Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra - Jesus Cristo, Rei Glorioso, virá para recolher toda a história entregando-a no colo amoroso do Pai - Solenidade de Cristo Rei

Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: `Vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar'. Então os justos lhe perguntarão: `Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar?' Então o Rei lhes responderá: `Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!' Depois o Rei dirá aos que estiverem à sua esquerda: `Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. Pois eu estava com fome e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar'. E responderão também eles: `Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro, ou nu, doente ou preso, e não te servimos?' Então o Rei lhes responderá: `Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizestes!' Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna'. Mt 25,31-46

Num país distante um rei governava com o olhar voltado para a paz e a justiça. Tinha um cuidado todo especial com os empobrecidos e marginalizados. Só que o povo, manipulado pela opinião vinda de um bando de poderosos, opositores do rei, começou a achar que ele era muito bonzinho. Que rei mesmo, de verdade, desses de dar orgulho, é aquele que faz guerra e conquista povos, dá poder aos mais fortes. Está sempre lutando para vencer. Afinal, rei que vale a pena, assim refletiam, é algum que tem uma corte com muitas princesas, príncipes e nobres. Catedrais lindas e caras para as suas entronizações e celebrações reais só com os ricos e a corte. Uma "entourage" cara, com a qual se gasta o dinheiro a ser investido em saúde e educação. Então, insuflados pelos ricos, organizaram um levante, levando à frente a cruz, expulsando o rei. Exilado, assistia aos desmandos que por lá eram feitos. Assustava e o entristecia ainda mais, o fato de realizarem aquelas coisas horríveis em nome de Deus. Não precisa nem dizer que aquilo não daria certo. O pior é que os pobres foram os primeiros a sofrer com o novo modelo de reinado. A miséria chegou de uma vez. A fome matava as crianças e as doenças atacavam com toda força aquele povo enfraquecido. Foi aí que se lembraram do velho e justo rei. Trouxeram-no restituindo-lhe o trono. Como os semelhantes se atraem foram se formando, automaticamente, dois grupos em volta do bom soberano. De um lado se postavam aqueles que se alegravam com a sua volta, querendo viver sob sua guarda e proteção. Do outro se posicionavam aqueles que exploraram os pequenos e agora se sentiam incomodados, com medo de perder mordomias, dinheiros gerados pela corrupção e os empregos nos quais, ao invés de servirem à sociedade, buscavam por ela serem servidos. Dentre esses últimos alguns, por jamais terem feito algo para o próximo, tiveram a certeza de que não se adaptariam ao novo governo e assim, um a um, iam dando meia volta afastando-se do trono do grande rei.

Chegamos ao final do Tempo Comum. A solenidade de Cristo Rei nos apresenta o fechamento do discurso escatológico do Evangelho de Mateus, o seu ápice. Trazendo-nos à contemplação o simbolismo forte do final dos tempos, a Igreja vai fazendo a transição. Prepara-nos o olhar e o coração para que entremos mais atentos no período do Advento.

Vivemos numa república, por isto a imagem da realeza não nos é nem um pouco próxima. Também não ajudam em nada os exemplos de reis que podemos observar nos dias de hoje. Além dos atuais, a grande maioria dos que a história nos mostra, não costumam ser modelos edificantes, ou mesmo que tenham sido cuidadosos servidores dos súditos. Rei é muito mais sinônimo de pompa e riqueza ostensiva, do que de serviço ao povo. Costuma ser exemplo de glamour e até de pouco trabalho.

Por isto, para contextualizar a imagem sugerida por Mateus na realidade atual, é necessário nos aprofundarmos no sentido de reinado sugerido no seu Evangelho (bem como também nas leituras de Ezequiel e de Paulo aos Coríntios). O sentido do reinado messiânico traz dois componentes que não devem jamais ser considerados de maneira separada: a justiça e a misericórdia. Estas seguem de mãos dadas no Reino de Amor do Pai.

Além da visão messiânica, para termos uma abordagem mais atual do texto, valerá nos aproximarmos da imagem do Cristo Cósmico. O Rei que vem em toda a sua glória, para recolher toda a criação já sanada e purificada, entregando-a nos braços da justiça e da misericórdia do Pai. Acredito ser esta visão, teilhardiana, que nos propiciará uma melhor compreensão da imagem semita proposta pelo evangelista.

Nomear Jesus como Senhor e Rei do Universo, é a mesma coisa que afirmar ser Ele o condutor da história. É preciso ir além da visão humana, adentrando nas profundezas do olhar da fé, para se crer nesse reinado do Senhor hoje em dia. Envoltos na dura realidade do mundo, a primeira impressão é de que em nada se pode observar o “dedo de Deus” na condução dos destinos do mundo.

Aos olhos da fé é que poderemos observar que não é nada disto. Apesar dos desmandos advindos do pecado pessoal e estrutural na humanidade, nosso Deus está a nos conduzir pela mão. Entramos aí na imagem do rei pastor, tão cara ao povo da Bíblia no Primeiro Testamento.

Celebrar Cristo Rei é tomar consciência de que falta coisa demais para que o Reinado de Deus se faça plenamente entre nós. Atenção, porque esta festa nada tem a ver com a imagem, que infelizmente ainda pode ser vista em algumas partes, de uma Igreja da Cristandade mais preocupada em se defender, e que por isto ataca, procurando se manter para além e acima do mundo. Cristo Rei é Jesus marginalizado e empobrecido e não um morador de algum castelo semelhante ao da Ilha de Caras.

No final de tudo a medida será o Amor. Todo aquele que tiver saído de si e caminhado na direção do outro para acolhê-lo, apoiá-lo, alimentá-lo, carregá-lo... estará plenamente à vontade diante do Cristo Total. Já aqueles outros, os tais “bodes”, que se mantiveram egoisticamente fechados em si mesmos, somente tendo olhos para o próprio prazer e bem estar, esses não se reconhecerão no reinado de Deus.

A eles, não porque sejam expulsos, mas muito mais porque não se sentirão bem naquele ambiente, lhes restará a manutenção eterna da solidão, à qual já terão se acostumado nesta vida.


Pistas para reflexão durante a semana:

- Cristo é meu Rei?

- Reconheço Cristo nos empobrecidos?

- Como me vejo quando chegar diante de Deus?


1ª Leitura – Ez. 34,11- 12.15-17
2ª Leitura – 1Cor 15,20-26-28


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 14/11/2011
Alterado em 17/11/2014


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