Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Será que o meu casamento acabou? Haverá ainda alguma brasa sobre a cinza?

Querida Júlia,

Lendo o seu email posso sentir daqui todo o cansaço, causado na árdua luta que tem travado nesses anos todos, pela manutenção do casamento. Você me relata, em meio a uma grande tristeza, a dor pelas “traições e brutalidades” sofridas durante o matrimônio.

Conta-me dos lindos filhos afiançando-me ter sido, principalmente por causa deles, que continua encontrando forças para defender a manutenção da sua família. Ao final me pergunta angustiada: “até onde devo continuar essa peleja sem fim? Até quando, enfim, é preciso persistir em algo que me parece já estar morto?”

Difícil responder à sua carta. Na verdade, só você mesma é quem sabe até aonde ir. Mais ainda, é você quem possui a consciência sobre a real situação da sua vida matrimonial. Está ela totalmente morta? Ou sob esse monte de cinzas, parecendo fria, uma brasa pequenina ainda teima em se manter acesa?

Sim, é você e mais ninguém a pessoa que será capaz de dizer se está ou não tudo terminado. Afirmar enfim se será infrutífera qualquer tentativa de se ressuscitar um organismo que se encontra já sem nenhuma possibilidade de vida.

O que posso fazer daqui de longe é lhe dar alguns itens de reflexão. A partir deles poderá melhor discernir sobre os passos a tomar daqui por diante. Faço-o então através de cinco pontos.

1 – Em meio a grandes desolações, ensina-nos o grande místico, Santo Inácio de Loyola, não se devem fazer mudanças naquilo que se tenha previamente definido. São suas próprias palavras que me relatam estar em meio a uma forte crise. Espere então passar a dureza da tempestade. Assim que o seu céu se tornar azul e o sol nele voltar a brilhar, aí será a hora boa para se decidir.

2 – Enquanto isto vá se tornando mais atenta aos “sinais vitais” do seu casamento. Acho que posso resumi-los em três principais pilares: respeito, diálogo e cuidado. Essas três bases estão de pé? Alguma delas arriou? As três estão no chão? Você me conta, por exemplo, ter sofrido variadas vezes brutalidades. Este é sinal evidente de que está faltando respeito, não é mesmo?

3 – Caso a decisão seja no sentido de manter firme o investimento na relação, precisarão recontratar, seu marido e você, novas regras para a continuidade da caminhada de casal. É como se fizessem um novo casamento. Vocês dois agora, sozinhos diante de Deus, se prometendo resgatar todas aquelas coisas que considerem essencial para a vida matrimonial e que hajam perdido na poeira da estrada percorrida.

4 - Agora, acaso, passada a crise, chegar à conclusão que carrega um defunto (seu casamento) será hora de partir para outra. Aí terá chegado o momento de planejar o futuro. Ninguém vive de sonhos e muito menos de brisa. Como estará sua vida financeira depois da separação? Você é dona de direitos. É preciso buscar um advogado honesto e de confiança para cuidar desse tempo delicado de transição. Será preciso também conversar com os filhos sobre a decisão tomada. Por tudo que me conta, passa-me a impressão de que eles sabem da sua infelicidade e são solidários a você por tanta dor vivida. Prepare-se desde já para este passo.

5 – Reze muito. Esta é a hora na qual é preciso reforçar a presença e o carinho de Deus na sua vida. Ele já está junto a você, mas é preciso mais. É importantíssimo que você o sinta como Pai totalmente misericordioso. Papaizinho querido capaz de conhecer cada pedacinho do seu sofrimento e ter infinita compaixão pelo que sente. Peça a Ele que lhe dê luzes para melhor perceber a realidade que está vivendo. Dobre seu tempo de oração. Mantenha-se todo dia, toda hora, em atitude orante. Ou seja, na presença de Deus. Solicite dele a coragem para caminhar e a força para tomar a decisão que a levará ao bem maior, gerando sua realização e felicidade.

Daqui de longe fico rezando e torcendo por você. Caso queira continuar a conversa, estou por aqui,

Abraços do seu amigo no Senhor,
Fernando.

Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 24/08/2012
Alterado em 25/08/2012


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