Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos

Trem Mineiro
Trem mineiro


No balanço do trem de ferro a mãe,
grávida, trazia em seu ventre, vinda
do sertão, o menino que não deveria
nascer no interior, mas sim na capital.
Lugar de haver maior recurso, dizia
o avô, justificando a viagem difícil
para aquele momento tão delicado .
Meio do caminho e as dores do parto
não têm idéia de que precisam aguardar
o desembarque lá na última estação.
Só faz crescer, ainda mais, a aflição  
o fato de haver aquele fraco trem
cargueiro parado, exausto, na serra
à frente, incompetente para dobrá-la.
O recurso da locomotiva de apoio
custa a chegar e o menino mineiro
quase vem ao mundo ferroviário.
Daí que fica muito fácil justificar:
ter vindo para trabalhar na Vale
só pode ter sido uma predestinação.
E depois de tantas e tantas viagens
é chegada a minha hora de aportar
e ir embora. Vou feliz e com um orgulho
daquele tamanhão do Pico do Cauê
(eu sou do tempo dele), ou dessas
composições cada vez ainda maiores
que no café com pão, manteiga não,
apitam céleres pelas nossas linhas afora.
Aqui dentro da janela da minha memória
desfilam, com graça, tantas paisagens,
vales, montanhas, rios, mares e cidades,
admiro-as, belas, mas são é a gente
que fez a minha história que vale.
Vejo muitas pessoas, quantos e tantos.
Multidão. Muitos já desembarcaram,
outros vêm, chegam cheios de ânimo,
a render-nos em seus uniformes novos.
A Companhia adolesce de novo e cresce.
De cada um de vocês, tenham a certeza,
guardo pelo menos uma lembrança boa.
Aqueles, bem poucos, momentos tristes
já foram esquecidos no lastro da linha.  
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 17/05/2010


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