Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Como salvar um casamento em dificuldades? Dez pontos para reflexão.

Minha querida amiga,
Paz!

Agradeço a sua carta me relatando suas dificuldades no casamento. Daqui posso imaginar a dor e tristeza que está vivendo. Fala-me, angustiada, das várias brigas, das fugas dele de casa e dos seus interesses diferentes que têm feito com que você e seus filhos sofram. Ao final me faz uma pergunta difícil: o que fazer para salvar o seu casamento?

Tentarei lhe dar algumas pistas (serão dez) para a sua reflexão, mas desde já é preciso que fique bem claro que será você a discernir e avaliar como deverá conduzir a questão daqui para frente.

1- Os sonhos - Quando nos casamos carregamos uma série de sonhos comuns. O primeiro e mais óbvio deles é o próprio casamento. Mas há outros. Ter filhos, comprar um apartamento, um carro... Repare que na medida em que os vamos alcançando eles deixam de ser significativos. Será necessário então buscar novos sonhos conjuntos para preencher a lacuna daqueles que se tornaram realidade. Não tê-los fará com que cada um crie seus próprios sonhos pessoais e neles o outro não estará incluído. Criem sonhos comuns. Trabalhem por eles de uma forma participativa e cúmplice.

2 - A vida a dois – Viver a dois não é simples. As menores coisas podem vir a ser geradoras de conflitos. Conheço um casal que brigava por causa da maneira como o outro apertava a pasta de dente. Dentro da vida de casal é necessário que se ceda em algumas coisas para que se seja feliz. Mas atenção. Não dá para ceder em tudo. Caso faça isto será a mais infeliz das mulheres. Há muitas que fazem isto em nome do amor e que acabam deprimidas e o que é pior, sem conseguir manter a relação saudável. Casamento no qual um dos dois só cede é doentia. Não levará a lugar nenhum. Aliás, levará ao enterro da relação. Quando se mantém assim é mera figuração. Ali não consegue se manter o amor.

3 – As diferenças – Ao mesmo tempo que são bem diferentes um do outro, há que se ver o casal como um ser complementar. O homem complementa a mulher e esta é complementada por ele. Ambos no mesmo nível de responsabilidade e liberdade. O cabeça do casal não é um dos dois, mas sim o Amor que um tem pelo outro. Valorizar as diferenças é fazer com que se cresça no respeito ao outro. Querer que um seja igual ao outro é empobrecer a relação e matá-la no longo prazo. Ao mesmo tempo em que há que se cuidar para que não haja uma embolação entre um e outro. Para haver Amor há que se ter espaço entre os dois. “Uma só carne” não quer dizer que não coexistam dois indivíduos.

4 – A intimidade e a cumplicidade. Para existir o casal necessita ter intimidade e desenvolver sempre mais a cumplicidade. Por isto não pode haver mentiras e nem jogo duplo na relação. Intimidade é respeitar o sentimento do outro e querer partilhar com ele não só as dúvidas e as dificuldades, mas também as alegrias e vitórias. A intimidade precisa ser cultivada não somente no quarto, mas também em outros cenários da vida. É comum ver casais que, depois de casados, não mais parecem ser íntimos. Andam por aí separados e até parecem não se conhecer. Não fazem uma carícia no outro e nem sorriem entre si. Isto é muito triste e vai minando a saúde da relação.

5 – A alegria. Casal triste é o mesmo que casamento em séria crise. Cultivem com bastante carinho a alegria. Riam do que lhes aconteça e até de si mesmos. Sejam alegres aceitando a vida como dom de Deus, dando graças a Ele todos os dias pela alegria de poder estar um com o outro. Na alegria de um é preciso que esteja presente a do outro. Por isto (faz parte também da cumplicidade) exerçam a empatia não só nos momentos difíceis, mas vivam-na também na alegria comum do dia a dia.

6 – O respeito. Não existe casamento sem que haja respeito mútuo. A perda dele é o primeiro fator do desmantelamento da relação. Cuidado com a violência. Ao falar esta palavra pode ser que nos venha à mente a questão da violência física. Também para essa é preciso se estar atentos. Mas cuidem também de cuidar para que não caiam na dura violência das palavras e muito menos na agressão moral ou até naquela outra que muito machuca, a do silêncio. Reflitam primeiro sobre o que irão dizer para o outro. Nos momentos de raiva, avaliem se valerá a pena falar algo, ou se será melhor deixar para outro momento a discussão.

7 – A crise. Da mesma forma que não existe casamento sem amor, ele não sobrevive sem as crises. Elas sempre acontecerão e que bom que seja assim. Costumo dizer que precisamos ter cuidado com casais que nos relatam nunca brigar, ou mesmo que afirmam que nunca tiveram uma crise. É bem provável que estejam vivendo uma relação bem rasa. Ela está ficando tão na superfície que nada incomoda nem chama a atenção do outro. Muito cuidado porque o medo do conflito poderá fazer com que ele, de maneira oculta, cresça tanto que um dia, quando explodir, não dará para se salvar mais nada.

8 – O diálogo. Dialogar sempre. Casal que não se comunica se ‘estrumbica’, diria o apresentador de televisão. Dialogar não é discutir. Na discussão é bem comum que um fique falando enquanto o outro prepara argumentos para retrucá-lo. Ao estar com a cabeça se armando para responder, deixa-se de entender os motivos e aborrecimentos do outro. Escutar não é só com os ouvidos. Implica em se colocar de prontidão o corpo todo. Ouve-se, mais do que com eles, com o coração. Coloquem-se atentos um ao outro. Não deixem que os problemas cresçam. Tratem-nos antes através do diálogo aberto e franco.

9 – O crescimento. O casal precisa crescer junto. Não é raro se encontrar por aí casais totalmente disparatados na questão do crescimento. Enquanto um cresceu, o outro continua nanico com as mesmas problemáticas que tinha na época do casamento. Cuidado, porque quando um cresce e o outro fica estacionado é muito difícil que haja diálogo e que a relação se mantenha de forma estável. Quando falo em crescer não estou tratando dos aspectos financeiros e econômicos, mas sim do crescimento como pessoa e casal. Depois de uns anos de casados os dois precisam ter crescido para que a relação entre eles também se desenvolva. Cuidem-se mais um do outro. Casal cuidadoso entre si é casal em crescimento.

10 – O Amor. Ah, como ele é frágil. Podemos imaginá-lo como uma vela que ao menor sopro pode se apagar. Ah, como ele é forte. Agora imaginemos que a mesma vela pode incendiar o mundo. O Amor tem esse tipo de constituição. Requer muito cuidado na sua imensa fragilidade, mas quando bem tratado, é capaz de incendiar os corações dos amantes completando-os e fazendo-os felizes. Deus é amor, por isto quem ama está em Deus. Que bonito é isto. Para que o casamento se mantenha é necessário também haver vida espiritual. Sem vida espiritual, colocar o Amor de vocês dois em sintonia com o Amor maior de Deus, acabaremos nos sonhos somente de “coisas” e esses não são capazes de preencher a vida do casal. Cuidado para não confundirem amor com paixão. A paixão cabe no amor, mas esta passa e é o Amor que permanece. Ele é muito maior e profundo. Não tem medidas. Quanto mais se ama, mais se será capaz de amar. Outra característica do Amor é que ele transborda. Primeiro nos filhos, depois nos amigos, família... todos se favorecem quando há um casal que se ama.

Querida amiga, é o que pensei em lhe escrever na tentativa de ajudar para que veja se o seu Amor ainda floresce ou já é cinzas. Caso o seja, lembre-se que sempre há a possibilidade da ressurreição. O meu abraço fraterno e as minhas orações,

abraços,
Fernando.

www.genteplena.com.br
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 21/07/2011


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras