Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra Somos os responsáveis por gerir a obra do Senhor - 27º Domingo do Tempo Comum Ano A – Mt 21,33-43

Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro. Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram. O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma. Finalmente, o proprietário, enviou-lhes o seu filho, pensando: `Ao meu filho eles vão respeitar'. Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: `Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!' Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram.Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?' Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: 'Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo.' Então Jesus lhes disse: 'Vós nunca lestes nas Escrituras: `a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos'? Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos. (Mt 21,33-43)

Um grande rei, homem extremamente bom, possuía um projeto para propiciar plena felicidade aos súditos. Reuniu então os amigos e convidou-os para administrar seu programa. Eles aceitaram, mas o poder lhes subiu à cabeça e começaram a usar os bens disponíveis na obra para si próprios. O rei observou o que acontecia, enviando emissários para relembrá-los do plano original, mas eles não ouviam. Ao contrário, agrediam-nos e os expulsavam.Tomou então a decisão de enviar seu filho, na expectativa de que a ele os amigos ouviriam, mas qual nada. Eles o mataram.

O evangelista Mateus nos apresenta neste domingo uma parábola de Jesus que é tremendamente atual. É que nós todos, seres humanos, somos os responsáveis pela grande obra do Senhor. Um projeto maravilhoso capaz de trazer o bem a todos e é disto que Jesus está a nos dizer através dessa historinha. 

O grande problema é que nos esquecemos da sua finalidade e gerenciamos o que nos foi delegado (a obra de Deus) como se fôssemos os donos. Só que basta um rápido olhar em volta, para nos darmos conta da incompetência humana, quando nos arvoramos em senhores da criação.

Da mesma maneira que na parábola, o Senhor não se cansa de enviar mensageiros, alertando para as coisas erradas na sua obra. Como os administradores da vinha, sentimo-nos proprietários e na auto suficiência, costumamos fazer ouvidos de mercador às suas interpelações. Como os profetas não se calam, tornam-se incômodos e aí os expulsamos e até somos capazes de eliminá-los.

Quem são esses mensageiros de Deus hoje? Pode ser que achemos que eles nos venham da hierarquia, ou de fiéis piedosos de dentro da Igreja. Precisamos ter olhos atentos, para captar os sinais dos tempos e percebê-los também fora, dentre os milhões de sofredores. Gente gerada pelos desmandos humanos na administração da vinha do Senhor.

Todos que, de alguma maneira, nos apontam a insanidade do pecado estrutural, devem ser vistos como portadores dos recados de Deus. Nesse olhar mais profundo, veremos que são profetas os que sofrem violência, as pessoas abandonadas e todo o povo excluído da sociedade. Na dor que carregam são sinais de que precisamos de conversão. Não só os maiores dirigentes da “vinha”, mas também nós, pequenos operários e líderes dela. .

Quem são os expulsos da vinha hoje em dia? Esses são os que não encontram trabalho digno. São também os homens e mulheres que não tiveram oportunidade para se desenvolver como cidadãos, porque lhes foi negado o acesso ao cuidado e à educação. Tantos que desde o ventre já eram excluídos, daquilo tudo que a obra do Senhor oferece.

Dentre muitos outros, inserem-se também como expulsos da vinha, os esfomeados e que sofrem frio enquanto para nós, aqueles que de alguma maneira administramos a seara, em nome do Senhor, têm pão de sobra, casa e cobertores.

A expulsão da obra também se dá pela morte de crianças e jovens, pela violência das armas, das drogas, da ignorância, do aborto, da miséria, da fome e da discriminação. São esses os novos filhos do dono da vinha, a sofrer com o uso indevido do seu poder pelos administradores, que deveriam servi-los.

O pecado aparece ainda mais contundente, quando se observa que os resultados do trabalho na vinha do Senhor, ao invés de serem investidos nas pessoas, o foram em proveito próprio dos gestores em armas, corrupção, mordomias, obras faraônicas para a elite e tanta coisa mais.

Esse proceder egoísta expulsa mais e mais levas de gente.
É muito fácil e cômodo meditar a parábola, mantendo-a em distantes - bucólicas e idealizadas - plantações de uva. É preciso contemplá-la na concretude da grande vinha do mundo, a partir do lugar específico que nela ocupo.

De uma maneira ou de outra, todos somos parte dessa teia imensa produtora de exclusões da seara do Senhor. A partir da constatação dessa realidade, cabem-nos dois passos para adiante: pedir perdão e converter-nos é o primeiro. O segundo, conseqüência do anterior, consiste na transformação pessoal, humanizando-nos para que sejamos administradores fiéis, dos planos de amor e misericórdia do Pai.

Pistas para reflexão durante a semana:

- Que parte tenho na administração da vinha?

- Nela tenho sido inclusivo, ou sou dos que buscam exclusividades?

- Sinto-me parte da grande teia do pecado estrutural na vinha do Senhor?

1ª Leitura – Is. 5, 1-7


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 26/09/2011
Alterado em 03/10/2020


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