A Porta
Era uma porta que nunca fechava. E porque estava sempre bem aberta, alguns começaram a achar que era inútil. “Para que porta que nunca fecha?” Era o que andavam dizendo por aí. Tanto fizeram que acabou sendo retirada.
Só que as coisas foram pouco a pouco desandando. É que as pessoas foram se perdendo. Não havendo mais a porta elas entravam e saiam por qualquer lugar e agindo assim não conseguiam mais encontrar aquele exato espaço que necessitavam para ser felizes. Tudo foi ficando frio e impessoal. Passou-se um tempo e, por não haver mais a porta, perderam inclusive a noção de dentro e fora.
Não só as referências espaciais foram perdidas, mas a falta da porta fez com que passassem também a não mais se reconhecer. Ninguém sabia mais, por mais íntimo que fora no tempo da porta, quem era o outro. Todos tinham se tornado estranhos uns para os outros. Aquele povo, a começar dos que tinham achado ser a porta desnecessária, sentia-se inseguro, solitário e sem rumo. Ninguém mais tinha noção do sentido para aonde estavam indo e nem de onde tinha vindo. Era como se ninguém tivesse uma história para contar.
Foi então que resolveram buscar a porta e reinstalá-la. Houve muita festa na sua reinauguração Em meio a grandes comemorações eles iam se redescobrindo como amigos e comunidade querida. Ao passar pela porta no final do dia para descansar, sentiam-se protegidos por ela e em segurança no meio de irmãos.
Ao sair pela porta pela manhã para mais um dia de trabalho, levavam a certeza de que possuíam um lugar para retornar que identificariam como o seu lugar e onde seriam bem acolhidos pela porta, que agora sabiam, era muito mais do que simples referência. Ela os reconhecia e os tratava pelo nome. Aquela porta os amava e estava pronta a cuidar com carinho, não importavam os riscos, de cada um deles.
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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 07/04/2011