Tão perto e tão longe de mim
Não há quem ouça meu grito,
quase desisto, voz já é rouca
e aqui preso nesta masmorra
o que me resta é orar, contrito.
Há tantas dúvidas se há lá fora,
alguma vida, se há canto e luz.
Olho pra parede que era algoz,
e agora é amiga, companheira.
Impede que a que me espreita,
a loucura dos desesperançados,
chegue de uma vez e me invada
provocando desespero e pavor.
Vá longe, afasta-te insanidade.
Ânsias daquela boa demência,
de imaginar sua leve presença,
ali, recostada no outro lado,
estendendo para mim as mãos
e nelas eu acolho a liberdade.
Nesses vastos e doces delírios
sou seu cúmplice parede amiga.
Traga notícias dela, a amada,
conta-me das suas caminhadas.
Ela que passa linda, perfumada,
tão perto e tão longe de mim.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 01/06/2010