Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra do XIII Domingo do Tempo Comum – Ano A – 26-06-2011 – O Amor de Deus envolve, protege e orienta o Amor humano.
Um menino, incomodado com o que ouvira na missa, vira-se para a mãe e diz: “Tem algo errado comigo. É que gosto mais de jogar bola do que da Rita, a minha melhor amiga”. A mãe sorri e lhe diz com aquele carinho que só elas são capazes: “filhinho, não se pode fazer uma comparação assim entre realidades totalmente diferentes. Você está falando de uma coisa, o futebol e de uma pessoa, a Ritinha. É claro que pode gostar tanto assim do futebol e ao mesmo tempo amar não só sua amiga, mas igualmente a mim, seu pai, irmãos e, não se esqueça, também a Deus. O amor a Ele e o amor às pessoas são realidades diferentes, da mesma forma que o gostar das coisas também é. Colocar tudo misturado num mesmo prato, como se fosse uma coisa só, além de ficar estranho e sem sabor, pode dar uma tremenda congestão”.
A primeira imagem do Evangelho desse domingo é capaz de provocar, numa leitura ao pé da letra, essa confusão que acontece quando se compara realidades distintas. Lê-lo dessa maneira tem dado margem a mil interpretações que estão bem longe do que Jesus queria realmente dizer. Primeiro que no aramaico não há comparativos.
Assim ao se falar de duas realidades diferentes não se tem a pretensão de comparar, mas de se constatar coisas. Segundo que o Amor de Deus nunca será capaz de se misturar ao amor humano. São dimensões diferentes do amor e comparar essas realidades prejudica o seu sentido, do mesmo jeito que há uma perda brutal de sentido ao se comparar o gosto do futebol com o amor da Rita.
Há que se fazer uma segunda leitura para se encontrar o significado profundo dessas expressões que encontramos no Evangelho de Mateus. Todos podemos (e devemos) amar pai e mãe, irmãos, filhos, marido e esposa com toda a força do coração. Da mesma forma que também amaremos a Deus com toda capacidade que encontrarmos no coração.
As dimensões do amor nunca podem ser conflitantes. Por maior que seja o nosso amor ele será sempre minúsculo diante do amor de Deus. Que tal imaginarmos que esse amor imenso da Trindade seria tal como um guarda-chuva que nos protegesse, envolvendo e orientando o amor humano?
O que Jesus quer nos alertar é que quando se é fechado em si mesmo não se consegue amar as pessoas e que não amando aos que vê, muito menos será capaz de amar àquele que não vê. A recíproca, por mais devota que essa pessoa possa parecer, é mais do que verdadeira. Por outro lado, podemos também facilmente verificar que o amor se expande. Dizendo de outra maneira é constatar que ele aumentará quanto mais se ame.
Não fosse assim cada ser humano teria já de antemão definida a capacidade amorosa. Ao atingir esse limite se tornaria incapaz de amar mais. Imaginem a loucura disso caso alguém que se encontrasse já no seu limite viesse a ter um filho, por exemplo. Imaginar um absurdo assim ajuda a compreender esse atributo sempre expansionista do amor.
Outra comparação muito pobre e limitada que podemos fazer é a do amor com os exercícios físicos. Quanto mais se exercita, mais se melhora o desempenho. A pobreza da comparação está em que o amor, ao contrário do condicionamento físico, é ilimitado.
É preciso ter sempre em mente que, em última instância, sempre que falarmos de amor estaremos tratando de Deus. É Ele quem nos presenteia com a capacidade de amar. Todo amor nasce nele e vem dele. Deus é a fonte inesgotável de amor do universo. Será que podemos duvidar de que vem de Deus o amor que temos pelos nossos pais, filhos, esposas, namorados, amigos...? Quem é incapaz de amar afasta-se do amor dele, tornando-se assim indigno da sua presença.
Jesus continua dizendo que quem ganha a vida irá perdê-la e que aquele que a perder, ao contrário do que possa parecer aos critérios do mundo, a terá ganho. O que é para os padrões da sociedade ganhar a vida? É ter prestígio, bastante dinheiro, ser dono, enfim, de muitas coisas.
Ganhar a vida é fugir da cruz, ou mesmo “terceirizá-la” jogando-a sobre os ombros do próximo. Sabemos, não somente no aspecto religioso, mas mesmo no social e até psicológico, que o ter inerente a esse ganhar a vida não pressupõe e nem é a causa, de realização e felicidade. Que o digam os consultórios lotados dos psicanalistas.
Perder a vida é ganhá-la na medida em que se coloque a serviço dos outros, Aí sim, se ganhará em afeto, carinho, relações saudáveis e significativas e principalmente, é claro, em amor, eis que ele é gerado pela dinâmica do ser e não pela do possuir.
Ganhar a vida é buscar o ter, realizar-se somente para si próprio, cuidando somente de alimentar o egoísmo, buscando ajuntar e não repartir. Essa postura acabará fazendo com que se considere tudo pela ótica de “coisas”. Perder a vida é gastá-la na construção do ser. Ser para o outro, para a comunidade e para o mundo. Ser assim nada mais é do que humanizar-se, tornando-se santo: um ser aberto para Deus.
- Questões para reflexão durante a semana:
- A quantas anda a minha capacidade de amar?
- Estou vivendo somente na dimensão do “ter”? Ou cresço também no caminho do “ser”?
- Ganho ou perco a vida?
1ª Leitura - 2Rs 4,8-11.14-16a
Certo dia, Eliseu passou por Sunam. Lá morava uma senhora rica, que insistiu para que fosse comer em sua casa. Depois disso, sempre que passava por lá Eliseu parava na casa dessa mulher para fazer suas refeições. E ela disse ao marido: 'Tenho observado que este homem, que passa tantas vezes por nossa casa, é um santo homem de Deus. Façamos para ele, no terraço, um pequeno quarto de alvenaria, onde colocaremos uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro. Assim, quando vier à nossa casa, poderá acomodar-se ali'. Um dia, Eliseu passou por Sunam e recolheu-se àquele pequeno quarto para descansar. E perguntou a Giezi, seu servo: 'Que se poderia fazer por esta mulher?' Giezi respondeu: 'É inútil perguntar-lhe; ela não tem filhos e seu marido já é velho'. Eliseu mandou então que a chamasse. Ele chamou-a e ela pôs-se à porta. Eliseu disse-lhe: 'Daqui a um ano, neste tempo, estarás com um filho nos braços'.
2ª Leitura - Rm 6,3-4.8-11
Irmãos: Será que ignorais que todos nós, batizados em Jesus Cristo, é na sua morte que fomos batizados? Pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova. Se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele. Sabemos que Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele. Pois aquele que morreu, morreu para o pecado uma vez por todas; mas aquele que vive, é para Deus que vive. Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo.
Evangelho - Mt 10,37-42
Naquele tempo, disse Jesus a seus apóstolos: Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa.'
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Liturgia de Missa
Enviado por Fernando Cyrino em 20/06/2011
Alterado em 25/07/2011