Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Surgiu um homem enviado por Deus; Seu nome era João. Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz: Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: 'Quem és tu?' João confessou e não negou. Confessou: 'Eu não sou o Messias'. Eles perguntaram: 'Quem és, então? És tu Elias?' João respondeu: 'Não sou'. Eles perguntaram: 'És o Profeta?' Ele respondeu: 'Não'. Perguntaram então: 'Quem és, afinal? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. O que dizes de ti mesmo?' João declarou: 'Eu sou a voz que grita no deserto: 'Aplainai o caminho do Senhor`' - conforme disse o profeta Isaías. Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus e perguntaram: 'Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?' João respondeu: 'Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias.' Isso aconteceu em Betânia além do Jordão, onde João estava batizando. Jo 1,6-8.19-28

A gente simples daquele país ansiava pela libertação. Por isto procurava ver se nas situações cotidianas não haveria sinais da sua chegada. Fato é que viviam em estado de contínua atenção.  Subjugados sentiam falta de liberdade em sua vida política, religiosa e social. Uma potência estrangeira os oprimia, sendo tratados a ferro e fogo pelos soldados do invasor. A religião ao invés de libertá-los lhes impunha, a partir das lideranças, tantas leis e regras que lhes era praticamente impossível segui-la. O modelo de constituição da sociedade era excludente, sendo que somente a elite e os que viviam do templo, conseguiam manter-se com tranquilidade.

Em meio a esse cenário aparece-lhes um homem santo pregando e batizando à beira de um rio. Precisavam saber quem era ele. Acaso seria o Messias libertador tão aguardado, ou deviam esperar por outro?

Vão lhe perguntar e a resposta dada por aquele profeta lhes surpreende, pois que pelas suas palavras têm a certeza de que a libertação está próxima. Aquele era, nada mais nada menos, o sinal a dar testemunho da Luz salvadora que ansiavam. Por saberem disso sentiram profunda alegria nos corações.

Aproximamo-nos do Natal e neste terceiro domingo do Advento a Igreja nos convida, a que continuemos aprofundando-nos um pouco mais no mistério da encarnação, através da reflexão, ainda, da figura riquíssima de João Batista. Deus está vindo para ficar entre nós. Esta é a surpresa que precisamos reviver a cada Advento.

Analisando-se friamente este mistério, logo se irá considerar tratar-se de algo totalmente imponderável. Como imaginar Deus saindo do centro da imensidão do seu poder para se fazer frágil e pequenino na periferia do mundo, em meio às suas criaturas, não as grandes e poderosas, mas as menores e mais excluídas? 

Apesar de sabermos ser algo que beira o absurdo, Deus vem. O Verbo se faz carne para, em plenitude, poder habitar conosco, como qualquer um de nós, na Terra. O Natal é esta constante contemplação de Deus que vem. Seu advento é gerador da alegria que somos convidados a valorizar hoje.

Deus nos vem. A sua breve chegada configura-se para nós como imensa surpresa e já pode ser vista a partir de sinais a anunciarem sua aproximação. Ao se falar de “sinais” não nos enganemos com as vitrines e luzes que se acendem à nossa volta.

Esses dizem respeito às maneiras que o comércio utiliza para alimentar a festa, vivida por muitos como mero tempo de troca: um dia para se dar e receber coisas. Sinais também que, não poucas vezes, tratam da marcação de um tempo específico, propício para se viver encontros e confraternizações. Também aquele período do ano no qual se pode deixar que se aflorem a emoção e o sentimento, para que se retorne ao “normal” logo após.

Não é nada disto. A preparação para o Natal de Jesus se dá em outra esfera. Bem mais íntima porque acontece, mesmo quando vivida em grupo, família ou comunidade, no coração de cada um. O Natal de Jesus é espera geradora de transformação.

Claro que a emoção e os presentes poderão acontecer, mas como representação e símbolo de que se está vivendo algo muito maior e profundo. Só há sentido em se celebrar o Natal se possuímos a vontade determinada de sermos melhores, não somente nesse tempo marcado e definido, mas no seguimento da vida.

João Batista é o grande sinal de luz a remeter-nos para esse Natal original. Ele, o Evangelho de João frisa-o bem, não é a luz, mas vem para dar testemunho dela. Imagem bonita a nos mostrar que só há uma Luz verdadeira e essa é que deverá ser por todos reconhecida.

É essa luz de verdade que nos iluminará e nos mostrará o caminho a ser seguido. Ao apontar para a Luz plena de Deus, o profeta está a nos dizer que tudo mais é simples reflexo da Luz real. A sabedoria do povo diz bem que “nem tudo que reluz é ouro”.

É interessante reparar, fruto da expectativa que viviam, que os sacerdotes e levitas não perguntam somente, mas sim realizam verdadeiro interrogatório do Batista. Eles perguntam várias vezes a João, a respeito de ser ele ou não o messias esperado. Todas as respostas são claras e enfáticas, mostrando não ser ele aquele que todos esperavam, mas que esse não iria tardar. Logo se faria presente.

Essas mesmas perguntas que foram feitas ao profeta nas beiras do Jordão, somos convidados a também fazê-las, agora a nós mesmos, como preparação para a vinda do nosso Menino Deus: Quem sou eu afinal? O que digo de mim mesmo? Testemunha de quem eu tenho sido?

E ao nos aproveitarmos das respostas de João, outros questionamentos poderemos bem nos fazer: Quem é a minha verdadeira luz? Sou testemunha da Luz verdadeira de Jesus? Como ele também me considero indigno de amarrar as suas sandálias, ou tenho a presunção de que é Deus quem deve amarrá-las nos meus pés? 

“Isso aconteceu em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando”. Isso ocorreu há muito tempo num lugar bem distante. E aqui e agora, vésperas do Natal de mais um ano, o que está acontecendo na minha vida? Questionemo-nos durante esta semana refletindo sobre estas questões...    

1ª Leitura –  Is 61,1-2a.10-11
 2ª Leitura –  1Ts 5,16-24
 
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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 05/12/2011
Alterado em 13/12/2020


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