Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Críticas aos erros históricos da Igreja. Como respondê-las?

Meu caro Eduardo,

Paz!

Você me escreve solicitando subsídios para responder às pessoas que criticam nossa mãe, a Igreja, pelos seus desmandos do passado. A resposta que quero lhe dar é bem simples. Quando lhe vierem com erros históricos da Igreja simplesmente não rebata. Peça perdão, como filho dessa mãe que tanto amamos e que errou, pelos seus pecados do passado.

Você não estará fazendo nada além daquilo que fez o Papa João Paulo II e continua a realizá-lo Bento XVI, pedindo perdão a Galileu Galilei, aos negros escravizados, judeus, pessoas que sofreram algum tipo de abuso, inclusive sexuais e tantos outros.

Veja que quando o Papa pede perdão ele o faz em nosso nome também. Sendo assim, pode dizer que você igualmente já se penitenciou pelos erros que cometemos na história. Para que reflitamos juntos mais um pouco sobre o tema, trago-lhe estes cinco pontos:

1 – A Igreja é santa e pecadora. Sempre o foi e é deste jeito que Jesus a predisse ao dizer que o reino dos céus é semelhante a um pescador que pesca peixes bons e maus; ou ao nos lembrar de que o reino é como o agricultor que semeia o trigo e vem o inimigo em seguida espalhando o joio, sendo preciso que se deixe crescer os dois para que sejam reconhecidas e arrancadas as ervas ruins. A Igreja é santa como fruto do Espírito Santo e também é pecadora pela ação dos seus membros. Quando éramos crianças nossa mãe era perfeita, linda e incapaz mesmo de qualquer erro ou fraqueza. Com a idade adulta tomamos consciência dos seus defeitos e falhas. É assim também com a Igreja. Na medida em que mais vamos nos aproximando dela pela fé iremos, mais de perto, reparar nos seus erros. Não é porque a nossa mãe se tornou velha, enrugada, rabugenta e tenha cometido pecados que deixaremos de amá-la. Ao contrário. Ao vê-la frágil como nós, na sua dimensão humana, mais ainda nos identificaremos como seus filhos e assim muito mais seremos capazes de amá-la e sentir com ela em suas dores e alegrias.

2 – Há coisas que não se defendem. Muitos pecados nos indignam como seres humanos, nem precisa dizer como cristãos. A tentativa de justificá-los não irá ajudar em nada, nem a nós e à Igreja e muito menos às pessoas que a atacam. Cabe-nos muito mais pedir perdão a Deus por estas faltas que foram (e muitas ainda o são) cometidas dentro da nossa mãe Igreja. E quem não tiver pecados sinta-se livre para atirar a primeira pedra, não é mesmo? Vivemos tempos pós-modernos e uma das suas características mais patentes é a de questionar as instituições. Não tenhamos medo das questões. Não tenhamos medo do mundo. A defesa melhor que podemos fazer da Igreja será com o testemunho da ação amorosa no nosso campo de trabalho. Responder aos ataques com amor e respeito será muito mais evangélico. Olho por olho e dente por dente e terminaremos todos cegos e banguelas...

3 – É muito fácil e cômodo criticar algo fora do seu contexto histórico. Repare o que acontecia há uns cinquenta anos atrás. Nossos pais desmatavam, poluíam rios, matavam passarinhos por esporte e ninguém, a não ser algum profeta, seria capaz de dizer que pecavam. Nossos tataravôs consideravam normal ter escravos. A nossa consciência do mal vai (como nós também) evoluindo e hoje, que Deus nos livre de realizarmos qualquer uma dessas ações, pois nos sentiremos em falta conosco mesmo, com os irmãos, com o mundo e com Deus. A Igreja não atrasa o mundo e muito menos freia a ciência que busca o desenvolvimento humano. Caso o tenha feito em algum momento podemos considerar aí também a presença do mal e será bem-vindo o pedido de perdão, como aquele feito a Galileu. É obvio que seremos sempre contrários à má ciência. Aquela que faz armas e cria as guerras. A ciência dos interesses apenas econômicos e que trata o ser humano como objeto. A ciência que atenta enfim contra a vida e a nossa dignidade. Afora isto, ciência e fé são companheiras de caminhada, indo de mãos dadas para construir o Reino de Deus, um mundo melhor.

4 – Onde há muito pecado ali a graça existirá ainda em maior quantidade, nos ensina são Paulo. Tem gente que ao ver um quadro bonito irá logo reparar no pequeno arranhado num dos seus cantos. Com isto quero lembrar que mais do que apenas observar erros e defeitos é preciso ver as maravilhas que vão sendo feitas por inspiração do Espírito Santo na Igreja. Quantas pessoas ao longo da história não foram cuidadas nos hospitais e santas casas em tantos países? Quantos não são atendidos mundo afora após catástrofes por missionários anônimos e abnegados da Igreja? Quantos milhões e milhões de jovens não foram educados em escolas e universidades da Igreja (pode bem ser que estes que mais a atacam são os que devem o seu saber a ela)? O que seria de milhões de doentes de AIDS e de órfãos hoje na África, caso a Igreja lá os abandonasse? Quanto da música, da poesia, literatura, da cultura e das ciências não devemos à Igreja? Bem perto de mim e de você há gente se doando para o outro ...

5 – Conta-se que o Cardeal Newman, há pouco beatificado pelo Papa Bento XVI, teve um sonho bem significativo sobre este tema que aqui refletimos. Nela ele via a Igreja como um castelo cheio de defesas, soldados armados, poços para que não se pudesse entrar e grossas muralhas. A imagem se esvaiu e logo lhe veio outra. A Igreja tinha se transformado em tenda onde as gentes podiam entrar e se movimentar com grande liberdade, sentindo-se na casa do Pai. Ao tentar defender a Igreja estaríamos agindo como se ela fosse esse castelo da primeira parte do sonho do Cardeal. Precisamos muito mais criar a Igreja tenda da liberdade do Espírito. A Igreja leve que não precisa se defender porque tudo que tem está aberto e disponível para todos. A Igreja Povo de Deus do Concílio Vaticano II. Mais do que defensores a Igreja necessita de seguidores. Discípulos missionários caminhando com Jesus vivo e ressuscitado.


Espero tê-lo ajudado com essas reflexões. Abraços na alegria da Ressurreição, contando também com suas orações,

Fernando.

Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 07/04/2012
Alterado em 08/04/2012


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