Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos

A paixão por um um viciado em drogas. Resposta a uma mulher sofredora

"Amigo, preciso de ajuda.
Minha vida era finaceiramente ótima e estável. Eu era uma mulher respeitada por todos. Depois minha vida financeira desabou. Conheci um rapaz, me apaixonei. Ele tinha problemas com drogas...tivemos dois lindos filhos, muito saudáveis. Mas minha vida continua péssima. Não moramos juntos, ele jura que não usa mais as drogas. O problema é que ele mente e o dinheiro não dura nem um pouco na mão dele. Ele é doce, às vezes, mas sempre grosseirão comigo, inconveniente. Tenho medo de ficar sem ele, mas já não aguento mais essa situação toda".

Querida amiga,
paz!
Mesmo estando aqui, tão longe fisicamente de você, posso imaginar este seu grande sofrimento e conflito. Veja como o seu e-mail nos demonstra esta confusão na qual está imersa.

Ao mesmo tempo em que me escreve dizendo que "ele parou com as drogas" você me diz que "ele mente muito e que o dinheiro não dura na mão dele". Diz-me também que ele é "doce às vezes, mas sempre grosseirão comigo, inconveniente". E termina me partilhando seu medo em ficar sem ele, apesar de não estar mais aguentando continuar vivendo nessa situação.

Situação verdadeiramente complicada e que se torna ainda mais complexa porque gerou dois lindo frutos. Dessa relação nasceram os dois filhos de vocês. Duas vidas maravilhosas e que não têm a menor culpa com tudo que acontece com os seus pais.

A primeira coisa que gostaria que você refletisse é exatamente sobre eles. A pergunta chave neste sentido é: Ele é um bom pai para as crianças? Elas sentem segurança quanto ao carinho e cuidado que lhes são devidos?

Em seguida vale também pensar em você. Afinal, amiga, Deus nos faz para sermos felizes e não para sofrermos. Ele quer para nós a vida grande, a vida plena, em abundância. Por isto é preciso que você pese na balança tudo o que tem vivido e veja se valerá a pena continuar. Faça o seguinte exercício.

Olhando para o futuro ao lado dele você vê sinais claros de que o caminho irá ficar mais bonito, haverá mais paz e tranquilidade na sua vida e na dos seus filhos? Caso só consiga ver que a situação se manterá a mesma ou tenderá a piorar, aí será preciso que tome logo uma decisão. Imagine-se também já idosa e olhando para a vida que teve. O que gostaria que tivesse acontecido quando se imagina idosa e distante de tudo que agora está passando?

Um outro ponto para a sua reflexão diz respeito à questão das drogas. Uma pessoa viciada precisa de tratamento especializado e não é a sua mulher, mesmo no caso dela ser uma profissional da área, aquela que seria a mais indicada para cuidá-lo.

Estou escrevendo isto para dizer-lhe que se quer continuar com ele, na esperança de que será você a heroína a tirá-lo do vício, poderá estar incorrendo em grave engano e este poderá ser gerador consequências.

No caso de decidir por ficar com ele, apesar de tudo que me conta, ajude-o apoiando-o, animando-o a buscar suporte profissional, cuidando para que evite companhias que poderão levá-lo a recaídas e, principalmente, sendo exigente com ele. Nunca se esqueça que o caso requer cuidados que vão além do simples amor de um homem e de uma mulher.

Sim, o amor há que ser exigente e é necessário que ele seja "sacudido". É importante que ele tenha clareza da dimensão do mal que está causando a si mesmo e aos outros. Trate-o como "adulto responsável" e busque nos grupos de apoio aos Narcóticos Anônimos, subsídios sobre como deverá agir em situações específicas.

Ajude-o também rezando, não deixe de colocar Deus em meio à relação de vocês. Peça ao Pai a coragem necessária para que possa caminhar ao lado de alguém com uma história tão triste e complexa.

Ao contrário, caso tome a decisão de não estar daqui por diante com ele, nem por isto deixará de o ajudar, não é mesmo? Faça-o querer ser ajudado. Mostre a ele que tudo depende da sua vontade em querer largar o vício.

Respeite-o, pois o que tem é algo muito doloroso e ele também sofre muito com a sua dependência. Mas, ao mesmo tempo, exija dele que seja mais lutador e que não se entregue. No caso dele não seja ligado à Igreja, leve-o até ela. Ensine-o a rezar.

Arrume algo para preencher o seu tempo ocioso. Isto é muito importante. Quem sabe um trabalho voluntário na próxima comunidade... Diziam os antigos, com muita sabedoria, que "a cabeça vazia é templo do capeta".

Agora volto para você. Amiga, tudo isto que tem vivido e que lhe tem trazido tanto sofrimento fez com que descuidasse de si e dos seus negócios. Daí para a chegada de mais uma crise, agora a econômica e financeira, foi um salto, não é mesmo?

Hora de voltar a trabalhar firme para retomar o que foi perdido. Independente do que decida em relação ao seu namorado, saiba que tem o filho a ser cuidado e é por ele e por você que irá lutar com muita força.

Faça um planejamento de curto e de médio prazo. O que precisa fazer imediatamente e o que fará no ano que vem, por exemplo, para que volte a ter uma vida digna, não precisando depender de ninguém para o seu sustento.

Retome os seus contatos, peça a ajuda daqueles em quem confia para refazer seus projetos. Não tenha medo. Caminhe para águas mais profundas. Deus está com você.

Não se esqueça jamais de buscar o consolo e o apoio em Deus. Encontre nele, que é todo bom e misericordioso, através dos Sacramentos e da oração, a força necessária para a caminhada, independente de qual seja a decisão a ser tomada nessa questão pessoal que você me trouxe.

Daqui de longe sigo rezando por você, a criança e por seu namorado. Que o Senhor, que é todo bom, lhe dê muito ânimo para seguir em frente. Quero lhe dizer que conto também com as suas orações.

Abraços do seu amigo no Senhor,
Fernando.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 15/10/2010
Alterado em 15/10/2010


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