Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Palavra - XV domingo do tempo comum - 11-07-2010 – Quem é o meu próximo?

Temos hoje um dos textos mais bonitos, conhecidos e claros dos Evangelhos. Jesus é questionado por um mestre da lei, um homem que tinha estudado profundamente a Lei de Moisés e que, portanto já sabia a resposta da sua questão. Mas este não era o ponto. O que ele pretendia era colocá-lo “em dificuldades”. Jesus então lhe responde com o que está no Deuteronômio (6,4-5) e no Levítico (19,18).
Podemos imaginar o quanto esta resposta o deixa em maus lençóis com seus companheiros escribas e é aí que ele então, para se safar, lhe questiona uma segunda vez. A pergunta que agora faz é ”E quem é o meu próximo”? Resposta também fácil na teoria, para ele e para nós. O problema é a prática dela. Como levamos isto, que já é tão sabido, para a vida?
Contextualizando a cena, é importante nos lembrarmos que, conforme vimos três domingos atrás, Jesus iniciara a sua subida para Jerusalém. Reparemos que na resposta à segunda pergunta do mestre da lei, Jesus vai lhe contar que “um certo homem” descia de Jerusalém. Os verbos subir e descer são importantes para entendermos a dinâmica da cena. O “certo homem” não subia, mas descia de Jerusalém. Da cidade do alto, ele seguia para Jericó, há mais de mil metros abaixo.
Mas não era somente este homem que descia. Um sacerdote, “por acaso”, também saía de Jerusalém e em seguida vem descendo um levita. Os dois, tendo partido do Templo, onde serviram o Senhor, louvando-o e bendizendo-o, encontram no caminho um homem precisando de ajuda. O problema é que são incapazes de reconhecerem nele aquele mesmo Senhor que, pouco antes, lhes acolhera no Templo da Cidade Sagrada.
Já o samaritano, não fica claro na narrativa de Jesus se subia ou descia, somente sabemos que, possivelmente a negócios, viajava. Como era considerado um herege não seria bem visto no Templo, o que nos faz imaginar que por lá, mesmo caso também estivesse descendo de Jerusalém, ele não estivera e que para lá também não estaria se dirigindo. Gosto de imaginar, contemplando a cena, que ele seguia o caminho contrário do levita e do sacerdote. Que ele, como Jesus, também subia e os que sobem estão procurando, ao contrário dos dois que desciam e já se consideravam saciados, purificados, ou “encontrados” por Deus.
Este homem, discriminado pelos judeus, é aquele que pode até não conhecer os Mandamentos e por isto não saberia o que é necessário para ganhar a vida eterna. Mas isto não importa. Implica que ele vê o homem ferido e tem compaixão dele. Na sua compaixão, algo profundamente humano, o escriba vai reconhecer no samaritano, notemos o versículo 37, um atributo divino: a misericórdia.
Na primeira leitura tirada do livro do Deuteronômio (30,10-14) está colocada a resposta pedida pelo doutor da lei para Jesus: “Observa todos os seus mandamentos e preceitos e se converta”. Ou seja, saia de si e vá ao encontro do outro, pois será no caminho do outro que você me encontrará. Paulo, na segunda leitura, escreve aos Colossenses que este “mandamento não é difícil demais nem está fora do teu alcance”.
O texto, tirado do início da carta (1,15-20), nos traz a imagem bonita do Ressuscitado. O Cristo é o mesmo Jesus que nos manda fazer como fez o samaritano para que possamos viver. Ele é a “imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação”. O que “existe antes de todas as coisas e todas têm nele a sua consistência”. A “cabeça da Igreja”, o “princípio” e “em tudo Ele tem a primazia”.
Preparando-nos para a Eucaristia dominical, convido-os para que reflitamos sobre estes três pontos:
- Como está o Cristo em minha vida: Ele tem a primazia? Ou, dizendo de outra maneira, Ele é realmente o meu princípio e fundamento?
- Quando “desço” semanalmente do templo sou capaz de reconhecer aqueles que de mim necessitam? Ou sou como aqueles “homens de Deus” do Evangelho, o sacerdote e o levita, que foram incapazes de encontrar o Senhor naquele que sofre?
- No Evangelho somente um personagem é nomeado: Jesus. Sempre que não houver os nomes dos personagens bíblicos (todos eles nos habitam), temos um convite para nos colocarmos na cena, identificando-nos com algum deles. Com qual mais tenho me parecido no dia a dia?

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 05/07/2010
Alterado em 15/10/2010


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