Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – O Senhor ressuscitou, aleluia! - Páscoa do Senhor 

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo logo de manhã, ainda escuro, e viu retirada a pedra que o tapava. Correndo, foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que Jesus amava, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.» Pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Inclinou-se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados no chão, ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado noutra posição. Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer, pois ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos. Jo 20, 1-9

Havia uma cidade de gente completamente racional. Só acreditavam naquilo que viam. E eles viam tão pouco. Todos por lá eram míopes. Enxergavam quase nada do que ocorria além dos seus narizes. Um dia chegou por lá alguém a lhes contar interessantes novidades. Coisas que iam bem mais além da compreensão dos cinco sentidos. Daquilo que a visita lhes falava só conseguiriam ver com os olhos do coração. Suas pobres visões embaçadas não tinham ali nenhuma serventia. E foi assim que encontraram o Amor infinito de Deus em suas vidas. Viram que havia uma imensidão de coisas, além do que eram capazes de perceber. Mas o que de melhor mesmo eles descobriram, foi que o Amor nunca morre. Ele ressuscita sempre. Desse jeito, porque começaram a amar, terminaram por descobrir que tinham se tornado seres eternos. 

Estamos no domingo e, como vimos na noite de ontem, durante a vigília, novamente são as mulheres que primeiro estão atentas aos sinais da ressurreição. Elas, além de acolher a vida no útero, são sempre mais cuidadosas e intuitivas. Nós, os homens, temos muito a aprender com elas. Maria Madalena, a mulher que tanto amava Jesus vai ao túmulo.

A vontade de encontrar seu amado era tão grande nela, que nem se deu conta de que o buscava em lugar errado. Deus não vive entre os mortos. Afinal Ele é o Deus da vida e não poderia permanecer entre cadáveres, mas Maria de Magdala ainda não havia se dado conta disto.

A primeira reação que vive é totalmente humana. Muito provavelmente a nossa teria se dado nessa mesma linha: “tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram”.

Como, sem contar com o Espírito Santo, seríamos capazes de proclamar, ainda mais assim de supetão, que o nosso Senhor tinha ressuscitado? É aos poucos, quando se põe a caminho, que se vai abrindo a visão e se consegue enxergar, com os olhos da fé, a luz do Senhor vivo entre nós.

Quando se ama Jesus, não se consegue ficar quieto nem parado. Para estar perto dele é preciso buscá-lo e o tempo é curto. Urge ser rápido. Há que se por os meios e nesse caso foram as pernas. É necessário se colocar a caminho e mesmo correr. Maria Madalena volta célere para chamar Pedro e João.

Esses dois, sem dúvida assustados com o que lhes relatava a discípula, também correm em direção à sepultura de Jesus. Também eles não haviam compreendido nada ainda e por isto, como elas, erram a direção do encontro com o Senhor das suas vidas.

Gosto de contemplar esta cena. Ver o líder mais velho, o jovem discípulo e, com certeza, Maria Madalena que os tinha ido avisar, em desabalada carreira pelas ruas de Jerusalém. Nesta corrida é interessante ver, no relato joanino, que é o discípulo que Jesus amava aquele que chega antes. Sinto aí ao rezar este cenário três abordagens.

A primeira é que aquele que é mais jovem, obviamente tem as pernas mais ágeis e por isto chega na frente. A outra é que quem ama mais, dá passos maiores e por isto alcança primeiro o objetivo. A última é que nessa hora não fica dito que Maria Madalena, que na minha contemplação, correu de volta com eles para o túmulo bem antes, ainda quando se fazia escuro, havia estado por lá.

A morte de Jesus é fato totalmente histórico, sendo testemunhado, inclusive, por fontes não cristãs. Já a ressurreição requer ser contemplada através de nova visão. Tão profunda e abrangente que esses nossos olhos míopes (somos o povo da historinha) são incapazes de enxergar. É que a ressurreição de Jesus vai muito além da história.

Podemos vê-la como uma dessas cenas de filme na qual, num cenário vazio, rompe-se o papel que compõe o ambiente e um personagem surge. Sim, Jesus rompe a história. Vai até o outro lado dela e retorna até nós, rasgando o véu que nos separa da plena eternidade.

A partir da ressurreição Jesus de Nazaré ganha mais um nome. Agora, glorificado pelo Pai, assume plenamente a sua condição de Cristo, o Messias que nos salva a partir da entrega total e fiel à missão de Amor, que lhe tinha sido confiada pelo Pai. O Jesus histórico se completa no Cristo da fé.

Estejamos atentos à tentação de nos atermos, somente a uma dessas partes. Ficar no Jesus histórico apenas, é se esquecer da divindade daquele que o Pai exalta. Permanecer ligado ao Cristo da fé, esquecido do homem Jesus, é desconsiderar sua encarnação e humanidade. Na Igreja, ao longo da história, facilmente veremos os problemas que um e outro enfoque são capazes de provocar.

A ressurreição de Jesus é fato fundamental da nossa fé. Prova inconteste de que a vida, por mais que pareça haver terminado, nunca tem fim. Ele é exaltado e ressuscita, para nos mostrar que também nós, filhos do mesmo Pai que só sabe Amar e estar perto dos filhinhos, também irá nos ressuscitar.

A Páscoa é tempo mais que propício para nos recordarmos disto. Tudo começa e caminha no Amor. É também uma tentação acharmos que o Amor acaba. A ressurreição é a prova dos nove de que Ele nunca termina.

Há uns anos, um jornalista da América Central estava ameaçado de morte por militares do seu país. Escreveu então para eles uma carta, na qual dizia não se sentir ameaçado de morte, mas sim de vida, eis que nunca conseguiriam assassiná-lo. É que a sua vida, a partir da ressurreição de Jesus, tornara-se eterna. Não somente ele, mas todos nós somos “condenados” à eternidade. Um tempo que não acaba nunca, só de gozo e alegria, junto ao Amor da Trindade Santa porque, aleluia, Ele ressuscitou!

Pistas para reflexão:


- Corro para buscar Jesus?

- O crucificado é o ressuscitado. Que consequências isto tem para mim? 

- De que maneira sinto na vida a ressurreição?

- Creio na ressurreição dos mortos e na vida eterna?


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 04/04/2012
Alterado em 03/04/2021


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