Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Meu caro Rogério,
Paz!

Você me conta que ao rezar sente grande dificuldade de se fixar na oração. Vem, como em ondas um tanto de pensamentos fazendo com que fique disperso. Este fato faz com você sinta dúvidas se a oração que faz possui valor para Deus.

Quero começar a minha resposta pelo final. Claro que a sua oração tem valor para Deus. Você acha que Deus não irá valorizar aquilo que lhe chega do coração de um filho querido? A gente precisa sempre relembrar que Deus é capaz de salvar qualquer coisa que a gente faça. Sendo assim, muito mais ainda na oração, a conversa que temos com Ele tem méritos e é recebida pelo Pai na infinidade do seu Amor.

Quanto à questão da dispersão, que é o nome que damos ao fenômeno da imaginação ficar voando quando se está orando, valerá também refletir um pouco a respeito dos seus porquês. Quero então lhe sugerir um caminho de oração para que se sinta mais preparado para fugir delas. Use-os tanto quanto sinta que possam ajudá-lo a rezar melhor. Tomara que seguindo esses dez passos você consiga tornar, a cada dia, ainda mais íntima, profunda e significativa a sua oração. Vamos a eles:

1 – Para rezar bem é necessário se preparar. Afinal na oração estaremos acolhendo no coração aquele que amamos e que também nos ama infinitamente. Ajuda na preparação da oração a escolha de um bom local, tranqüilo e no qual não vá ser incomodado. Pode se criar também um ambiente adequado para auxiliá-lo a rezar (uma vela, uma cruz, uma imagem..) Defina o tempo, quantos minutos estará rezando.

2 – Para se colocar na presença do Senhor tome uma posição confortável e que não vá lhe gerar incômodo. Ficar desconfortável só fará com que a dispersão se aproxime mais rápido. Respirar fundo umas três ou quatro vezes costuma também ser interessante.  
 

3 – Faça uma oração preparatória. Quem sabe um Pai Nosso, uma Ave Maria, ou mesmo algo que lhe brote do coração. Lembre-se que rezar é buscar a intimidade com Deus, valerá então usar palavras simples e que tenham para você (e para Deus) real significado.

4 – Seja uma meditação de um texto bíblico ou algum outro que possa remetê-lo ao encontro daquele que é o Princípio e fundamento da sua vida, leia-o devagar, repita a leitura parando naquela palavra ou ponto que lhe deu sabor. Não precisa rezar ou ler tudo. Pare onde sinta que Deus queira lhe falar. Escute, fale, dê graças, peça, louve... Faça aquilo que o coração mandar. Seja o que for fazer, reserve algum tempo para a escuta de Deus. Costumamos falar demais e quando Deus vai nos dizer algo pode ser que tenha acabado o tempo definido de se estar com Ele.

5 – Pode ser também que vá rezar orações já tradicionais da nossa fé, como o Terço, por exemplo. Nesse caso vale o mesmo: rezar devagar, meditando os mistérios a que está se propondo. A oração de repetição funciona como mantra que, na medida em que a vamos fazendo, vamos nos aprofundando como numa espiral descendente, no mistério amoroso de Deus.

6 – Caso apareçam os tais pensamentos indesejados, aos quais costumamos dar o nome de dispersão, o que pode fazer é conceber que bem do seu lado há um cesto. Assim que venha então o pensamento, imagine-se colocando dentro dele o assunto que lhe está fazendo fugir da oração, fazendo o propósito de cuidar dele assim que terminar o colóquio com o Senhor.  

7 – Para alguns costuma também ser de grande auxílio escrever num papel, em poucas palavras para não perder tempo da oração, o assunto que lhe está vindo da dispersão, para que após o término da oração possa cuidar dele.

8 – Naqueles casos em que, mesmo se tomando esses cuidados, a dispersão continuar a vir, avalie se não seria o caso de mudar a oração e então passar a rezar a própria dispersão. Quem sabe Deus não lhe está pedindo para orar aquilo que lhe está vindo à mente de maneira recorrente? Saiba que a dispersão pode muito bem ser a vida querendo ser rezada. Aliás, nunca separe a vida da fé. Oração nunca pode ser fuga ou alienação. Ela é a vida e a vida, consequentemente, passa a ser também oração.

9  – Antes de sair do tempo que definiu para a sua oração deixe reservado um momento para se despedir do seu Senhor. Hora de marcar então com Ele um novo encontro (dia, hora e local). Ideal mesmo é que a gente reze todo dia. Quando se ama quer se permanecer junto do amado, não é verdade?

10  – Avalie a oração que termina de realizar. Veja o que poderá ser melhorado da próxima vez. O que não fez sentido no que orou e que precisará rezar de novo, bem como aquilo que lhe deu tanta consolação que gostaria de continuar rezando, se houve dispersões e nesse caso se possui clareza quanto ao seu significado. Caso se esteja envolto, por exemplo, em meio a uma grande crise emocional é óbvio que ela aparecerá na oração.    

O meu abraço fraterno e as minhas orações, na expectativa de que posso também contar com as suas,
Fernando.  
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 07/11/2011


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