantes. Afinal ele nos contará do que sente o Espírito amoroso de Deus. Por isto, tais palavras não podem ser ditas em qualquer ambiente. Fossem proferidas hoje quem sabe ele diria que “Jesus subiu para falar na ONU”. Que Ele, diante daquela multidão dos representantes de todos os países da Terra, queria nos apresentar quem é realmente o seu (e nosso) Pai.

No Evangelho de hoje Jesus nos tira, como que, um retrato de Deus e ao nos revelar esta imagem podem acontecer grandes surpresas. É preciso ter olhos para enxergá-las. Irei falar-lhes só de uma pequena parte delas. Que cada um na sua leitura e contemplação dessa cena, vá sentindo o que o Espírito lhe traz de novidade sobre esse texto tão rico e que devíamos, quem sabe, tê-lo de cor (que etimologicamente significa no coração).

A primeira grande surpresa é a descoberta de que Deus pensa e sente diferente de nós. As bem aventuranças, que é o mesmo que dizer, as felicidades, são bem distintas daquelas que iríamos, caso nos fosse perguntado, responder. As bem aventuranças do Reino de Deus seguem na contramão do que nos apregoa o marketing e os meios de comunicação. Elas vão contra tudo aquilo que desde crianças nos é ensinado por aí.

Deus é simples. Esta é a segunda surpresa que quero lhes trazer do texto. Nós é que costumamos sentir a necessidade de pendurar nele sofisticações e mais um tanto de detalhes e modos de ser que, absolutamente, não fazem parte da sua natureza. Mais que simples Deus está com o simples. Ele o busca e se sente bem com a simplicidade. 

Nessa sua simplicidade imensa descobrimos que Deus é pobre. Imensamente pobre. Ele não tem nada, simplesmente porque Ele é tudo. A riqueza de Deus é a paz, a misericórdia, a mansidão, a humildade, o desapego, a alegria... Afinal Ele não é nenhum grande industrial, financista ou dono de terras. Nosso Deus não precisa ter coisas. Ele é e ponto!

Os bens estão para nos servir e não para que nos sintamos como donos deles. Afinal, lembremo-nos sempre de que somos passageiros e que eles podem ser perdidos de uma hora para outra. É preciso termos sempre na consicência de que, também, como aquele sábio, estamos por aqui de passagem. Nenhum bem é capaz de preencher plenamente o coração de alguém. A simplicidade está no Ser de Deus. É a sua essência. Enfim, no ser de Deus está o ter a felicidade.

Uma última surpresa que quero lhes trazer dessa receita de felicidade que Jesus nos traz, é que Ele foge daquilo que é óbvio e que já é sabido por todos. Jesus não vem nos contar, por exemplo, que “bem aventurada” é aquela mãe que acaba de ter o seu filhinho. Ela é feliz e disto todos já somos sabedores. Ele não irá nos dizer também que bem aventurado é aquele pai desempregado que acaba de encontrar, enfim, o tão sonhado emprego. Que ele está cheio de felicidade, Isto é coisa mais que evidente.

Jesus quer nos falar de coisas maiores na vida pessoal e comunitária. De aspectos que são capazes de nos trazer a verdadeira felicidade, porque possuem dentro de si um efeito dominó de transformação. Carregam em seu interior o poder de modificar a cultura e a sociedade.

Imaginem se vivêssemos numa cidade onde todos fossem pacíficos. Um lugar no qual ninguém usasse da violência? Seria uma maravilha, não é mesmo? Imaginemos agora se todos fôssemos mais desapegados das coisas materiais? Seriamos, com toda certeza, mais felizes.

Muitas vezes as bem aventuranças foram usadas como forma de justificar e manter estruturas injustas, como se fossem de Deus e sabemos que são, ao contrário, demoníacas. Algo como um “manual de resignação” já que haverá recompensa no céu. Nada mais errado e triste.

Deus não quer a pobreza. Aliás, prestemos atenção: Ele não fala que bem aventurada é a pobreza, mas sim que bem aventurado é o pobre, o que é muito diferente. A pobreza é fruto da injustiça humana e é por isso que o pobre passa a ser o protegido de Deus.

O que Deus nos traz é algo muito poderoso. Sem dúvidas que revolucionário. Apresenta-nos um modo de vida que, quando implantado em nosso meio, trará a felicidade para todos. E precisamos crer que um dia a vida será assim aqui na Terra. Afinal é disso que trata o Reino de Deus. Esta é a nossa Fé.


Para reflexão:

- Por que preciso me sentir bem aventurado?

- Em que consiste a riqueza de Deus para mim?

- Sinto as bem aventuranças como um “manual de vida” a ser buscado?


1ª Leitura - Sf 2,3; 3,12-13
Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos; praticai a justiça, procurai a humildade; talvez achareis um refúgio no dia da cólera do Senhor. E deixarei entre vós um punhado de homens humildes e pobres. E no nome do Senhor porá sua esperança o resto de Israel. Eles não cometerão iniqüidades nem falarão mentiras; não se encontrará em sua boca uma língua enganadora; serão apascentados e repousarão, e ninguém os molestará

2ª Leitura - 1Cor_1, 26-31
Considerai vós mesmos, irmãos, como fostes chamados por Deus. Pois entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos nobres. Na verdade, Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir os sábios; Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante, para que ninguém possa gloriar-se diante dele. É graças a ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós, da parte de Deus: sabedoria, justiça, santificação e libertação, para que, como está escrito, 'quem se gloria, glorie-se no Senhor'.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 29/01/2014
Alterado em 23/01/2023


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