Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Mesa da Palavra para o domingo 12-09-2010 - Ano C - XXIV do Tempo Comum - O Pai é misericordioso

Grande e prolongada crise atingia aquele país. Não havia emprego por lá. Um homem sofrido deste lugar chamou a esposa e lhe disse. “Não dá mais para ficar parado. As pessoas que têm nos ajudado também começam a passar necessidades e em breve não mais poderão nos sustentar. Você grávida e nem tenho dinheiro para comprar o berço do bebê. Vou para algum lugar onde haja trabalho. De lá mandarei dinheiro para que possa ter e cuidar do nosso filho com dignidade. Voltarei assim que as coisas melhorarem. Saiba que meu coração permanece aqui junto com você e a criança que vem vindo.
Houve muita tristeza e choro, mas como não se via outra saída lá foi ele para o estrangeiro. Numa terra distante arrumou ocupação e todo mês enviava para casa praticamente o salário inteiro. Vivia com grande simplicidade para que a família tivesse vida digna.
A criança crescia rápido. Seu grande amigo era um menino da escola que todo dia vinha brincar com ele onde morava. Com o tempo uma questão foi surgindo. Por que meu companheiro não me convida para ir também à casa dele? Foi numa tarde, ao saírem da escola, já tomando mais uma vez, o rumo da sua residência, que ele falou para o colega. “Hoje quero brincar na sua casa”. O amigo assustou-se com o que ouvira, mas não teve como dissuadi-lo.
Nem bem chegaram e puderam ouvir os gritos e palavrões do pai agredindo a mãe do menino. Ela, calada para não apanhar mais uma vez, sofria com as brutalidades do marido. O silêncio nem se instaurara quando ele chega à varanda onde brincavam. Chuta o brinquedo que construíam enquanto põe para fora de casa o menino, eis que aquela não era hora de brincadeira. O filho tinha era que trabalhar.
Volta para casa assustado o garoto. Não conhecia o pai e na sua mente começa a tomar corpo uma imagem ruim dele. A mãe falava maravilhas do marido distante, mas os exemplos que tivera na casa do amiguinho faziam com que passasse a desconfiar dela. Achou que ela só dizia aquelas coisas boas do pai para poupá-lo da dura realidade de quem ele na verdade era.
O povo de Deus nos tempos de Jesus era assim também. Aquela gente tinha uma imagem muito ruim do Pai. Ele era um bruto que vivia soltando raios e trovões. Sempre encolerizado e pronto para punir o povo que lhe era infiel. O Primeiro Testamento e a primeira leitura de hoje, tirada do livro do Êxodo, é exemplo disto.
Vem Jesus e se assusta com esta imagem equivocada que tinham do seu Pai. Nenhum filho, mesmo que seu progenitor não seja lá grandes coisas, gosta de ver falar coisas dele que não correspondam à verdade. Ainda mais Jesus, cujo Pai é todo, completa e infinitamente, bom. Por causa disto, para que façamos uma revisão na imagem de Deus que carregamos, é que Ele vem nos contar essas três lindas parábolas.
Legal notarmos que Jesus fala para os excluídos daquele tempo (os publicanos e pecadores), enquanto os religiosos (fariseus e mestres da lei) o criticavam. Acho que está por aqui a chave de leitura que gostaria de partilhar com vocês. Mais interessante ainda é observarmos que ao falar para os de fora, Ele está se dirigindo aos de dentro da Igreja. Ou seja, é para nós o recado. O simples fato de estar me lendo mostra que você se inclui entre os destinatários.
O Pai não sossega enquanto há pessoas perdidas por aí. Quando Ele encontra e resgata esses filhos perdidos (a ovelha, a moeda de prata e o moço que vai para longe) faz festa com seus amigos. A festa que celebra o reencontro e o fato de que Deus não perde ninguém, são os dois pontos que unem as três parábolas deste domingo.
Dia desses recebi e-mail muito triste pregando o não acolhimento na Igreja de algumas pessoas. A primeira coisa que me veio à mente foi que infelizmente aquele jovem (mais melancólico ainda que se tratasse de um moço) não tinha descoberto o quanto nosso Deus, o Deus de Jesus, é bom. O seu deus, feito à sua imagem, ou é justo, ou demonstra misericórdia. O nosso Deus, que é o Deus de Jesus, é todo bom e por isto é ao mesmo tempo justo e misericordioso.
Óbvio que Deus não é só Pai. Todos sabem que muito mais do que o pai, são as mães que vão para a rua esperar seus filhos. São as mães que choram e gritam desesperadas do lado de fora dos presídios, quando há alguma rebelião lá dentro. Reparem nas reportagens de televisão durante esses tristes episódios quantos pais estão por lá. Nas filas das prisões são elas que enfrentam longas filas e muito constrangimento para visitarem os seus filhos perdidos.
A experiência que temos com pais (e mães) que não são tão bons, como o menino da nossa historinha de hoje, faz com que passemos a criar representações de deus que não correspondem ao Deus real. Temos que purificar essas imagens, sob o risco de nos tornar idólatras. O Evangelho de hoje é caminho excelente para isto.
Para reflexão durante a semana
- Que imagem de Deus eu tenho?
- Ela é como a do Primeiro Testamento?
- Meu Deus é bom?
- Ele vai para a rua me esperar?
- Faz festa quando retorno?


1ª Leitura - Ex 32,7-11.13-14
Naqueles dias: O Senhor falou a Moisés: 'Vai, desce, pois corrompeu-se o teu povo, que tiraste da terra do Egito. Bem depressa desviaram-se do caminho que lhes prescrevi. Fizeram para si um bezerro de metal fundido, inclinaram-se em adoração diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: `Estes são os teus deuses, Israel, que te fizeram sair do Egito!' ' E o Senhor disse ainda a Moisés: 'Vejo que este é um povo de cabeça dura. Deixa que minha cólera se inflame contra eles e que eu os extermine. Mas de ti farei uma grande nação'.
Moisés, porém, suplicava ao Senhor seu Deus, dizendo: 'Por que, ó Senhor, se inflama a tua cólera contra o teu povo, que fizeste sair do Egito com grande poder e mão forte? Lembra-te de teus servos Abraão, Isaac e Israel, com os quais te comprometeste, por juramento, dizendo:
'Tornarei os vossos descendentes tão numerosos como as estrelas do céu; e toda esta terra de que vos falei, eu a darei aos vossos descendentes como herança para sempre' '. E o Senhor desistiu do mal que havia ameaçado fazer ao seu povo.

2ª Leitura - 1Tm 1,12-17
Caríssimo: Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava. Mas encontrei misericórdia, porque agia com a ignorância de quem não tem fé.
Transbordou a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores.
E eu sou o primeiro deles! Por isso encontrei misericórdia, para que em mim, como primeiro,
Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza de seu coração; ele fez de mim um modelo de todos os que crerem nele para alcançar a vida eterna. Ao Rei dos séculos, ao único Deus, imortal e invisível, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!

Evangelho - Lc 15,1-32 ou curto Lc. 15, 1-10
Naquele tempo: Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. 'Este homem acolhe os pecadores
e faz refeição com eles.' Então Jesus contou-lhes esta parábola: 'Se um de vós tem cem ovelhas e perde uma, não deixa as noventa e nove no deserto, e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? Quando a encontra, coloca-a nos ombros com alegria, e, chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: 'Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!' Eu vos digo: Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão. 8E se uma mulher tem dez moedas de prata e perde uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e a procura cuidadosamente, até encontrá-la? 9Quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz:
'Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!' Por isso, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.' E Jesus continuou: 'Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era
seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. Então caiu em si e disse: 'Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe:
`Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos.
O filho, então, lhe disse: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho'. Mas o pai disse aos empregados: `Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho.
E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado'. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde'. Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. Ele, porém, respondeu ao pai: 'Eu trabalho para ti há tantos anos,
jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado'. Então o pai lhe disse: `Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’.

Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 07/09/2010
Alterado em 08/09/2010


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