Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Jesus: total disponibilidade para todos - 5º Domingo do Tempo Comum - Ano B 

Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los. É tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. A cidade inteira se reuniu em frente da casa. Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era. De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. Quando o encontraram, disseram: 'Todos estão te procurando'. Jesus respondeu: 'Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim'. E andava por toda a Galiléia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios. Mc. 1,29-39

Aquele homem É realmente encantador. Ele não se cansa. Todo o seu dia é posto à disposição dos outros. A todos atende, em todos os lugares se dispõe a ir. A força para continuar agindo assim ele a busca na oração. Com Deus ele é forte. Em Deus ele se realiza e é feliz.

Continuamos seguindo Jesus em Cafarnaum. Através do olhar atento de Marcos, acompanhamos a demonstração efetiva e carinhosa da sua humanidade. Juntando o que vimos no Evangelho da semana passada com este de hoje, iremos nos deparar com o que poderia ser chamado, “um dia típico da vida pública de Jesus”.

Ele reza na sinagoga, vai com os amigos para a casa onde residem mais dois companheiros e lá encontra a sogra de um deles, Simão, com febre. Ao final do dia, terminado o repouso sabático, reúne a multidão à frente da casa para curar e fazer o bem. Na madrugada recolhe-se para rezar, buscando a intimidade com o Pai. No dia seguinte já está pronto para peregrinar por outros lugares.

A narrativa deste trecho do Evangelho se inicia dizendo que Jesus sai da sinagoga (onde encantou a todos falando com autoridade e curando doente). Jesus não é um andarilho solitário. Está constantemente com seus amigos. Ele sempre forma comunidade. Sai com Tiago e João e com eles vai visitar a casa de Simão e André.

Jesus sempre valoriza suas amizades e quer estar com os companheiros também nas suas casas. Na residência de Simão acontece algo interessante. Sua sogra está com febre. A febre não é causa em si mesma, mas efeito de algo ruim que esteja acontecendo com a pessoa.

Hoje há baterias de exames para diagnosticar seu porquê, bem como antitérmicos a valer para baixá-la. Nos tempos evangélicos era bem diferente. A febre era algo muito mais grave. Ao curá-la podemos presumir que Jesus não está somente cuidando do efeito evidente do corpo aquecido, mas que tenha atuado também sobre a sua causa fundamental. A sogra de Pedro fica plenamente curada.

Há na cena dois gestos de grande cuidado e carinho. O primeiro é o de Pedro ao se preocupar com a saúde da sogra. Não seria por isto que ele convidou Jesus, a estar na sua casa? Sabedores que somos das tradicionais dificuldades entre sogras e genros, temos aí um exemplo de cuidado entre os dois a ser buscado também hoje por todos nós.

O segundo gesto é de Jesus. Reparem que Ele toma a mão da mulher (a qual não sabemos o nome) para ajudar que se levantasse. Na verdade bastaria curá-la e isto Ele poderia fazer sem gestos assim.

A atitude de Jesus se torna ainda mais bonita e significativa, considerando ter se dado num tempo e cultura nos quais as mulheres não eram tão bem consideradas. Vivemos uma era na qual se fala demais e age-se de menos na ética do cuidado. Há que se notar em Jesus um exemplo, que não é único, eis que poderá ser visto em várias outras passagens, de cuidado pelas pessoas e amigos.

A sogra, curada, não vai para a sinagoga pagar promessa. A forma que tem de agradecer é servir. De imediato se põe a trabalhar. Esta é a dinâmica do cristão. Ao ser curado coloca-se a serviço.

Todos nós, de uma ou outra forma, fomos curados por Jesus. Ou de uma cegueira que impedia que o víssemos como Deus, da falta de fé na vida e muitas vezes até da morte do pecado, que se dá cada vez que nos arrependemos e somos perdoados, através do Sacramento da Reconciliação...

Vale refletir aqui o que temos feito depois de curados. Se aproveitamos a mão estendida de Jesus para nos levantar e nos colocar a serviço, ou se permanecemos deitados à espera que seja Ele a trabalhar por nós?

À tarde Marcos vem nos dizer que, “toda a cidade se colocou defronte à casa”. Um exagero é o que me parece, mas para nos mostrar mais enfaticamente, a atração que Jesus exercia, através das suas curas e cuidado com o povo, nesta primeira parte das suas andanças pela Palestina. E o evangelista comenta que neste início de noite Ele curou muitos doentes e expulsou vários demônios.

Podemos bem imaginar como eram muito mais chocantes as doenças naquele tempo. Além de tornarem as pessoas impuras e de se acharem mal amadas por Deus.

Não devia ser nada agradável de se ver aquela cena de tanta gente doente em tempos nos quais não existiam curativos, assepsia e mesmo banhos regulares. Jesus vem nos mostrar sua coragem, ao lidar com a triste realidade e a compaixão com a dor da sua gente pobre.

Nosso Senhor dorme cansado, depois de dia tão intenso. Mas não tira a manhã seguinte, para repousar mais um pouco. Ainda escuro e já saiu na busca de um lugar solitário para rezar. É na oração que irá encontrar as forças para lidar com a dura realidade de sofrimento do seu amado povo.

É na intimidade com o Pai que encontrará ânimo e coragem para, na manhã seguinte assim que encontra seus amigos convocá-los para seguirem adiante, rumo a novas gentes e lugares, que muito necessitavam dele.

Vale refletir um pouco aqui sobre a nossa vida de oração. Até que ponto temos cultivado a intimidade com Jesus, o Pai e o Espírito Santo? Não existe cristão sem rezar. Sem a oração fatalmente cairemos no mero e vazio ativismo.

A Igreja, e nós é que a constituímos, sem rezar termina sendo uma ONG, alertávamos, não faz muito tempo o Papa Francisco. E Jesus não reza para nos dar exemplo. Seria bobo pensar assim. Ele ora porque sente radical necessidade da intimidade com o Pai na sua caminhada.

Pistas para reflexão durante a semana:

- Sinto compaixão das pessoas que precisam de mim?

- Como tenho vivido a amizade?

- Cultivo a vida de oração?


1ª Leitura – Jó 7, 1-4.6-7
2ª Leitura – 1Cor 9,16-19.22-23


www.genteplena.com.br
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 30/01/2012
Alterado em 06/02/2021


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras