Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Mesa da Palavra - Ano C – XXXI do Tempo Comum – É necessário subir para ver Jesus.

Naquele tempo: Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: 'Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa.' Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: 'Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!' Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: 'Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais.' Jesus lhe disse: 'Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.' Lc 19,1-10

“Jabuti não sobe em árvore”. Este é um ditado que nos vem dos tempos antigos e que nos revela uma grande verdade. Tem o significado de que no caso de encontrarmos algo que não faça sentido à primeira vista, antes de propor alguma explicação, valerá a pena verificar os porquês daquilo. Ou seja, antes de tirar algum "jabuti empoleirado" que encontre pendurado por aí, tome cuidado e reflita primeiro... 

O Evangelho do próximo domingo narra-nos a história do encontro de um desses raros “jabutis”. Conta-nos o evangelista, de uma maneira bem plástica que Jesus, ao atravessar Jericó, encontra um homem em meio aos galhos de uma figueira. A razão de Zaqueu, o nosso “jabuti”, que era um homem rico, estar nesse ambiente para ele totalmente inusitado é simples. Ele queria ver quem era Jesus e caso ficasse no chão não conseguiria vê-lo. Os verbos ver e subir, aqui utilizados por Lucas, precisam ser vistos bem além de olhar e trepar em algo.

A notícia de que Jesus estava chegando se espalhara na cidade. Muita gente fica curiosa e vai às ruas para vê-lo passar. Uma multidão que sai de casa, livra-se do comodismo, deixa de lado o trabalho, ou o lazer, e vem ver Jesus. Dentre eles está Zaqueu. Que notícias já teria dele nós não sabemos. O fato é que, junto com o povo, um homem importante, larga o que estava fazendo e vai também para a praça para, no meio da multidão, conhecer Jesus.

Parece que Zaqueu queria ver Jesus, mas não queria ser visto. Ele, um homem poderoso, tinha status e era rico. Todos nós sabemos que pessoas assim tiveram e sempre terão por perto aqueles que lhes arrumarão bons lugares. Gente rica quando quer algo arruma um jeito para não perder nem um pedacinho daquilo que decidiu assistir. Quisesse mesmo que Jesus o visse, sem dúvidas que poderia estar na primeira fila. Mesmo que para isto tivesse que pagar a alguém para que lhe reservasse, ou cedesse o lugar.

Então acontece o inesperado. O encontro com Jesus é sempre surpreendente e nos reserva novidades. Zaqueu lá trepado, jabuti empoleirado, meio escondido nos galhos da árvore e é Jesus quem o vê primeiro. Há aí um movimento de Jesus que me encanta. Ele olha para o alto. Jesus levanta os olhos não para rezar, ou para se sentir mais unido ao Pai, mas para olhar o pecador que está lá entre os galhos da árvore. Ao contrário de muitas outras cenas nas quais olha para as pessoas, ou de cima para baixo, ou frente a frente, neste momento a posição é outra, se inverte. Deus está embaixo e é o pecador, aquele que é buscado, que está no alto.

Será que o nosso personagem era pequeno de estatura somente? Ou Lucas nos sugere algo mais? É bem provável que esteja nos convidando a imaginarmos alguém pequeno por dentro. De repente, houve a coincidência de Zaqueu ser, por dentro e por fora, um jabuti bem pequenino. Ir além aqui significa descobrirmos que se não estivermos dispostos a crescer espiritualmente teremos dificuldades para ver Jesus. Poderemos até vê-lo, mas não seremos capazes de compreender que, verdadeiramente, Ele é o Filho de Deus.

“Desça depressa, Zaqueu”. Jesus sabe que aquele é um homem de decisões rápidas e que não perde tempo caminhando lentamente. Enquanto ainda o chama, lá estava ele, jabuti se esfregando pelo tronco da figueira, para estar diante dele e recebê-lo em sua casa com alegria. Receber Jesus sempre dá alegria. Mas também tem conseqüências. Ele transforma a vida de quem o acolhe e é importante vermos que essa transformação se dá em relação ao próximo.

Acolher Jesus é o mesmo que sair de si para caminhar na direção do outro. Partir ao encontro daqueles a quem devemos algo e nós devemos muito aos pequenos e empobrecidos. Por isto Zaqueu, transfigurado, já não é mais jabuti em árvore. Ele parte para demonstrar que agora os valores que possui são outros. O dinheiro, que até aquela hora era seu deus, é relativizado. Deixa de sê-lo. Não somente ele na árvore, mas também a sua vida, a partir do acontecido, adquirem novo sentido.

Zaqueu vê Jesus e ao senti-lo no coração torna-se capaz de fazer a sua profissão de fé. Crescido ele sai do chão e reconhece o senhorio de Jesus na sua vida. Faz isto o chamando de Senhor. Interessante notarmos que Lucas ressalta a posição corporal dele nesse momento. Zaqueu se põe de pé para expressar seu Credo em Jesus. Professa a fé de maneira totalmente comprometida: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”.

Pontos para ajudar na reflexão:

- De que forma Jesus “atravessa” a minha vida?

- “Subo” para vê-lo passar, ou permaneço preso ao chão?

- O que falta para que, como Zaqueu, também possa dizer que Jesus é o meu Senhor?

1ª Leitura - Sb 11,22 - 12,2
Senhor, o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra.Entretanto, de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fecha os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam. Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado. Da mesma forma, como poderia alguma coisa existir, se não a tivesses querido? Ou como poderia ser mantida, se por ti não fosse chamada? A todos, porém, tu tratas com bondade, porque tudo é teu, Senhor, amigo da vida, O teu espírito incorruptível está em todas as coisas! É por isso que corriges com carinho os que caem e os repreendes, lembrando-lhes seus pecados, para que se afastem do mal e creiam em ti, Senhor.

2ª Leitura - 2Ts 1,11 - 2,2
Irmãos: Não cessamos de rezar por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação. Que ele, por seu poder, realize todo o bem que desejais e torne ativa a vossa fé. Assim o nome de nosso Senhor Jesus Cristo será glorificado em vós, e vós nele, em virtude da graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo. No que se refere à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa união com ele, nós vos pedimos, irmãos: não deixeis tão facilmente transtornar a vossa cabeça, nem vos alarmeis por causa de alguma revelação, ou carta atribuída a nós, afirmando que o Dia do Senhor está próximo.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 25/10/2010
Alterado em 21/10/2022


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