Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


E a árvore de Natal se fez presente no meio de nós

Já foram a um lugar bem frio? Pois aquele era muito, mas muito mesmo, mais gelado do que este! Um homem, desses viajados, quando passou por lá afirmou nunca ter visto cidade tão friorenta quanto aquela. Os campos todos branquinhos e nenhuma árvore era capaz de sobreviver por lá.
 

“Nessa terra só nasce gelo” era o que costumava dizer o prefeito. Um dia alguém desse lugar foi a uma aldeia e notou que por lá havia umas árvores muito bonitas e que no inverno, mesmo salpicadas de gelo, as suas folhas se mantinham verdes. Ao pé de uma delas caíram sementes e ele pôs no bolso um bocado para plantar no seu jardim de neve.

Dessas somente uma brotou naquele ambiente hostil. Com muita dificuldade e sendo muito bem cuidada, ela sobrevivia tentando adaptar-se à baixíssima temperatura para crescer. As coisas iam assim até aquela noite. Foi uma que os idosos consideraram como a mais gelada até então havida. Estava perto o Natal e o homem que plantara essa árvore não conseguia pegar no sono. Preocupado, não sabia o que daria de presente ao filho.

Aquele fora um ano difícil e o trabalho muito pouco. O dinheiro mal dava para comprar comida. No silêncio somente se escutava o assobio gelado do vento. De repente, num momento de calmaria, ouviu algo parecendo um soluço.

“Devo ter sonhado” foi o que falou. Ninguém pode estar lá fora. “Só louco ousaria sair numa noite dessas, pois em poucos minutos estaria morto”. Fechou os olhos e aí foi claro que havia um choro bem baixinho. Deu um salto da cama e correu ao quarto de Nicolau, que era esse seu nome. “É possível que esteja tendo algum pesadelo”, resmungou. A criança dormia o sono dos anjos e acalmado, imaginando ter tido alucinação voltava, tremendo de frio, para a cama quando veio o gemido.

Cheio de coragem abriu a porta. Uma lufada de ar polar bateu no rosto e à luz da lua pôde ver que a árvore se curvara toda. Na verdade estava praticamente deitada naquele chão gelado. Abaixou-se na certeza de que ela, moribunda, chorava baixinho. Não ia deixar que falecesse assim. Cuidaria dela dentro de casa até que passasse o rigor do inverno.

Nos fundos havia um vaso com terra, apanhou-o e a uma pá. Com bastante cuidado fez o transplante para o vaso. O pinheiro foi posto no canto da sala, onde estava armado o presépio aguardando o Menino Jesus. Ao sentir o calor das brasas da lareira ela de novo se postara de pé.

Nicolau deu de cara com a novidade ao lado do presépio e achou ter chegado o Natal. Na caixa apanhou a imagem da Criancinha aguardada e a deitou na manjedoura. É que imaginou o seguinte: “Aquela árvore nada mais era do que o lindo presente que seus pais haviam trazido para ele”. Da cozinha vinha barulho de gente e cheiro gostoso de pão quentinho. Foi para lá, desejava abraçá-los por aquele dia tão lindo, dar-lhes feliz Natal e agradecê-los.

O pai logo compreendeu tudo e até tentou lhe explicar o que havia acontecido, mas ele nem ouviu. O que ficava repetindo era: “Que presente mais original! Agora sou responsável por algo muito valioso: tenho uma árvore!” Sabia que seus amigos ficariam como ele encantados, pois que naquela região as crianças só as conheciam através das fotos e do cinema.

Aquele foi o Natal mais bonito na vida de Nicolau e durante os anos ele cuidava muito bem do seu presente. Quando o inverno ia embora colocavam o vaso num carrinho e o punham fora. Ao chegar o frio corriam com a árvore para dentro. Um dia, passados uns anos, Nicolau se surpreendeu com pequeninas flores entre as folhas. Exalavam doce perfume e logo se tornaram sementes.

Pai, mãe e filho arrumaram pequenos potes e as plantaram. Chegando o inverno, foram levadas para o interior, posicionando-se em volta do presépio também esperando o Menino Jesus, aos pés da linda mãe, agora bem mais alta e forte.

Miriam, a mãe de Nicolau, era professora na escola. Sugeriu presentear os alunos com aquelas mudas. Cada um deles ganhou sua pequena árvore, aprendendo como deveria cuidar para que crescesse tornando-se verdejante como a que admiravam naquela sala.

Com o tempo este costume tinha se espalhado. Pelo correio, em malas de viajantes e mesmo levadas pelos bicos dos passarinhos, as árvores estavam em muitas casas. Até em lugares bem distantes daqueles onde vivia Nicolau passaram a existir as árvores de Natal.

Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 23/12/2011


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