Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Todos necessitamos de conversão

Ao lado do castelo de um rei muito poderoso, morava um bando de cachorros vadios. Nos invernos, por não ter como se proteger, a matilha passava grande frio. Nessa época os vira-latas e as pessoas da redondeza, sofriam também muita fome, já que a comida naquela região praticamente acabava.
No palácio vivia igualmente um cachorro. Este era de raça e muito bonito. A rainha, sua dona, o penteava todo dia, alimentava-o com rações as mais caras e cuidava para que não faltasse nada para ele. Lá do alto das muralhas do castelo ele observava os cães que viviam embaixo, mas apesar de ter sido, com latidos alegres, convidado para visitá-los, decidiu que nunca iria lá embaixo. Afinal aqueles não eram cachorros da sua classe e os ignorou totalmente.
O monarca, a cada tempo de fome e miséria no seu reino, tinha aumentado o medo que possuía do povo. Seu receio é que os pobres invadissem o castelo. Por isto, aumentava as muralhas e o fosso em volta do palácio. Depois da última construção, nem dava mais para se identificar se a silhueta vista lá no alto, seria de um cachorro ou de algum outro animal. Distantes de todos, ele e seus donos, viviam cada vez mais alienados.
Uma noite os cães acordam sentindo calor e com um estranho clarão. Parecia até que o dia tinha chegado mais cedo. Olham assustados para cima e vêem que está tudo em chamas no castelo. Numa quina do muro conseguem enxergar a sombra do cachorro parecendo desesperado, mas mesmo querendo ajudá-lo, não tinham como fazê-lo. A distância havia se tornado tanta que nem conseguiam ouvir seus latidos.

O modelo econômico dos tempos de Jesus, como o que vivemos atualmente, era também gerador de muita pobreza e exclusão. Enquanto havia alguns que tinham demais, O povo vivia sem ter praticamente nada. O evangelista Lucas, sempre atento à realidade social, traz-nos hoje uma parábola para nos mostrar o que esta distância entre ricos e pobres é capaz de gerar.
O rico, por confiar totalmente nos seus bens, esquece-se de que a vida se faz através de comunhão com os irmãos. Preso ao seu egoísmo ele vai se tornando cada dia mais fechado e longe da realidade que o cerca. Vive na ilusão de que a riqueza preenche o coração e gera felicidade. Não nota que à sua volta há gente que precisa dele. Ao invés de usar o tempo da vida para criar laços, gasta todo o dia acumulando coisas, que não lhe servirão em nada para a eternidade.
A opção que faz pelo fechamento vai criando um abismo, separando-o da realidade do mundo. A tendência deste buraco é crescer, da mesma maneira que também aumentava o muro do castelo da nossa historinha. Vai ficando tão grande, que quando o que vive isolado sente necessidade do outro, é impossível que possa ser ajudado.
Nada muito diferente do que vivemos hoje nas grandes cidades. Os condomínios vão se fazendo ilhas e os seus muros, cada vez mais altos, exercem o papel desse precipício do Evangelho.
Uma leitura mais descuidada do texto pode passar a impressão de que Jesus, com esta história quer dizer que, automaticamente, o rico se condena e o pobre se salva. Não é este o recado.
O que a parábola quer nos mostrar é que precisamos “escutar os profetas”. E ouvi-los é o mesmo que se colocar no caminho da conversão. A necessidade da mudança é de todos, ricos e pobres. Jesus, através de Lucas, quer nos alertar que a conversão precisa se dar enquanto é tempo, ou seja, enquanto vivemos neste mundo. É aqui que construímos as pontes que nos levam aos irmãos, ou os abismos e muros que nos afastam, talvez irremediavelmente, deles.
O profeta Amós na primeira leitura é incisivo com aqueles que se sentem seguros por possuírem poder e coisas. O sentido da vida vai muito além da confiança naquilo que é efêmero. Por isto, inicia sua advertência com esse “ai”. Quem pensa que por ter poder e dinheiro tem tudo é um coitado, eis que não está gerando na vida o que conta para a eternidade.

Para reflexão durante a semana em preparação para a Eucaristia dominical:
- Em que me identifico com o homem rico e preciso converter-me?
- O que tenho feito para que haja mais justiça social?
- Construo “pontes”, ou deixo que cresçam “muralhas e abismos”?

Recado: Estamos criando uma lista de distribuição para esses comentários semanais. Caso não os esteja recebendo regularmente e gostaria de participar desta lista, envie-nos um e-mail para fernandodiascyrino@gmail.com 

1ª Leitura - Am 6,1a.4-7
Assim diz o Senhor todo-poderoso: Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas de Samaria! Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado; os que cantam ao som das harpas, ou, como Davi, dedilham instrumentos musicais; os que bebem vinho em taças, e se perfumam com os mais finos ungüentos e não se preocupam com a ruína de José. Por isso, eles irão agora para o desterro, na primeira fila, e o bando dos gozadores será desfeito.

2ª Leitura - 1Tm 6,11-16
Tu que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e pela qual fizeste tua nobre profissão de fé diante de muitas testemunhas.
Diante de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Cristo Jesus, que deu o bom testemunho da verdade perante Pôncio Pilatos, eu te ordeno: guarda o teu mandato íntegro e sem mancha até à manifestação gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta manifestação será feita no tempo oportuno pelo bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade e que habita numa luz inacessível, que nenhum homem viu, nem pode ver. A ele, honra e poder eterno. Amém.

Evangelho - Lc 16,19-31
Naquele tempo, Jesus disse aos fariseus: 'Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado.
Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão,
com Lázaro ao seu lado. 24Então gritou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas'.
Mas Abraão respondeu: 'Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós'.O rico insistiu: 'Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento'. Mas Abraão respondeu: 'Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!' O rico insistiu: 'Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter'. Mas Abraão lhe disse: `Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos'.'


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 20/09/2010
Alterado em 15/10/2010


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