Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Meu casamento corre perigo. Não sinto amar meu marido e para piorar ainda mais as coisas, surgiu uma terceira pessoa entre nós com a qual acabei me envolvendo. 
Preciso de ajuda e oração.


Minha querida Júlia,
Paz!

Daqui distante posso sentir quanto sofre seu coração e é nesse sentido que me ponho em oração para que alcance novamente a sua paz. A vida é fruto das decisões que tomamos, muitas vezes em tempos nos quais ainda se era imaturo. Tentados pelo momento presente e na ânsia de agradar, acabamos decidindo por caminhos que podem se mostrar lá na frente verdadeiros becos sem saída. Pelo seu relato parece-me ser esta a situação na qual se sente imersa.

Onde Deus está nisso tudo? Esta é a pergunta que me sinto chamado a lhe fazer neste momento. Em tudo que acontece é preciso descobrir Deus. Buscar e tomar consciência dessa presença dele em meio às crises (e também em momentos de alegria e realização), poderá dar às coisas que parecem tão escuras uma luz. Nesse clarão será mais fácil ver todos os aspectos da situação na qual você se encontra para, a partir daí, discernir qual é a vontade do Senhor para a sua vida.

Deus é bom. Ele é todo Amor e misericórdia e por causa dessa sua essência de compaixão e bondade só é possível que queira o bem e a realização dos seus filhos. Veja também por aí a importância que é a descoberta do sentido de Deus na sua história. Minha amiga, não existe opção sem que se tenha que deixar alguma coisa. A decisão por seguir uma estrada levará automaticamente a deixar de trilhar inúmeras outras, sendo que muitas delas, sem dúvidas, nos seriam bem prazerosas. Não dá, aqui na terra, para querer tudo.

Na verdade você fez uma opção clara e definitiva (até que a morte separe) há quinze anos. Daí que mesmo a simples possibilidade de qualquer nova decisão a ser tomada, terá que levar em conta aquele compromisso assumido perante Deus, seu marido e a comunidade. Feita esta introdução, quero lhe propor um caminho de seis pontos para que os siga e busque sentir, através deles, esse sentido de Deus do qual lhe falo acima.

1- Na carta que me escreve é interessante notar que em nenhum momento você usa a palavra “amor”. Achei esse um dado significativo e gostaria de entendê-lo como um cuidado que teve (consciente ou mesmo inconscientemente) em preservar esse sentimento divino em meio ao conflito existencial no qual está mergulhada. Daí que também quero lhe perguntar se essa paixão não seria um mero “tapa buracos” pelas carências que está vivendo no casamento? As relações ou crescem ou diminuem. Repare como elas nunca são estáticas. O fato de haver chegado um “terceiro” nela é prova de que havia brechas que não estavam sendo supridas. Que espaços eram esses? Até que ponto você colaborou para que se instalassem e crescessem?

2- Será que vale a pena alimentar esse novo relacionamento, ou não seria mais prudente e inteligente renunciar a ele afastando-se de toda situação que possa gerar encontro com tal pessoa? Lembre-se do que lá em cima lhe disse. Não existe opção sem renúncia. Que tal buscar usar a crise como fator de descoberta do seu esposo? Com isto quero lhe sugerir que pode estar aí o sentido de Deus nessa história. Buscar ver nele o verdadeiro Amor da sua vida. O sofrimento pelo qual essa situação está fazendo com que passe poderá ser, também para ele como está sendo para você, fator de crescimento e amadurecimento. Da dor e da noite de uma crise assim poderá surgir a beleza e o sol de um novo amor.

3- Por mais iludida que estivesse, mesmo por mais imatura que fosse à época do matrimônio, não é possível que tenha casado sem que visse pelo menos algo de interessante e belo no seu marido. Não seria esta uma bonita oportunidade de redescobrir aquilo que a fez se aproximar dele? Ou caso tenha sido esse o caso, de deixar que ele se achegasse ao seu coração, aceitando a sua corte? O que viviam, faziam, ou sentiam que lhe dava prazer? Deve ter havido uma série de coisas que a encantaram. Busque essas coisas nas memórias e voltem a fazê-las. Tirem tempo só pra vocês dois e namorem. Sim, essa é a hora de resgatar o namoro que tinham. O convite que Deus pode lhe estar fazendo é para que resgate esse encantamento.

4- Busque alguém maduro, quem sabe um casal, aí mais perto de você, para refletir sobre esta sua história. Que seja alguém que acredite no Amor e que o viva profunda e intensamente. É fundamental que seja também alguém de absoluta confiança. Converse com ele, ou com o casal, sobre a sua dificuldade no casamento. Quem sabe essa, ou essas pessoas, poderiam lhe ajudar a perceber novas abordagens e outras faces dessa questão tão complexa e que não estejam sendo vistas por você.

5- Criem sonhos conjuntos. Lutem e trabalhem duro por eles. Sonhos que se conseguem facilmente não costuma ser bem valorizados. Proponho-lhe aqui um exercício. Feche os olhos e ponha-se no ano de 2050 (com que idade estará?). Veja-se então a contar para seus netos essa decisão que agora irá tomar. Imaginando-se idosa, na sabedoria que terá adquirido daqui até lá, saberá qual será a melhor opção que terá feito feliz e realizada, não é mesmo? Será ter atendido à essa paixão momentânea e que no curto prazo parece tão agradável? Ou manter o seu casamento, descobrindo nele novas alegrias e prazeres?

6- Coloque nas mãos de Deus o problema. Não queira decidir sem levá-lo em consideração. Ele, que a está acompanhando, como ao seu marido e filho, é o único capaz de compreender totalmente o coração humano. Reze, não somente sozinha, mas convide o seu esposo para que reze juntamente com você. Busque nos sacramentos a força para superarem a crise, leve-o e também ao seu filho juntos. Participem mais da comunidade, não só como casal, mas também enquanto família. Havendo um grupo de casais na cidade onde moram, não deixem de participar. Criem novas atividades em comum, reforcem as amizades boas e que possam ajudá-los a superar essa dolorosa questão.

Amiga, por último quero lhe fazer um pedido. Que a separação seja a última opção a ser considerada por vocês dois. Que seja avaliada caso o matrimonio de vocês só seja capaz de gerar infelicidade para os envolvidos nele: você, marido e filho. Isto porque já não é hora, definitivamente, de se agradar aos velhos, não é mesmo?

Daqui fico rezando para que sua decisão leve à felicidade de vocês. Caso queira continuar a conversa, estou aqui às suas ordens. Abraços na certeza do Amor e da bênção de Deus para vocês,

Fernando.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 09/11/2011


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