Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Carta a uma jovem indicando-lhe três reflexões para que verifique se valerá a pena manter seu namoro problemático

Minha querida amiga, Vanessa,
Paz!

Você me escreve dizendo viver um relacionamento bem complicado. Um namoro no qual tem enfrentado vários e continuados problemas. Conta-me que a partir do que tem acontecido nessa relação passou a viver imersa num grande conflito. Enquanto a razão tem lhe dito para terminá-la, o coração apela para que a mantenha. Entre essas duas ordens o coração tem vencido e você o tem atendido. Quero nessa carta resposta sugerir-lhe três reflexões sucessivas sobre o problema para que possa melhor discernir o que seja melhor para a sua vida. Que tal imaginar-se passando tudo que tem vivido por três tipos de peneiras?

A primeira peneira visa clarear o que está acontecendo. Ao me dizer que está vivendo em conflito a primeira coisa que fica clara é que não está conseguindo se realizar no relacionamento. O fato é que lhe falta algo importante que a impede de ser feliz. A primeira coisa que tem que buscar então é tornar mais evidente essa necessidade ou falta. Será a hora de se perguntar: O que realmente falta na minha relação? Repare que essa questão a levará necessariamente a uma segunda pergunta: Não estou exigindo da pessoa com quem me relaciono algo que ele é incapaz de me oferecer? Muitas vezes é possível que queiramos que nos seja dado aquilo que as pessoas não têm para nos oferecer. Da mesma forma que de uma mangueira será impossível colher bananas, de alguém que não tem aquilo que você busca certamente que não poderá receber aquilo que ele não tem.

Na segunda peneira reflita sobre se será possível sublimar, ou seja não levar em consideração, o que identificou que esteja lhe faltando para ser feliz: Nesse novo passo, tendo adquirido clareza da sua carência, verifique se conseguirá ser feliz vivendo a ausência daquilo que não está existindo na relação. Ou seja, pergunte-se algo assim: “Poderei abrir mão disso, sublimando o que a relação não está me dando e conseguir, mesmo assim, me realizar?” Cuidado, minha amiga, porque poderá ser que num primeiro momento você até responda que sim. A atenção que precisa tomar é para que essa resposta seja dada numa dimensão de longo prazo. Daqui a dois anos, por exemplo, como imagina que estará se sentindo? Viver algo complicado por um tempo mais curto até é possível e razoável, mas assumir algo ruim ou negativo por toda a vida é muito mais delicado e difícil de ser levado.

Passada essa segunda peneira será a hora de tratar dos seus valores. Reflita então sobre aquelas coisas sobre as quais está abrindo mão. Podemos abrir mão de muitas coisas, mas tome cuidado porque não se abre mão de valores. O que são valores? Valor é aquilo que vale profundamente na vida. Por exemplo, se honestidade é um valor para você e a pessoa com quem está convivendo a leva a ser desonesta, esta relação não lhe dá sentido e nesse caso o melhor a fazer será rompê-la. Abrir mão de valores só fará com que aumente o seu conflito, levando-a a uma desintegração e degradação que a fará infeliz.

Somos feitos para a realização e a felicidade, minha querida amiga. Deus não nos quer infelizes. Se a pessoa com quem está não a faz feliz, veja as três peneiras e a partir do que for nelas peneirado sinta então como deverá decidir: Continuará a atender o coração, ou fará uma mudança ouvindo também a voz da razão?

O medo da solidão, bem como a acomodação ao que já se conquistou, tem feito com que acabemos por nos contentar com o pouco. Isto é muito ruim, porque o pouco não é capaz de preencher o coração de ninguém. Veja bem que falo de pouco não no sentido material, mas sim nos aspectos ligados ao ser pessoa. Ser “pouca pessoa” é perder em dignidade humana.

Ser pessoa é fundamental para se ser realizado. Por isto o homem com quem irá viver terá que ser alguém significativo, um ser humano que valha realmente a pena. Há que ser um homem que a respeite e lhe aumente a estima. Caso depois de fazer esse exercício, sentir que não há respeito e que também não esteja sendo tratada com dignidade, saia fora rápidamente. Essa nunca será uma relação saudável.

Por fim tem que ser alguém que tenha capacidade de amar. Há muita gente por aí que não sabe amar. Muitos, infelizmente, não tiveram uma “escola de amor” na vida e por isto só sabem gerar em volta dor e tristeza. Essas pessoas precisam de orientação profissional para mudar. Não será a esposa, ou no caso contrário o marido, que conseguirá que mude a forma ruim de ver, sentir e agir no mundo.

Ter capacidade para amar significa ser alguém que tenha vida espiritual. Que não seja uma pessoa focada apenas nas coisas físicas e materiais, mas que busque além do que os sentidos conseguem perceber. Esse além está no amor que você dará a ele, bem como no que ele retribuirá a você. Mas veja que o amor mútuo não é suficiente. Será necessário que ele se amplie e transborde em volta, nas pessoas que os cercam e principalmente nos filhos que virão. Amor fechado só no casal não é amor. É mera paixão que logo esfriará e que não deixará nada construído.

Ter vida espiritual é confiar em Deus, possuir uma vida de oração, buscá-lo não só nos momentos de crise e dificuldades, mas também naqueles de alegria e de realização. É crescer como pessoa humana tornando-se mais aberta e tolerante às diferenças entre os casais e às outras pessoas. É crescer e ajudar para que o ser amado também entre na rota do crescimento.

Espero ter te deixado algumas pistas para você refletir e discernir se deve manter a relação, ou se está na hora de encerrá-la. Daqui fico torcendo e rezando para que seja feliz na decisão que tomar.

O abraço fraterno do seu amigo distante,
Fernando.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 07/07/2011
Alterado em 07/07/2011


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