Bodas de Diamante de Antônio e Maria, nossa herança
Que característica melhor definiria a nossa família? Para os padrões de hoje o tamanho dela, somos nove filhos, chama muito a atenção, mas quando fomos gerados, entre 40 e 60 anos atrás, podíamos passar mais despercebidos, porque havia várias famílias semelhantes à nossa.
Nunca poderíamos também ser reconhecidos pelos bens possuídos em casa, eis que mesmo nos sentindo entre os mais remediados dentre os amigos da nossa infância, isto se devia porque morávamos num bairro de grande simplicidade; nossos pais e Cristina ainda vivem lá. Sem dúvida que não podemos nos considerar também uma família composta por membros dotados com capacidades intelectuais mais altas e diferenciadas.
Definitivo que esses três não são atributos que nos façam reconhecidos. Mas, se não éramos especiais pelo tamanho da família, pelo dinheiro e nem pela inteligência, há algo que podemos considerar que carregamos como uma marca comum que nos foi passada, como bênção, por Antônio e Maria.
Este sinal que deles recebemos e que precisamos guardar com muito carinho e cuidado, tem o nome de Fé. Esta é a marca especial que herdamos dos nossos pais. Nenhum de nós tem dúvida de que essa marca vale muito mais do que qualquer outra riqueza, que eles pudessem deixar para nós, quando se forem para gozar daquele em quem tanto acreditam e em quem nos ensinaram também a crer.
Na unidade da confiança num Deus que é Pai e que é sempre bom, vivemos uma diversidade bonita de Fé. Compomos um espectro que vai desde a fé de Ricardo, que por amor de Deus cuida, com a sua família, de meninas pobres em Recife, até Cristina a que tem a fé mais profunda e pura dentre nós todos. Deus é assim. Ele não se repete e nos faz todos presentes na Fé que recebemos dos nossos pais e que a vivemos, cada um à sua maneira, dentro da liberdade que nos dá.
A Fé que recebemos de Antônio e Maria está bem longe de ser teórica. É uma crença vivida e provada nas tantas dificuldades enfrentadas e superadas nesses sessenta anos de vida juntos. Conto para vocês que foi algo muito característico da Fé deles o aprendizado que tivemos da reza do Terço. Esse também foi totalmente vivencial, eis que a instrução deles não foi inicialmente a de passar-nos o terço clássico com cinqüenta Ave Marias em cinco mistérios. A pedagogia deles para conosco foi diferente. Com certeza que bem mais bonita. Começamos com terços menores que iam crescendo ou diminuindo na medida da chegada do nosso sono.
Explico-me. É que as aulas e práticas de terço que tivemos se davam com nós todos amontoados na cama deles. E esta oração acontecia, dou-me conta tantos anos depois, como uma linda e amorosa cantiga de ninar com a qual nos presenteavam. Canção esta que fazia que, por mais que tentássemos seguir adiante, que um a um, fôssemos caindo no sono. Raro era o dia no qual um de nós chegasse até a “Salve Rainha”. Terminado o terço havia então, já que aprendíamos o terço dormindo, o trabalho deles dois, que agora de uma forma ou de outra, precisamos levar, nos carregando para as nossas camas.
Na festa dos sessenta anos de casados dos dois queremos agradecer a Deus por esta marca de Fé que nos legaram e que a gente possa cuidar dela com o mesmo carinho com que cuidaram de nós e assim, os filhos dos seus filhos possam ter também a mesma marca que Papai e Mamãe nos presentearam.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 27/07/2010
Alterado em 27/07/2010