O velho, a seca, a reza e o guarda-chuva
Uma história de fé
A chuva fora embora. A terra esturricada não deixava brotar o verde. A bicharada, pele e osso, caia e não levantava mais. Agourentos, urubus espreitavam nas galhadas secas pela morte se avizinhando. Nas casas a água disponível era barrenta e, mesmo assim, só podia ser bebida e usada com parcimônia.
Em meio a esta triste realidade, numa pequenina cidade do sofrido Nordeste, o padre convocara o povo para a oração implorando pela chuva. No domingo, sol inclemente, arrasta-se a procissão rumo ao alto do morro para clamar ao pé da cruz.
O povaréu ainda se acomodava em meio à poeira e pedras do topo, quando o céu, num repente, se faz escuro. A chuva cai forte. O povo, ensopado, dança e canta agradecido a Deus. Aliás, minto, nem todos se molharam. No meio da multidão, paramentos escorrendo, o sacerdote vê o guarda-chuva aberto.
Através do olhar embaçado, percebe tratar-se de homem bem idoso. Surpreso lhe grita. “Mas o senhor trouxe guarda-chuva!” Boca arreganhada e sem dentes, o velho sorri para o reverendo. “Mas padre, o senhor não disse que a reza era para pedir chuva?”