Risco
Rabisco no branco
nu do papel e risco:
eu vou, estou, eu sou.
Brinco cisco e capricho.
Construo na tênue
teia das tecedeiras
que bordam sonhos.
Palavras com rabo
quem sabe escondido
e outras, sem asco,
que exibem como bicho
os esses das caudas.
Na trança da dança
Há roda de Rosa
Tem dança de dansa
elas se atraem, repelem-se
beijamtocamseesfregam.
Sentado aqui no canto,
canso do tanto que assisto.
Exijo, suor nas palmas, o bis
pois, repito, eis que existo.
Levanto a caneta. Hesito.
Redijo de novo, nem pisco.
No rio onde sempre pesco
a palavra mais melodia
que quando eu a isco,
salta igual belo peixe
na rede qual corisco,
trazendo medo, sonhos,
transgressões palavrais
vitais, mortais, abissais.
No coração trago a estrela,
sou ser marcado de Deus.
Em mim Ele guardou o Amor.
Palavra pura, sem asterisco
e vivo nele, no seu aprisco.
Há risco ao correr do risco,
arrisco o medo e, arisco,
é a sina do que assina,
tomo o rascunho e rabisco.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 14/05/2010