Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


O menino, a cutia e o quati.

Dois bichos brigavam debaixo da mangueira. Contei na escola e a professora fez um olhar de não se estar acreditando. Os meninos perceberam e até me chamaram de maluco, senhora soube? Era um quati e uma cotia se estranhando por uma manga.

Alguma temporona que no pé até agora não vi nenhuma que tivesse pelo menos um pimpimpim que seja de amarelice. Tudo verde parecendo folha gorda. A cutia batendo as patinhas traseiras no chão e o quati de pé, de jeito de parecer bicho maior.

Fiz torcida pela cotia, mas sabe quem foi que levou a manga? Pois foi o quati. De uma corrida estava lá no alto da goiabeira saboreando o troféu e dando umas risadinhas de banda pra cutia. Essa, eu reparei que já tinha se esquecido da querela e andava num pra lá e pra cá à caça de outros de comer.

Por que não aprecio assim os quatis? É porque esse é bicho dos intrusos. A gente vai dando as liberdades pra eles e cada dia vão chegando mais perto da porta. É a cozinheira ir apanhar uma cebolinha na horta, ou jogar uns restos pra os porcos, que lá se vão broas, bananas e biscoitos.

Uns são ainda mais danados e na voracidade deles não respeitam nem quentura. Quando se dão conta da burrada, têm patinhas queimadas na trempe do fogão de lenha. Encontrada panela aberta enfiam, sem nenhum dá licença dona, a mãozinha. Saem correndo dando uns gritinhos pra dentro que nem se consegue escutar, lambem com força umas muitas vezes as mãos e logo estão serelelepando de novo.

Das cotias gosto bastante. Bichinho mimoso e que até nem devia ser assim arisco e cuidadoso de não deixar criar intimidades. Senhora já reparou como o pelinho delas brilha no sol? Há uma velha, pras bandas da Serra Torta, que tem uma no quintal. Pegou filhote de olhinho fechado e criou na mamadeira de leite com fubá.

Hoje vive igual cachorro. Só latir ainda não se reparou. Mas anda atrás dela até quando vai às rezas na Igreja. Na hora em que algum cachorro dá um sai pra lá nego nela, a cutiazinha corre pra o mato e de lá fica esperando a velha sair pra voltar bonitinha, numas carreiras curtas, assim atrás dos passos dela.

Contam por aí que a velha quer agora arrumar um outro filhote na mesma época em que a gata tiver filhotes. Vai por o bichinho nas tetinhas dela pra ser criado assim gatinho mesmo. O povo anda falando que o sonho dela é ver uma cutia subindo em árvore, senhora acredita?
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 18/10/2011
Alterado em 11/12/2016


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