Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Mesa da Palavra para o domingo 01-08-2010 - XVIII do Tempo Comum - A vaidade de juntar tesouros na terra

Somos parte de uma sociedade movida pelo dinheiro e bens que eles possam adquirir. Vivemos incentivados a todo o momento a acumularmos. Vamos juntando tantas coisas, que nem sabemos mais o que iremos fazer com elas e isto se dá ao mesmo tempo em que muitos não têm nada, o que só faz aumentar no nosso meio o pecado da injustiça.
Jesus, no Evangelho (Lc 12,13-21), aproveita o pedido de alguém da multidão para tratar de negócios de herança com um seu irmão, para nos falar do cuidado que devemos tomar com a ganância. Esta nada mais é do que o se deixar escravizar pelo ajuntamento de dinheiro e de coisas. Os bens do mundo são passageiros e é loucura considerá-los como deus. Fazer isto é idolatria, além do que eles nunca irão conseguir preencher o coração de ninguém.
Na resposta de Jesus está implícito um recado muito importante a respeito da liberdade. Ao dizer para o homem que não é Ele quem deve julgar ou dividir as coisas da sua família, Jesus está também nos alertando para que não permaneçamos paralisados, esperando que venham do alto as respostas que devemos dar às nossas vidas. Somos nós que avaliaremos as coisas e a partir do que discernirmos, tomaremos a decisão do que deverá ser feito com elas.
Para decidir com autonomia é necessário que nos façamos livres. O aviso de Jesus não se refere simplesmente ao fato de se possuir ou não riquezas. Mas sim porque elas são tentadoras e o fato de tê-las poderá fazer com que acabemos escravizados por elas. O que acontece quando, como na parábola, não nos colocamos com liberdade diante dos bens ou seja, se os ajuntamos para nós mesmos, somos insensatos, eis que não seremos “ricos” diante de Deus.
Tão efêmera quanto os bens que se acumulam é a vida aqui na terra. Ela é passageira e tudo que aqui se ajuntou de nada terá valia, caso não tenha sido usado para gerar justiça e bem (e não bens) em nossa volta.
Acostumados às manchetes chocantes dos jornais diários, precisamos refletir sobre o acúmulo de riquezas. A manchete de uns dias atrás que nos lembrava o fato de sermos o terceiro país do mundo com a pior distribuição de renda é algo que precisa nos questionar. A notícia, absurda por si mesma, torna-se ainda mais triste ao nos darmos conta de que somos um país que tem uma ampla maioria cristã. É para esta ganância idolátrica e para este acúmulo insensato que Jesus nos alerta enquanto pessoas e sociedade.
A primeira leitura tirada do Eclesiastes (1,2; 2,21-23) vem nos falar, a partir de outra ótica, desse mesmo tema. “Tudo é vaidade” é o que ela nos recorda. Um nome adequado para a vaidade nos dias de hoje poderia ser poder. Vivemos em busca dele procurando-o no dinheiro, no acúmulo excessivo de bens e no conhecimento. Ao adquiri-lo nos esquecemos de que ele só tem sentido na medida em que seja colocado a serviço dos outros.
Tudo é vaidade na medida em que nos fechamos em nós mesmos e passamos a ter o poder como fim e para usufruto de nós mesmos. A partir daí tudo é “tormento e sofrimento”. Já o poder serviço é graça e mesmo que seja gerado em meio às dificuldades, que são inerentes à vida, só nos trará paz e alegria interior. Presos à paixão da vaidade acabamos por viver na presunção de que estamos defendidos dos problemas e seremos felizes.
Pura bobagem. Afinal não somos criados para as coisas da terra. Estas são efêmeras e passageiras e ao nos prender acabam por se transformar nos nossos enganos. Ressuscitados com Cristo, nos lembra Paulo ( Cl 3,1-5.9-11), como seus seguidores devemos deixar o fechamento da vaidade para nos mirarmos na abertura para as coisas do alto. Serão estas que nos gerarão a vida plena.

1ª Leitura - Eclo 1,2; 2,21-23
‘Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.' Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça. De fato, que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol? Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração. Também isso é vaidade.

2ª Leitura - Cl 3,1-5.9-11
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes,
e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória. Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria. Não mintais uns aos outros. Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador, em ordem ao conhecimento. Aí não se faz distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, inculto, selvagem, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos.

Evangelho - Lc 12,13-21
Naquele tempo: Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: 'Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.' Jesus respondeu: 'Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?'
E disse-lhes: 'Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens.' 16E contou-lhes uma parábola: 'A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: 'O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita'. Então resolveu: 'Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!' Mas Deus lhe disse: 'Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?' Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus.'


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 27/07/2010
Alterado em 15/10/2010


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