Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


A difícil convivência em comunidade

Olá Tatiana,
Paz!
Recebi seu email, o qual agradeço. Nele você me conta se sentir cansada e até mesmo desiludida com o trabalho que realiza na comunidade. Você se engaja para construir, fazer boas coisas e lhe vem a impressão de que os problemas parecem aumentar. Termina seu email me dizendo que tem sentido vontade de “largar tudo”...

O que fazer então, minha amiga? Pensando em como melhor lhe responder, fiquei imaginando alguns pontos para que pudesse refletir sobre eles, a partir da realidade concreta vivenciada na sua comunidade. Veja então nestes itens abaixo algumas dicas Para que medite sobre elas:

1 – Gente não é simples. As pessoas são bastante complexas e complicadas e isto ocorre a partir de nós mesmos. Veja em que possa estar contribuindo para os conflitos. Bem poderá ser que haja, da sua parte, também uma boa contribuição para que as coisas não estejam caminhando bem. As outras pessoas são complicadas, mas nós também o somos. Observe em que possa estar errando. Está sendo muito exigente? Gosta que as coisas só aconteçam conforme o seu próprio jeito? Fica mandando nos outros? Magoa-se com pouca coisa? Caso sinta que tenha errado, peça perdão a Deus e às pessoas. Fazer isto ajuda muito.

2 – Conheça-se mais. Para lidar com os outros é preciso primeiro se conhecer mais. Muitas vezes temos conflitos internos e que fazem com que se torne difícil a nossa relação com os outros. Veja o que possa ter na sua vida, a partir daquilo que possa ter vivido na infância, suas carências, necessidades mal resolvidas, medo de rejeição, para que não projete nos outros aquilo que é somente seu. Conhecer-se mais é saber das suas capacidades, suas forças e dons. Mas é tomar consciência também das suas fraquezas. Suas paixões e melindres. Repare que uma moeda sempre tem dois lados. As pessoas se afastam e se aproximam de nós na mesma medida em que nós nos aproximamos ou nos afastamos delas.

3 – Trate os problemas que surgirem com assertividade. Não fuja deles varrendo eventuais conflitos para debaixo do tapete. Muitas vezes na comunidade, para não gerar conflitos e dificuldades, acabamos por esconder os problemas. Fazemos de conta que eles não existem. Isto faz com que eles, de maneira escondida, o que os faz ainda mais perigosos, cresçam e quando então houver uma explosão ela será bem grande. Será bem possível que não dê mais jeito de se juntar os cacos. Quando houver dificuldades, não fula delas. Trate-as conversando com as pessoas. Mas cuidado, isto não se faz de qualquer jeito. É preciso que seja feito de forma assertiva, ou seja, aceitando as ponderações do outro e também se fazendo respeitar nos seus pontos de vista. Tenha atenção para não agir agressivamente (só considerando os seus direitos), ou passivamente (só considerando os direitos do outro). Não sendo assertivos somente estaremos adiando a resolução dos conflitos.

4 - Perdoe. Quando não acontece o exercício do perdão na comunidade ela vai se enfraquecendo e os conflitos vão tomando conta dela, de tal maneira que quando nos damos conta eles já se tornaram maiores do que nós mesmos. Ou seja, tornaram-se insolúveis e aí é que vem o desejo de se abandonar tudo... A gente acaba se vendo num beco sem saída. Perdoar é fundamental num grupo ou comunidade. Perguntaram uma vez a Jesus quantas vezes deviam perdoar. A resposta dele é que temos que perdoar sem limites, infinitamente. Perdoar nos faz crescer no Amor de Deus e dos nossos irmãos. Mas cuidado, porque tem gente que pensa que perdoar é esquecer. Não, é muito mais do que isto. Perdoar é saber que se foi ferido e mesmo assim, se lembrar disto com Amor.

5 – Reze. A comunidade não existe por nossa causa, ou para que simplesmente façamos coisas. Ela se faz para que o Reino de Deus aconteça entre nós. Numa comunidade cristã, o nome já bem o diz, teremos pessoas que seguem a Jesus e não dá, definitivamente, para se chegar perto dele sem que se tenha uma vida de oração. Rezar é crescer na intimidade com Deus e nessa intimidade pedir a Ele para que nos ajude nas relações humanas, aceitando os outros, valorizando as diferenças, respeitando outros pontos de vista. Mais que rezar sozinhos busquem momentos para rezar em grupo. Afinal, se são uma comunidade são também um grupo de oração. Lembrem-se do que disse Jesus: “sem mim nada podeis fazer”. Vocês têm rezado? Têm apresentado a Deus as dificuldades que sentem no convívio um com o outro? Têm orado juntos? Saibam, repito mais uma vez, que não pode jamais existir uma comunidade cristã sem que haja oração dentro dela.

Daqui, amiga, fico rezando para que os problemas na sua comunidade sejam logo resolvidos. Conto também com suas orações.
Receba o meu abraço fraterno,

Fernando.

Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 10/07/2012


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