Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Querida amiga, Paz!

É com grande carinho que me apresso a responder seu email. Nele você me conta da culpa que vem carregando pelo aborto que fez há tantos anos. Relata-me estar o remorso corroendo seus dias, fazendo com que chegue até a pensar que Deus nunca irá perdoá-la. Diz-me, entre muitas lágrimas, que chega a sentir que Deus a castigou não deixando que fosse mãe posteriormente.

Sou capaz de sentir, mesmo a distância, o quanto tem sido difícil de ser carregado um fardo assim tão pesado. Divido a minha resposta em duas partes.

Primeiramente faremos uma pequena reflexão sobre a dimensão do perdão de Deus. Na outra lhe proporei um singelo ato simbólico para fechar o ciclo do que já está feito. Vamos então à primeira parte:


O Amor de Deus.

1 - Quando arrependidos do pecado buscamos o perdão do Senhor através do sacerdote no sacramento da Reconciliação. A partir daí não pode haver mais dúvidas. Temos a certeza de que ficamos limpos de toda e qualquer culpa. Pensar diferente é duvidar da capacidade de Deus em nos perdoar. Seria um pouco como os fariseus, contemporâneos de Jesus, questionando se Ele, que é Deus, pudesse mesmo perdoar pecados...

2 – Deus é Amor e bondade absolutos. Por isto incapaz de qualquer ato, ou mesmo o mais fugaz desejo, de punir ou castigar alguém. Somos nós mesmos que nos castigamos e esse seu pecado já lhe provocou muita pena nesses anos todos, não é mesmo. Deus nunca castiga, Ele somente ama. O fato de não ter tido filhos posteriormente diz respeito às condições humanas acontecidas no interior do seu casamento. Não são, em absoluto, condições divinas.

3 - Você está perdoada e ponto final. Agora é caminhar para frente, eis que Deus está sempre adiante a nos esperar num imenso abraço de misericórdia. Continuar sentindo que não foi verdadeiramente absolvida é alimentar-se de escrúpulos e eles não irão ajudar em nada a sua vida, ao contrário, estarão sempre a lhe puxar para baixo.

4 - Mais além de se viver escrupulosamente, é preciso que redobre a atenção, eis que poderá estar à espreita em volta o orgulho. Sim, esse pode aparecer sutilmente no fato de sentir que tenha cometido um pecado tão terrível, que nem Deus é capaz de livrá-la dele. Enfim, a hora é de deixar lá para trás o passado. Você está perdoada e pronto.

Um ato simbólico

Agora iremos conversar sobre o ato em si. Nele mais gente esteve envolvida e dentre eles há que se considerar primordialmente o seu filho. Não há dúvidas que uma parte dessa culpa sentida, é porque lhe povoam medos de que ele não a tenha perdoado pelo fato de lhe ter negado a vida. Outra bobagem. Pois saiba que sua criancinha está lhe sorrindo desde o colo infinitamente amoroso do Pai e, com toda certeza, junto com o perdão que já lhe foi concedido, o seu anjinho também já a perdoou totalmente pelo que foi feito. Então, como seres simbólicos que somos acho ser chegada a hora de um pequeno rito. Você fará o seguinte:

1 – Caso não o tenha feito ainda, dê um nome ao seu filho. Caso não saiba seu sexo, isto é o de menos, pois afinal os anjos não têm sexo, não é mesmo? Dê-lhe, com todo o carinho existente no coração, aquele nome que na, sua imaginação, sente que ele mais gostaria de ser chamado.

2 – Converse com a sua criança e lhe sussurre, de coração para coração, o quanto a ama. Peça-lhe perdão mais uma vez, mesmo já sabendo que ele a ama e lhe perdoou faz tempo.

3 – Prepare-se durante uns dias rezando um tanto mais e frequentando o sacramento da comunhão. Então, num dia em que sentir que já está pronta para o novo passo, vá até uma Igreja num horário que sabe que estará praticamente vazia. Chegando nela molhe o dedo com a água benta. No caso de haver por lá um lugar para se colocar velas, acenda a do seu filho, significando a luz de Cristo que vive nele por toda a eternidade. Caso não tenha, isto também pouco importará. Com o dedo molhado de água benta diga o nome que deu à sua criança e faça o sinal da cruz no seu braço dizendo baixinho: Fulano/a, carne da minha carne, eu aqui agora, em minha pele, sinto que o batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

4 – Feito isto feche os olhos e converse com ele e com Deus, que está junto dele. Diga-lhe do quão grande será a sua felicidade quando um dia enfim o abraçará e o beijará no infinito do céu.

5 – Na ida à Igreja para esta sua íntima cerimônia, caso tenha alguma pessoa muito querida e que seja capaz de compreender o tamanho da sua dor, tendo com você compaixão por todo o acontecido, poderá convidá-la, caso sinta este desejo, para estar com você neste dia para ser a “madrinha”, ou o “padrinho” do seu bebê...

6 – Caso tenha condições, faça um enxoval e o dê de presente, em nome da sua criancinha, para alguma grávida pobre. Com certeza que em sua cidade haverá muitas passando necessidades. Poderá lhe fazer bem também doar algumas horas de trabalho para alguma obra com crianças, ou grávidas, também em nome do seu bebê querido.

Antes de terminar preciso lhe dizer que, caso tenha havido pessoas que a tenham induzido ao ato, perdoe-as também, caso ainda não tenha feito isto. Por fim só me resta lhe repetir que Deus e seu filhinho já há tempos a perdoaram. Eles muito a amam.

Abraços de paz e caso queira pode me escrever, saiba que estou por aqui. Conto com suas orações,


Fernando.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 18/05/2012
Alterado em 20/05/2012


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