Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Mesa da Palavra para o domingo 22-08-2010 - Ano C XXI do Tempo Comum - Empenhar-se para se viver na dimensão do Reino de Deus

O Evangelho dste domingo nos pede uma leitura mais profunda. Lê-lo superficialmente poderá provocar enganos, induzindo-nos a achar que Deus esteja condenando a maioria ou um grande número de pessoas. Por causa de leituras simplistas dele muitos se acharam condenados. Pregações que, graças a Deus, já vão se colocando no passado, mais preocupadas em atemorizar do que na Evangelização, também assustaram muitos cristãos.
Na subida para Jerusalém alguém questiona a Jesus sobre o número dos que são salvos e Ele lhe responde com outra coisa. Jesus não diz que são poucos ou muitos os salvos, mas que é preciso esforço para se viver na perspectiva do Reino.
Achar que Jesus não quer a salvação de todos é contradizer toda a sua vida e pregação. do Reino. Ele é capaz, como bom pastor, de deixar todo o rebanho “dentro da Igreja” para ir atrás daquele que, perdido, ficou do lado de fora. E o mais bonito ainda disto é que ao encontrá-lo há festa.
Jesus não quer dizer que é a estrada da salvação que é estreita, mas que a vida na perspectiva do Reino é que é difícil. Olhando a realidade em volta, daquele e do nosso tempo, fica fácil entendê-lo. Não é nada simples ser gente em meio a um mundo que nos convida a abrirmos mão dos valores do Evangelho. É difícil não ceder e ficar sem pecar quando tudo e praticamente todos estão convidando para que sejamos consumistas, para que só pensemos em nós, para que busquemos o prazer a todo custo, não caminhemos na direção do outro e nos fechemos no nosso egoísmo...
É para isto que Jesus quer nos alertar. Para que não nos deixemos levar pelo mundo, mas para que busquemos nos esforçar para vivermos no Amor de Deus. E viver nesse Amor é se colocar em oposição a tudo isto que afasta do seguimento. Caso sigamos a corrente não estaremos construindo o mundo, mas sendo “construídos” por ele. E aí é o mais simples e fácil, porque é “só deixar a vida me levar”, como canta o samba. O difícil é que a vida seja por mim levada. Esta é a porta estreita.
Este é um Evangelho de advertência. Uma mãe ao encontrar a sua criança brincando com um objeto perigoso, no afã de protegê-lo irá dizer para que deixe aquilo, porque irá se machucar. Não necessariamente, mesmo havendo perigo no brinquedo, não se pode ter certeza de que seu filho iria se ferir. Mas isto não vem ao caso naquela hora. Importa admoestá-lo. Cuidado. Pare com isto, você vai se machucar. Este é o discurso de Jesus para nós. Cuidado, vocês não percebem que viver desse jeito (longe dos valores do Reino) não traz irá lhe trazer a felicidade? É melhor se esforçar (a porta estreita) para viver uma vida mais saudável, mais aberta, mais acolhedora do outro, mais verdadeira e humana enfim.
Caso não viva assim não poderei mesmo ser reconhecido. Como poderei ser visto se permaneço fechado em mim mesmo, na minha casa, no gozo da minha vida, preso aos meus bens e sem levar em consideração o meu próximo? Aí, quando morrer (metáfora do dono que fecha a porta), não seremos mesmo reconhecidos, simplesmente porque nos entocamos” e não nos fizemos conhecer.
Ao contrário, aquele que viveu como gente, que se doou, foi solidário, praticou a justiça, acolheu quem precisava dele. Este será reconhecido, pois que estava sempre à vista. E para estes o Senhor irá dizer: “Claro que te conheço, fulano. Lembro daquele dia em que você fez isto, trabalhou naquilo, participou daquilo outro. Seu rosto então me é tão familiar. Como poderia esquecê-lo?
Jesus aproveita para um comunicado muito legal para todos nós e para um alerta para os que se acham já prontos, bons, santos e perfeitos. O recado que nos traz é que muito consolador. A salvação não é para um grupo de privilegiados, mas sim para todos. Para ela acorrerão gentes de todos os lugares. O alerta é para aqueles que já se acham perfeitos, santos, prontos. Salvos enfim. Esses poderão ter uma surpresa, porque pode ser muitos passarão na frente deles, podendo ser que terminem nos últimos lugares. Não somos nós que fazemos a salvação. Ela é dom, é graça total de Deus para nós. Isaias na primeira leitura já trata também deste tema da salvação universal ao nos lembrar que o Senhor irá reunir todos os povos e línguas para verem as suas obras.
Na segunda leitura uma visão complexa de algo inerente ao ser vivente, o sofrimento. O autor da Carta aos Hebreus nos convida a buscarmos um sentido maior para ele. Sofrimento pelo sofrimento será algo que não me servirá para nada, mas caso use o sofrimento para o crescimento, para me tornar mais gente (passar pela porta estreita), estarei construindo em mim um pouco da felicidade.
Para refletirmos nesta semana:
- O meu projeto de vida contempla o próximo, seu crescimento e a minha presença apoiadora e solidária junto dele, ou é um projeto de vida de “porta larga”, intimista que só cuida de mim, do meu e dos meus?
- Por quem sou reconhecido?
- Como considero a salvação?

1ª Leitura - Is 66,18-21
Assim diz o Senhor: Eu que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória. Porei no meio deles um sinal, e enviarei, dentre os que foram salvos, mensageiros para os povos de Tarsis, Fut, Lud, Mosoc, Ros, Tubal e Javã, para as terras distantes, e, para aquelas que ainda não ouviram falar em mim e não viram minha glória.Esses enviados anunciarão às nações minha glória, e reconduzirão, de toda parte, até meu santo monte em Jerusalém, como oferenda ao Senhor, irmãos vossos, a cavalo, em carros e liteiras, montados em mulas e dromedários, - diz o Senhor - e como os filhos de Israel, levarão sua oferenda em vasos purificados para a casa do Senhor. Escolherei dentre eles alguns para serem sacerdotes e levitas, diz o Senhor.

2ª Leitura - Hb 12,5-7.11-13
Irmãos: Já esquecestes as palavras de encorajamento que vos foram dirigidas como a filhos:
'Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não te desanimes quando ele te repreende;
pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho'.É para a vossa educação que sofreis, e é como filhos que Deus vos trata. Pois qual é o filho a quem o pai não corrige? No momento mesmo, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados. Portanto,
'firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés',
para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado.

Evangelho - Lc 13,22-30
Naquele tempo: Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: 'Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?'
Jesus respondeu: 'Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: `Senhor, abre-nos a porta!'
Ele responderá: `Não sei de onde sois.' Então começareis a dizer: Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!' Ele, porém, responderá: `Não sei de onde sois.
Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!' Ali haverá choro e ranger de dentes,
quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora.29Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos.'
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 17/08/2010
Alterado em 24/08/2010


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