Restaurar a família é o meu objetivo. Meu marido saiu de casa há mais de seis meses por causa de outra pessoa. Sinto-me, como agora, desanimada e perdida. Meu casamento tem chances? O que posso fazer?
Minha querida Sandra,
A paz!
Como é difícil a vida nessas horas escuras em que vivemos a incerteza do Amor, não é mesmo? Parece que tudo perde o gosto e o sabor. Fosse somente isto, mas junto chega também essa sensação de insegurança de se estar vivendo na corda bamba que me relata. Como para mim é gratificante notar a sua perseverança na luta pelo seu longo casamento. E isto apesar de já há seis meses o seu esposo ter abandonado o lar para seguir atrás de uma paixão.
Na carta que me enviou você me diz da existência de um impasse. Seu esposo não se resolve entre permanecer com você ou assumir definitivamente a outra relação. Não teria chegado já o tempo de uma cobrança mais direta e assertiva dele a respeito de uma posição quanto a compromisso que ele tem com você? Repare que este é um direito seu e dos seus filhos. Ninguém merece continuar vivendo por um tempo indeterminado a angústia da incerteza de não se saber se há ou não um casamento.
Deus nos fez para a felicidade e a completude e é por isso que está lutando. Ao mesmo tempo somos criaturas plenamente livres e não mandamos, definitivamente, no coração do outro. Dizendo isto de outro modo, é algo impensável a exigência de que alguém nos ame. Chega um momento em que é preciso também respeitar a decisão do outro – bem como a contrapartida de se exigir que ele respeite também a nossa – Não estaria chegando esse tempo para você?
Quem sabe o fato de ter tomado coragem enviando-me a correspondência não seja já um indício claro disto? Vá então em frente nesse propósito de conhecer a verdade dele quanto à real situação do casamento de vocês.
Coração é espaço misterioso e quando acontece a entrega dele é preciso que haja reciprocidade. Esse dar e receber no relacionamento de vocês aconteceu por quase 30 anos, entre namoro e casamento, mas agora não está ocorrendo mais. Hora então de reavaliar a caminhada e ver como você quer conduzir a sua existência daqui para adiante. A certeza que há nisso tudo é que o Amor exige exclusividade, sendo então muito complicada a manutenção de uma relação saudável onde haja a presença de uma terceira pessoa.
Busque o apoio de uma pessoa ponderada e madura, ou mesmo de um casal que os conheça e no qual confiem, para conversar e refletir, buscando ter mais clareza dos passos que precisa dar daqui por diante. Que seja alguém, ou casal, maduro e que acredite profundamente no Amor e no matrimônio. Reflita então com essa pessoa ou casal isso que me conta e que está sentindo e diga-lhes desse seu empenho em buscar uma definição para que possa seguir em frente. Veja que não é só ele que precisa tomar uma decisão, mas também você necessita optar pelos caminhos que irá seguir.
Continue rezando, minha amiga, não deixe de colocar diante de Deus diariamente esse seu problema tão sério e duro. Reze por seu marido para que o coração dele enfim reconheça que não está fazendo a coisa correta e retorne para o lar. Peça ao Pai também a coragem e a força para atuar sobre a questão olhando-a de frente, sem fugir dela para que encontre logo uma solução, mesmo sabendo do tamanho da dor que se oculta por trás da resposta, naquele caso em que ela se dê anunciando o fim do casamento. Você merece saber se está casada ainda, ou se já não tenha chegado a hora de uma decisão por seguir em frente sem ele.
Caso ele volte para casa será um momento bonito e profundo do exercício do perdão. Algo difícil e divino e que, pelo que me relata, você assumiria, acolhendo-o de braços bem abertos. Agradeça a Deus por esse coração generoso que tem. Agora, não se aliene e deixe de imaginar a outra possibilidade que é a dele permanecer com a outra. Nesse caso, em meio à sua grande dor, pode ser que haja o convite para também agradecer pelos quase trinta anos de vida que teve ao lado dele e por todos os frutos havidos na longa relação que tiveram, inclusive os filhos. Que esse final penoso não apague tudo de bom que tiveram e viveram juntos.
Daqui rezo pedindo a Deus por você e sua família, conto também com as suas orações.
Receba o meu abraço solidário e fraterno,
Fernando.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 11/11/2011
Alterado em 11/11/2011
