Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


A mãe e o filho que havia crescido

Era uma vez uma galinha que não conseguia notar que seus filhos estavam crescendo. Por maiores que já fossem ela continuava a vê-los como “suas crianças”. Queria-os sempre, afinal ela nada mais era do que uma simples galinha, todos debaixo das suas asas.

A vida seguia assim, tranqüila, com todos ciscando por perto, sob seus olhares de atenção e carinho, quando o filho mais velho a chamou de lado e falou bem assim: “Mãe, arrumei um emprego como cantor das madrugadas na torre de um castelo de outra cidade e vou para lá”. Ela, se em pé estivesse teria caído para trás, mas como sentada estava, foi com um estremecimento do corpo e com duas lágrimas já a lhe rolarem no bico, que lhe respondeu: “Meu filho querido, não vá. O mundo é bastante perigoso e você sabe bem que não poderei estar por lá com você.”

“Mas mamãe,” foi o que replicou. Já sou frango criado e essa é a grande chance da minha vida. Não posso perdê-la. “Impossível permanecer aqui sob o sustento de suas asas a vida toda.” O mundo parecia ter desabado. Era como se sob seus pés não houvesse mais nenhum poleiro. Alguém que chegasse ali naquele momento poderia até pensar, com toda razão, que tinha acabado de haver alguma morte naquele galinheiro.

Galináceos dormem cedo e filho e mãe, os dois com o coração batendo acelerado de tamanho sofrimento, concluíram que não havia mais nada a dizer um ao outro naquele momento. A mãe, no seu choro, permanecia cheia de receios quanto à capacidade do filho em gerir com seus próprios passos a vida. O filho tendo já a firme decisão deliberada de viajar, sem ter palavras para convencer a mãe. Assim cada qual subiu para seu poleiro. O problema foi que não conseguiam dormir.

Somente chegada a madrugada, faltando pouco para acordarem novamente, foi que pegaram no sono. E foi então que aconteceu que, pela primeira vez na vida, Dona Galinha teve um sonho. Nele ela adquirira asas imensas que se abriam bonitas até cobrirem muito além do horizonte. Sob elas sentia continuar acolhendo a todos. Inclusive seu frango que já estava praticamente um galo pronto e que ela não considerava preparado ainda para a vida.

No sonho uma voz bem bonita lhe dizia que os filhos não são dos pais, mas que por eles são criados para que possam viver no mundo, transformando-o para que se torne mais bonito. Acordou com o primeiro canto do galo, seu marido, com um largo sorriso no bico. Pulou dois poleiros abaixo e numa carinhosa bicada dizia ao seu belo frango, que não conseguira pregar os olhos, Que ele podia ir para cumprir seu destino. E que onde ele estivesse que soubesse sempre que suas asas estariam por sobre as nuvens a lhe proteger.

A mãe havia compreendido a dinâmica da vida e não se sentia infeliz. Ao contrário, mesmo sabendo da grande saudade que iria sentir com a partida dos seus filhotes do galinheiro, tinha consciência de que estaria unida a eles, pois que o amor não requer que se esteja colado uns nos outros para poder se manifestar.

No dia em que o frango foi embora houve grande festa naquele lugar. Danças e cantos desde a manhã até o pôr do sol. Todos estavam alegres e dançaram o dia todo, eis que de noite, já sabemos disto, galinhas, galos, frangos e pintinhos não conseguem fazer nada, pois que é hora em que eles têm muito sono.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 07/05/2011
Alterado em 08/05/2011


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