Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra do 19º Domingo do Tempo Comum - Ano A – Não tenham medo!
 Depois da multiplicação dos pães, Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho. A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: 'É um fantasma'. E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: 'Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!' Então Pedro lhe disse: 'Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro,
caminhando sobre a água.' E Jesus respondeu: 'Vem!' Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e começando a afundar, gritou: 'Senhor, salva-me!' Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: 'Homem fraco na fé, por que duvidaste?' Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. Os que estavam no barco, prostraram-se diante dele, dizendo: 'Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!' Mt. 14,22-33

 
Felizes e confiantes, os meninos curtiam a primeira oportunidade de dormir junto à natureza. Montada a grande barraca, prepararam o jantar, brincaram e cantaram em volta da fogueira, admirando os  lindos pontos de luz do céu. O vento forte chegou de uma vez, varrendo do firmamento as estrelas e a lua. O céu, negro agora, era iluminado pelos raios e eles começaram a ter medo. Correram para a barraca e logo viram que ela não lhes dava tanta segurança. O toldo, obediente às rajadas de vento e chuva, parecia mais uma bandeira desfraldada. O professor que os acompanhava, ensopado, esforçava-se para lhes passar confiança. A tempestade logo cessará e, daqui a pouco, riremos desta situação, dizia. Um menino imaginou estar mais seguro no carro e correu em direção a ele. Transpôs a primeira enxurrada, mas quando se viu diante de outra percebeu a impossibilidade de atravessá-la. Aquilo era um rio de lama roncando forte em meio às pedras. Quis voltar, mas atrás de si a correnteza tinha dobrado de tamanho. O mestre amarrou-se numa árvore e esticou o braço no afã de puxar o garoto. Conseguiu agarrá-lo, mas o menino duvidou e largou a mão pensando poder se virar só. No primeiro passo, perdeu o chão e afundou, sendo levado pela correnteza. O professor gritou: “confie em mim; segure minha mão”. O garoto enfim acreditou e assim foi salvo. Passado o perigo comentaram sobre o acontecido, enquanto secavam as roupas ao fogo. Nessa noite eles puderam refletir sobre o poder da confiança. 

Nos tempos calmos, sem grandes problemas ou crises, corremos o risco de nos achar plenamente competentes para tocar a vida. Curtindo as coisas boas, não percebemos que a tempestade pode chegar a qualquer momento.

Ao aparecer, assustados, nos damos conta de que sozinhos podemos quase nada. Sem a mão de Deus a nos segurar, afundamos rápido nas tempestades da existência. É deste tema que o evangelista Mateus nos fala neste domingo.

Enquanto está tudo bem e o “barco” da nossa vida navega tranqüilo, a gente nem se dá conta de que Jesus ficou lá na margem. Mas, chega a noite e as ondas se encapelam. Então, caímos na realidade: sem Ele nada podemos! Jesus não precisa vir em pessoa para nos pegar. As mãos dos outros, nos ajudando, tornam-se as mãos de Deus! Quem se basta nunca segurará a mão do irmão e nem, consequentemente, na do nosso Senhor.

As noites da vida trazem medo e acabam por abalar a confiança em Deus. Crer nele é saber-se protegido. Estar no “barco” com Jesus é sentir-se seguro e, então, se faz até possível caminhar sobre a turbulência das águas. A fé nele, mesmo que esteja vivendo aquele momento em que “as águas do mar da vida queiram te afogar”, é mais do que suficiente para manter cada um na superfície.

Para adentrarmos na dimensão da fé proposta e representada nessa passagem, convido-os a refletir sobre três pontos: a ordem de Jesus aos discípulos para segui-lo até a outra margem; a subida dele sozinho ao monte para orar e o chamado a Pedro encorajando-o a experimentar a fé, caminhando até Ele:

1 - Jesus manda os discípulos irem à sua frente para a outra margem. Os seguidores não ficam parados, devem ir adiante. Esse convite também nos é feito. A margem na qual nos situamos é óbvia, mas aquela outra, para a qual Ele nos chama, pode ser que não a vejamos.

Peçamos a Jesus a consciência a respeito da direção para a qual Ele quer nos enviar. Ser cristão é buscar sempre a outra margem, apesar das crises. Será em meio às dificuldades que poderemos provar verdadeiramente a nossa fé!

2 - Jesus envia os discípulos para a outra margem e sobe o monte para orar. Antigamente, alguns até pensavam que Ele, por ser Deus, não precisava rezar. Fazia-o, só para piedoso exemplo. Ledo engano! Jesus sentia, como nós, a necessidade da oração. Orava, pois precisava da intimidade do Pai.

Para “andar sobre as águas” precisamos ter vida de oração. Sem ela e no meio da noite, nos assustaremos sempre com os fantasmas da descrença.

3 - O Senhor chama sempre, mas ouve-se melhor o convite em meio às crises: a perda da saúde, do emprego, um ente querido que se vai, a honra enlameada, o fracasso no casamento... Nas tragédias vem a consciência da fragilidade e a fé se vê questionada.

Nessa dura hora é preciso ver que Jesus nos acena a dizer: “Acredite em mim. Vamos, salte na água e venha”. Caminhar é sair de si e lá fora encontrar o outro. Esse movimento para o exterior carrega para o cristão o significado de crescimento.

Pistas para reflexão durante a semana:

- Para aonde Jesus quer que eu vá? Tenho clareza da mudança que Ele me pede? Qual é a outra margem?

- Como está a minha vida de oração? 

- Tenho usado as crises para o crescimento, ou me perco em meio a elas?


1ª Leitura – 1Rs 19,9a.11-13
 
2ª Leitura – Rm 9, 1-5

Evangelho - Mt 14,22-33  


Caso queiram receber os comentários da Mesa da Palavra, envie-nos um e-mail que teremos prazer em inseri-lo em nossa lista: fernandodiascyrino@gmail.com

www.genteplena.com.br
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 02/08/2011
Alterado em 08/08/2020


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras