Ressurreição, verdade maravilhosa da nossa fé
A verdade maravilhosa da fé cristã é que o nosso Deus se faz homem, vem viver entre nós e como qualquer ser humano Ele também passa pela morte. Mas aí vem a grande novidade: a morte não é o seu fim. Jesus ressuscita dentre os mortos. A morte passa a ser então uma simples passagem para a ressurreição. A partir daí temos a certeza de que todos nós, como Ele, também ressuscitaremos. Deus se faz homem para que nos divinizemos, ou seja, para que também nos tornemos infinitos. Sim, nós nos tornamos eternos a partir do momento em que somos gerados. Somos predestinados pela Trindade criadora ao infinito. Esta é a verdade linda da nossa fé.
Viver para sempre significa que a morte não exerce poder sobre nós. Ela é vencida pela fidelidade do Filho que segue até o fim o seu caminho até ser morto. Morrendo na cruz Jesus nos dá a senha da salvação. Daí que pode vir a pergunta: Deus nos salva, mas nos salva de que, se o pecado continua na Terra? A resposta é que Ele nos salva de nós mesmos. Salva-nos do egoísmo de não vivermos para servir e amar. Salva-nos para que possamos ser transfigurados.
Será a partir do crescimento transformador que passaremos a viver em Deus por todo o sempre. Nesse processo é que há essas duas passagens bem claras e definidas. Duas páscoas, poderíamos dizer. A primeira é a do nascimento. Aquele momento em que entramos no mundo. Hora na qual deixamos a tranqüilidade e a segurança do útero materno e somos jogados na dura realidade do mundo. A segunda é a passagem pela morte. Sem dúvidas de que será através dela que teremos acesso à ressurreição.
Como ela se dará? Não sabemos. Hoje vemos como num espelho, somente quando estivermos face a face com Deus compreenderemos (e viveremos) tudo (conf. 1Cor 13,12). Seremos então seres humanos em plenitude. Isto quer dizer que a vida continua. Ela apenas se transforma, deixa de ter os limites da dor, dificuldades e tristezas, bem como também de tempo e de espaço. Deixa de ter os “mas e os porém” aos quais nos acostumamos para se tornar vida total. É por isto que Jesus nos diz que vem trazer a vida em abundância (Jo 10,10). Somente quem é “a verdade o caminho e a vida” (Jo. 14,6) é que pode dizer e realizar algo assim.
Uma criança perguntava para um padre amigo. "Padre, o que iremos fazer no céu?" Ele lhe respondeu, abraçando-a: "o que você mais gosta de fazer?" "Ah, eu gosto de soltar pipas" (papagaios, arraias, dependendo do lugar no Brasil). "Meu filho, no céu você terá muitas pipas. Mais lindas ainda das que você consegue imaginar, para soltar”. No céu faremos e viveremos tudo o que mais gostamos totalmente, sem receios, sem dúvidas, sem medidas...
A vida é processo contínuo para a eternidade, mas enquanto estivermos vivos não teremos como saber de que jeito ela será. A eternidade é uma realidade, mas como ela acontecerá na prática não sabemos. Este é um mistério para nós ainda vivos. Ninguém é capaz de imaginar o que Deus tem preparado para os seus filhos, nos lembra Paulo (1Cor 2,9). A gente tem o costume de colocar para Deus as dimensões humanas às quais estamos sujeitos. Achamos que Deus também está sujeito ao tempo e ao espaço, por exemplo. Será que para Ele essas dimensões são mesmo relevantes? Com certeza que não. Deus é tão grande, tão imenso, tão infinito e tão bom, que qualquer limite que coloquemos, tais como esses de tempo e espaço, será imediatamente descartado, por não caber na maravilha que Ele é. Nada e nem ninguém pode limitar a Deus.
Ao morrermos temos uma realidade que é a ressurreição e duas possibilidades. A realidade é o céu. Morremos para ressuscitar em Deus. As possibilidades consistem no possível tempo de purificação, ao qual damos o nome de purgatório. Esta possibilidade ocorrerá caso ao morrermos e nos vermos diante da beleza e infinita misericórdia de Deus, nos descobrirmos tão pequenos e pecadores que será preferível um afastamento momentâneo para uma purificação.
É como se fôssemos convidados para uma festa maravilhosa (ainda melhor do que a maior festa que possamos ser capazes de imaginar) e ao chegarmos lá, vermos que estão todos muito bem vestidos, enquanto estamos trajando bermuda surrada, camiseta velha e sandália de dedo. O que fazer então? A melhor saída será pedir para o dono da festa que nos dê um tempo. Precisamos dar uma saída estratégica para nos prepararmos, banharmo-nos e trocarmos de roupa. Somente depois deste tempo é que estaremos preparados para curtirmos tal festa tão magnífica.
O inferno é a outra possibilidade. Se há gente nele não sabemos. Caso haja é bem provável que sejam em menor número do que gostaríamos. O nosso coração costuma ser muito duro para julgar as pessoas. Na hipótese de alguém diga que o inferno tem morador, é sabedor de uma verdade que ninguém na Igreja possui. O inferno é possível porque Deus é Amor e é bom infinitamente. Nesta sua bondade Ele nos dá a liberdade e é por causa dela que temos a possibilidade de negá-lo totalmente. Chamamos de inferno essa possibilidade da negação absoluta do Bem e do Bom.
Pontos para reflexão:
- como lido com a dimensão de eternidade da minha vida?
- o que construo para o futuro sabendo que ele será eterno?
- como imagino a minha ressurreição?
Fernando Dias Cyrino
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