Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


A saudade machucava como doem os dedos dentro de sapatos apertados. Desde aquele dia nunca mais o vira. A princípio não pensara nada. Vez por outra ele saía permanecendo alguns dias fora. Foi trabalhar, ela dizia quando perguntada.

A ansiedade expressada no aumento das guimbas largadas no cinzeiro, escondido no xaxim da samambaia, os telefonemas em voz baixa quando ele estava por perto e principalmente os olhos vermelhos foi que denunciaram haver algo fora do lugar. Antes lhe relatara pedaços de versões que não compreendia bem. É possível que tivesse medo de indagar diretamente o que tinha havido.

Ano passado, ao completar doze anos, foi que tomou coragem e perguntou por que ele nunca voltara. Ela lhe respondeu não saber. Que saíra para comprar pães e um litro de leite, que a padaria era próxima e até aquele momento não havia retornado. Os pés cresceram, mas é como se não tivesse ganhado sapatos novos. A saudade continua doendo muito.

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 13/08/2011
Alterado em 12/01/2016


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