Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Mesa da Palavra – Ano A – IX do Tempo Comum – Sozinha a oração não constrói a vida em terra firme.

Enquanto suas irmãs na colméia trabalhavam duro, colhendo o néctar das flores e em tantas outras tarefas, Adélia, uma abelha muito religiosa, rezava no belo oratório que construíra. Numa das suas poucas saídas do lar ela vira um assim bem bonito na casa de um humano. Encantou-se e desde então passava os dias dando louvores a Deus com suas patinhas ajoelhadas diante dos santos de devoção. Abília, sua irmã doente, gemia numa cama logo ao lado do seu canto de reza, mas ela, com a música religiosa no máximo volume, era incapaz de ouvi-la. E mesmo que a escutasse, como deixaria de dar atenção a Deus para cuidar de uma simples abelha? Impaciente, Adélia vivia irritada com suas irmãzinhas pelo barulho que faziam conversando. Um dia houve uma grande tempestade na floresta e a árvore na qual viviam, por causa do desmatamento, acabou perdendo sustentação e estava caindo. Todas tinham que sair voando rápido. Gritaram muito para Adélia chamando-a e a alertando do perigo, enquanto buscavam na cama a pobre Abília, mas quem disse que ela podia escutá-las? Quando a fumaça chegou às narinas Adélia até tentou voar, mas os músculos das asas, que a levariam junto às outras para a salvação, não responderam. Eles estavam fracos e atrofiados...

No começo do seu Evangelho Mateus reúne uma série de falas importantes de Jesus e as coloca no chamado Sermão da Montanha. Faz isso para que estivesse claro para os judeus, a quem seu Evangelho se dirigia, que Jesus é verdadeiramente o novo Moisés. Aquele que traz a salvação dando sentido completo à Lei. Nos últimos domingos contemplamos alguns trechos desse discurso. Nesse domingo encontramos Jesus tratando de dois temas recolhidos pelo evangelista para nos continuar alertando sobre os critérios para a salvação.

O texto começa com um recado muito claro para nós, aqueles que a sociedade chama de “cristãos praticantes” (como se isso fosse possível. Seguir Jesus sem praticar suas palavras). Não basta o louvor, nem rezar de maneira bonita, se a oração não se fizer presente na vida cotidiana. A oração desligada da caminhada é vazia. Será fé que não se justifica, no dizer sempre tão claro de São Paulo.

Os braços levantados para louvar têm também que estar abertos para abraçar o irmão necessitado. Fé e vida são os dois lados da mesma moeda. A oração se concretiza na abertura para o outro. O alerta de Jesus é para que não caiamos na tentação da oração alienante, mantendo-a presa ao templo, ou ao oratório do quarto, como a Adélia na historinha de hoje. Rezar é cotejar a realidade da vida com a profundidade da fé. A oração precisa se realizar concretamente na existência, ao mesmo tempo em que a vida precisa ter o louvor e a gratidão da oração. Na bela intuição de Santo Inácio de Loyola há que se ser “contemplativos na ação”

Na segunda parte do Evangelho Jesus vem nos falar de construções erguidas em terreno seguro e em outras que foram feitas em locais de risco. Imagino que Ele falou disso após ter visto, ou ouvido falar de algum desabamento provocado por enchentes talvez. As imagens de destruição nas nossas encostas, praticamente todo ano, ajudam-nos a compor a cena para melhor contemplarmos o que Jesus quer nos dizer.

A vida se faz em terra firme e o que mostra estarmos seguros são as crises, as famosas tempestades pelas quais todos passamos. Não é raro reclamarmos com Deus por estarmos vivendo uma dessas tremendas crises. Nessas horas nos esquecemos de que serão elas que nos farão pessoas melhores, mais preparadas para resistir às dificuldades, tendo fortificada a fé na existência.

Vidas não temperadas pela tempestade acabam sendo frágeis, moles como de crianças muito mimadas. Elas ao chegarem à adolescência e descobrirem que não podem ter tudo, eis que nada lhes era negado, vivem a crise normal a todo jovem nessa época de uma maneira muito mais exacerbada. Tantos, na ilusão de fugir dela, acabam enveredando por atalhos sem saídas como é o caso da droga.

Diante de nós, Moisés enfatiza na primeira leitura, está a “bênção e a maldição”. A escolha será sempre de cada um. Optar pela bênção é unir fé e vida numa única realidade. Há sempre uma distância entre o que rezamos e o que fazemos. Somos seres finitos, de baixa coerência e o pecado, tantas vezes, nos mostra esta realidade. Aproximar cada dia mais os atos que praticamos dos discursos que temos é juntar vida e fé. É ir pelo caminho do seguimento de Jesus e da santidade.

Para refletirmos durante a semana:

- Fé e vida caminham juntas em mim?

- É sobre a rocha de Deus que construo a vida?

- Minha fé é privada, ou a tenho mostrado e levado até o próximo?

Poderá ajudar caso queira rezar essa passagem:

http://www.fernandocyrino.com/visualizar.php?idt=2819414


1ª Leitura - Dt 11,18.26-28.32
Moisés falou ao povo dizendo: Incuti estas minhas palavras em vosso coração e em vossa alma; amarrai-as, como sinal, em vossas mãos e colocai-as como faixas sobre a testa. Eis que ponho diante de vós bênção e maldição; a bênção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, que hoje vos prescrevo; a maldição, se desobedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus e vos afastardes do caminho que hoje vos prescrevo, para seguirdes outros deuses que não conhecíeis. Tende, pois, grande cuidado em cumprir todos os preceitos e decretos que hoje vos proponho.

2ª Leitura - Rm 3,21-25a.28
Irmãos: Agora, sem depender do regime da Lei, a justiça de Deus se manifestou, atestada pela Lei e pelos Profetas; justiça de Deus essa, que se realiza mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que têm a fé. Pois diante desta justiça não há distinção: todos pecaram e estão privados da glória de Deus, e a justificação se dá gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Jesus Cristo.
Deus destinou Jesus Cristo a ser, por seu próprio sangue, instrumento de expiação mediante a realidade da fé. Com efeito, julgamos que o homem é justificado pela fé, sem a prática da Lei judaica.

Evangelho - Mt 7,21-27
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Nem todo aquele que me diz: `Senhor, Senhor', entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus. Naquele dia, muitos vão me dizer: `Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos muitos milagres?' Então eu lhes direi publicamente: `Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal. Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as põe em prática, é como um homem prudente, que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos deram contra a casa, mas a casa não caiu, porque estava construída sobre a rocha. Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática, é como um homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, os ventos sopraram e deram contra a casa, e a casa caiu, e sua ruína foi completa!'

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 28/02/2011
Alterado em 06/02/2017


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