Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Uma amiga que se foi

ei, Márcia,
Cá estou eu sabendo agora que você se foi. Que deixou este corpo que já não lhe cabia e que ultimamente só estava lhe trazendo problemas.
As doenças e os seus absurdos, não é amiga? A gente conversou sobre isto e pensando na sua morte, Márcia, me vem o quanto isto tudo é de verdade absurdo. O quanto sinto falta total de sentido nisso que aconteceu você!
Uma pessoa ainda com tanto a realizar, a amar, a construir vida afora.
E em meio a esse absurdo fico buscando um sentido maior, oculto, eis que não concordo que o absurdo da morte possa prevalecer sobre a vida maior.
E te conto, amiga, que pouco a pouco vem me chegando esse sentido. O sentido, para mim bem significativo, de você ter ido para o colo do Pai quando comemoramos a Páscoa. Essa passagem que nada mais é do que a confirmação de que o absurdo da morte não tem a última palavra e que é a vida que vence. E aí constato uma obviedade. Que você, amiga, é uma grande vencedora. No túmulo onde eles a colocaram há agora somente uma casca. Afinal, o "essencial é invisível aos olhos", nos ensinava o pequeno príncipe. Vencedora da morte você vive sem dores, sem camas e tubos, sem problemas, sem esses três "in" tão chatos, os inchaços, as injeções e os incômodos. E daí do alto nos olha a todos que ainda vivem aqui na terra.
Vem-me então as lembranças de você. Desde a primeira entrevista no Rio, lembra-se? A gente buscava estagiários para o RH e eu havia convencido o Luiz, nosso gerente, a testarmos estagiários de pedagogia. E você veio, e você ficou, e você se tornou, mais do que colega, uma amiga.
Seu sorriso largo, sempre sem medidas, constante e animador dos dias mais difíceis. Sua vivacidade e alegria que a nós todos sempre encantava. Seu rosto bonito de mulher com ânsias de muito viver e realizar.
Já doente, um dia, você me contava que a doença a estava ensinando muitas coisas. Essa sua constatação me fez (e faz) refletir muito. Em meio a tamanha dor e luta você conseguia crescer, ou seja, ver esses sentidos maiores e ocultos que custamos a perceber nos absurdos.
Vem-me agora a sua chegada no céu Abrindo de uma vez, "toda chegada" e sem medo, a porta porque sabe que está em casa. sorriso grandao vai na frente. Sorriso abre-alas de quem nunca chega de mansinho, mas que acostumou-se com o sorriso a tomar conta dos novos ambientes. Chegada que faz com que os anjos se indaguem quem é essa mulher que vem entrando com tanta festa.
E se por acaso nos perguntarem, daremos a sua ficha completa, amiga e eles compreenderão...
A tristeza é grande, mas tenho a certeza de que você está numa boa no carinho e aconchego do Pai Nosso. É esta garantia que me é consoladora nessa hora, amiga.
Um grande abraço na certeza de que a gente se vê um dia,
Fernando.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 06/06/2010
Alterado em 01/11/2010


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