Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra do 18º Domingo do Tempo Comum - Ano A - O milagre de dar de comer agora é nosso.

Na colméia vivia uma abelha diferente. Queria que tudo fosse feito para ela. Era um ser inútil, incapaz de realizar algo, por pequeno que fosse, em prol das irmãs. Assim pensava: “Ah trabalhar é bobagem. Sempre vai ter gente pronta para realizar o que seja necessário”. Desse jeito ia levando a vida. Sempre dependente da ação das outras e achando que a rainha mãe é que possuía a obrigação de fazer as coisas. Julgava que,  se ela era a rainha, tinha mais é que dar o que cada uma das suas súditas necessitava. Foi assim até aquele dia no qual aconteceu a grande fome. Há mais de ano não caia gota d’água. Tudo estava seco e as plantas não floresceram. As operárias, menos a nossa amiga, voavam aflitas de um lado para outro e nada de pólen. Então, enquanto as outras trabalhavam, indignada, correu ao trono reclamando assim: ”Mãe, falta mel para nosso alimento e, principalmente, das abelhas velhas e das irmãzinhas que vão nascendo”. A rainha de supetão lhe respondeu: “Por que me fala assim? São vocês mesmas que devem dar de comer a elas”. Incomodada retrucou: “Mas como faremos isto se não há pólen para produzir mel?” A rainha, que era abelha muito das inteligentes, encerrou a conversa: “Tragam todo mel que há na colméia e alimentem a todas”. A abelhinha folgada avisou suas irmãs e foi então que aconteceu o milagre. É que cada uma tinha no fundo do seu favo uma reserva de mel. Repararam que se cada uma desse um pouco do que guardara, haveria mel suficiente e ainda iria sobrar bastante para ser guardado, no caso da chuva demorar. A abelhinha preguiçosa, que nunca fizera uma gota do precioso alimento, sentia-se envergonhada e, mais ainda, faminta. Afinal, seu favo era o único vazio. Ela não tinha o que comer e muito menos podia passar algo às abelhas crianças e idosas. A rainha, vendo-a arrependida, sentiu compaixão da filha e a alimentou. Desde esse dia ela aprendeu que viver em comunidade é, mais do que esperar de Deus, da rainha e das outras, trabalhar para que não haja nenhuma abelha sentindo falta do alimento necessário para a vida.

No Evangelho de hoje reparamos que as multidões ainda seguem Jesus. Ele se retira para o deserto e lá vai o povo atrás dele. Essa situação, Mateus nos mostrará em seguida, pouco a pouco irá mudando. Para entender melhor a situação é preciso compor a cena.

Reparar que aqueles eram tempos muito diferentes dos nossos. Hoje, logo que aconteça uma aglomeração, imediatamente aparecerá gente vendendo comida. Naquela época era diferente, não apareciam vendedores, além do que o lugar era distante. Os discípulos queriam, sabedores de que falta de comida sempre é fonte de problemas, que Jesus os dispensasse. Aí nessa hora vem um sentimento muito bonito de Jesus. O evangelista nos diz que Ele sente compaixão do povo e que não os mandará embora. Mais ainda, Jesus rola a bola para os discípulos: que eles mesmos lhes dessem de comer.

O Senhor, na sua pedagogia, ia ensinando os apóstolos sobre a maneira como deveriam agir dali por diante. Mais do que esperar do céu por um lado, ou dispensar as pessoas pelo outro, seria a própria comunidade de seus seguidores a provedora do alimento aos necessitados. É a forma genial de lhes mostrar que já não são mais crianças, dependentes dos pais que lhes oferecem pronta a comida. Agora, adultos, serão eles que com seu serviço e generosidade, deverão ter compaixão do povo faminto e alimentá-lo.

A comunidade dos discípulos missionários não é feita de gente alienada, incapaz de sentir as necessidades dos outros. Ela precisa ser composta de pessoas que trazem dentro o sentimento do coração de Jesus, a compaixão. Ser cristão,  muito além do que ter dó dos pobres, é sentir compaixão por eles.

Ter compaixão é, não sendo pobre, fazer-se com o coração pequeno, para sentir como eles sentem e assim poder, na mesma sintonia, sem humilhá-los, oferecendo a sobra de “cima para baixo”, dar do que tem de igual para igual. Esmola no seu sentido original significa a mesma coisa que ter compaixão.

Quem sabe, amedrontados com o sentido tão profundo e significativo desse trecho, acostumamo-nos a ver nessa passagem não a partilha generosa de todos, mas a espera que Jesus (ou os céus) produza aquilo que nós mesmos é que devemos suprir.

Para entender melhor esse ponto, imaginemos um grupo de amigos que planeja um piquenique. Combinam que cada um levará algo para ser posto à mesa comum. É possível ao menos conceber que faltará comida? Indagando-se de outra forma: quem de nós já viu uma reunião desse tipo, na qual cada um leva algo para partilhar e que não tenha, ao seu final, sobras? Que se tenha que retornar com comida de volta?

Há dois tipos de alimento. O mundo tem fome dos dois. O pão que alimenta a barriga e o outro que é comida para a vida eterna. Ao fazer com que pão e peixe se multipliquem, Jesus quer que sigamos mais além do sentido da matéria. Há muita gente com fome e é preciso comer para se viver. O dar de comer, sem dúvidas, que é fundamental.

Mas é necessário também prover o mundo do segundo tipo de pão. O pão vivo que se faz Palavra e comida para a felicidade que nunca acabará. É preciso que na compaixão, para a qual o Senhor nos impele, não nos contentemos somente com seu primeiro estágio, o do pão físico. Deus quer nos levar para bem além dele.

Como cristãos sabemos que vivemos nesse mundo de passagem. Éramos até reconhecidos no início do cristianismo como o “povo do caminho”. Estamos na estrada e nela precisamos parar de vez em quando para comer. Acaso fôssemos mais generosos haveria gente sentindo falta no nosso entorno? Ampliando a questão, fôssemos cada um de nós, famílias, comunidades, bairros, cidades, países mais, não será preciso dizer cristãos, mas solidários existiria gente morrendo de fome?

Pistas para reflexão durante a semana:

- Até que ponto espero que Deus resolva o problema da fome no mundo?

- Tenho compaixão, ou dó das pessoas?

- Como levar o pão da Vida, Jesus, às pessoas mais próximas?

1ª Leitura – Is 55,1-3
Assim diz o Senhor: Â vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga. Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa? Ouvi-me com atenção, e alimentai-vos bem, para deleite e revigoramento do vosso corpo. Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida; farei convosco um pacto eterno, manterei fielmente as graças concedidas a Davi.

2ª Leitura – Rm 8,35.37-39
Irmãos: Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou! Tenho a certeza que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente nem o futuro, nem as forças cósmicas, nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer, será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Evangelho - Mt 14,13-21
Naquele tempo: Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: 'Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!' Jesus porém lhes disse: 'Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!' Os discípulos responderam: 'Só temos aqui cinco pães e dois peixes.' Jesus disse: 'Trazei-os aqui.' Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes,
ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões. Todos comeram e ficaram satisfeitos, e dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 21/07/2011
Alterado em 01/08/2020


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