Predestinação e livre árbítrio. Como se dá isto?
Querido Raphael,
Fiquei feliz ao receber seu e-mail me contando terem criado um grupo na Faculdade para estudarem a Bíblia e alguns pontos da nossa fé. Que bom. Enfiem nesse projeto também a oração e no futuro a ação. Esta é a minha dica...
Você me escreve perguntando sobre a doutrina da predestinação e como ela se encaixa quando nos deparamos com a liberdade humana. Esse dom tão maravilhoso que Deus, ao nos criar, nos dá de presente.
A predestinação é uma doutrina que vez por outra aparece na Igreja. Tem coisas nelas aceitáveis e maravilhosas até. Há outras que são, como você já notou, totalmente incompatíveis com o dom da liberdade que o Senhor nos agracia.
Hoje em dia, no seu modo mais puro, diria, a predestinação pode ser mais vista junto aos nossos irmãos separados. Dentre esses principalmente entre os herdeiros da teologia calvinista (João Calvino foi um dos reformadores).
Sim, há uma predestinação básica sim em cada ser humano e esta é linda e maravilhosa. Somos predestinados pelo Amor criador à eternidade. Como é o Pai Amoroso que nos predestina para seguir este caminho rumo ao infinito, sua concretização só poderá se dar na felicidade. Dito de outra maneira, lhe diria que somos predestinados, como filhos de Deus, a sermos felizes. E isto, não por um dia, ou uma temporada, mas pelos séculos dos séculos, amém.
Agora, aquela predestinação calvinista a dizer que a humanidade se divide em duas categorias bem definidas: A daqueles que estão destinados à salvação e os outros pobres coitados que estão, independentemente do que possam viver, fadados às penas eternas.
Isto para mim é absurdo. Como pode um pai que é todo bom separar alguns filhos para a felicidade e outros para a desgraça? Nem nós que não somos pais assim tão bons, nunca que iriamos em sã consciência querer algo de ruim para nossos filhos, imagine Deus que é todo Amor desejando que alguns dos seus filhos se danem...
Pode o Amor querer algum mal aos seus amados? Você ama e poderá reparar isto a partir da sua experiência pessoal. Basta olhar para a sua vida. Claro que isto seria impossível. Portanto todos somos predestinados a sermos salvos. Mas há aí dois novos pontos a serem considerados:
1 - Não nos salvamos nunca por méritos próprios. Só Deus pode nos salvar. O homem querer se salvar seria algo louco como na história do Barão de Munchausen, um inveterado mentiroso, que conta estava um dia se afundando em um poço de areia movediça. O que fez então: pegou-se pela gola do paletó e assim se puxou para fora do buraco no qual havia se metido. O homem querer se salvar por si mesmo seria como levantar-se a si próprio pelas suas próprias forças e méritos, da terra para o céu. Impossível completamente.
2 - Ao dizer que estamos todos predestinados à salvação não estou dizendo que não exista o inferno. Ele existe, claro que não como local geográfico. Mas como a possibilidade da negação absoluta do Amor e do bem, que é Deus. Agora, dizer que o inferno está cheio ou que lá tem gente, ou mesmo querer imaginar quem lá esteja, é outra história de fantasia. Em nenhum lugar da nossa fé está escrito isto. E já que pediu a minha opinião, já lhe digo que para mim o inferno está vazio. Quem é capaz de negar a bondade absoluta? Somente um louco, não é mesmo? E sabemos que louco não pode pecar... e por serem loucos são ainda mais queridos por Deus... Daí que Ele os salvará. Quanto aos grande pecadores, os imensos assassinos, por exemplo, creio que deva haver um purgatório de longa duração. Para que fiquem nele por muito tempo (apesar que as dimensões de tempo e espaço não devem existir na eternidade) de vida por lá para que possam aprender a Amar.
Acho que já escrevi demais. Tomara que esta minhas reflexões lhes sirvam. Caso queira, posso lhe indicar um livro para você estudar que é muito legal sobre a nossa fé e que creio irá lhe ajudar neste grupo.
Grande e saudoso abraço e apareça sempre. Precisando estou aqui,
Fernando.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 28/04/2012
