Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – O Amor supera o legalismo – 22º Domingo do Tempo Comum – Ano B 

Alguns fariseus e mestres da Lei que tinham vindo de Jerusalém reuniram-se em volta de Jesus. Eles viram que alguns dos discípulos dele estavam comendo com mãos impuras, quer dizer, não tinham lavado as mãos como os fariseus mandavam o povo fazer. (Os judeus, e especialmente os fariseus, seguem os ensinamentos que receberam dos antigos: eles só comem depois de lavar as mãos com bastante cuidado. E, antes de comer, lavam tudo o que vem do mercado. Seguem ainda muitos outros costumes, como a maneira certa de lavar copos, jarros, vasilhas de metal e camas.) Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram a Jesus: - Por que é que os seus discípulos não obedecem aos ensinamentos dos antigos e comem sem lavar as mãos? Jesus respondeu: - Hipócritas! Como Isaías estava certo quando falou a respeito de vocês! Ele escreveu assim: "Deus disse: Este povo com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe de mim. A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis humanas como se fossem mandamentos de Deus." E continuou: - Vocês abandonam o mandamento de Deus e obedecem a ensinamentos humanos. Jesus chamou outra vez a multidão e disse: - Escutem todos o que eu vou dizer e entendam! Tudo o que vem de fora e entra numa pessoa não faz com que ela fique impura, mas o que sai de dentro, isto é, do coração da pessoa, é que faz com que ela fique impura. Porque é de dentro, do coração, que vêm os maus pensamentos, a imoralidade sexual, os roubos, os crimes de morte, os adultérios, a avareza, as maldades, as mentiras, as imoralidades, a inveja, a calúnia, o orgulho e o falar e agir sem pensar nas consequências. Tudo isso vem de dentro e faz com que as pessoas fiquem impuras. Mc 7,1-8.14-15.21-23

Era uma vez uma comunidade que se preocupava demais com os ritos e o seguimento das leis. Tudo lá era medido e contado. Não havia o menor espaço para a liberdade. Naquele lugar até para amar era obrigatório seguir regulamentos muito bem definidos. O que aconteceu foi que, pouco a pouco, esse povo foi ficando frio. As relações passaram a se dar de maneira apenas formal. Até que realizavam cerimônias bonitas, mas eram  rígidas, bem tristes. Faltava-lhes vida. Havia poucos sorrisos naquele lugar.

Após algumas semanas seguindo João e o seu discurso do pão da vida, retornamos ao seguimento de Jesus através do evangelista Marcos. Alguns mestres e fariseus saem de Jerusalém e vêm ao encontro de Jesus.

Ritualistas por demais eles se escandalizam, ao reparar que os discípulos do Senhor não cumpriam com as regras judaicas, de limpeza ritual para a alimentação. Jesus tomará tal crítica para ensinar verdades muito importantes para a vida. Mostrará que mais que a Lei, o que vale na realidade é o Amor. Tudo que se coloque contra ele, mesmo que esteja prescrito em regras e tradições humanas, o irá contaminar. Mais que lavar as mãos e o corpo, é preciso deixar bem limpo o coração.  

As notícias da pregação itinerante de Jesus e das suas ações junto ao povo chegaram ao centro do poder. O Nazareno tornara-se homem conhecido. Por isto, um grupo de fariseus e doutores da Lei parte de Jerusalém e vai ao encontro dele. Não que fizessem isto de boa fé. Muito mais do que isto, eles estavam em busca de evidências que pudessem incriminá-lo.

O poder tende a se concentrar, não gosta de admitir seu exercício por outros não pertencentes ao grupo dominante. Interessante é que eles não tinham observado que Jesus não está atrás desse tipo de poder exercido no Templo e pelos fariseus. Seu poder não necessita mandar. Com certeza que esse tipo de poder diferente fazia com que Ele se tornasse ainda mais incômodo para os poderosos. 

O poder do Senhor é o poder do serviço. De quem se sabe autoridade e por isto somente quer fazer crescer e servir aos que dele necessitam. Ver então, tal manifestação de poder torna confusos os doutores e fariseus. É preciso ver de perto este homem. Arrumar formas de denunciá-lo pela “prática ilegal do poder da religião”.

Este tipo de relação autocrática de poder prescrevia, para que o controle do povo com mais eficácia fosse exercido, um numero excessivo de ritos. Para ser mantida e se proteger, a religião lançava mão, enfaticamente, das normas e dos rituais. Ao fazer isto acabava deixando em segundo plano a sua finalidade: unir-nos cada vez mais ao Criador.

Havia regras para quase tudo e a alimentação não ficava de fora. Para se comer, não como mera e obvia orientação higiênica, mas como diretriz religiosa, era preciso antes lavar as mãos. Dá para se ver facilmente a impossibilidade do povão em seguir tal preceito, o que terminava por torná-lo pecador. Como lavar as mãos numa terra seca, num tempo sem água encanada, onde o acesso à água não era tão simples?

Ao ver os discípulos comendo desse jeito, quem sabe no meio de alguma praça, mostram-se escandalizados. Não porque os seguidores de Jesus poderiam adoecer, mas porque feriam a Lei dos antigos. A verdade é que aquela gente se apegava demais às exterioridades.

Aquele jeito de agir não ocorria somente naqueles tempos. Infelizmente, ainda hoje é possível se ver posturas bem ritualistas na nossa Igreja. Na verdade confunde-se por aí “ritualidade” com o “ritualismo”. A primeira é necessária eis que se configura na ação litúrgica cuidadosa e amorosa a nos elevar para Deus.

Já o ritualismo nada mais é do que o que Jesus denuncia nesse Evangelho. A ritualidade liberta, conduz para o interior do coração, para viver o Amor. Leva-nos enfim para Deus. O ritualismo prende, dirige-nos rumo ao mero seguimento das regras. Mais que atentar ao que está dentro, a ênfase é posta no lado de fora.

O que torna impuro não é o que entra, aquilo que se come, mas o que sai do coração humano. Jesus desmascara duramente o ritualismo vazio daqueles dirigentes religiosos. Sua afirmação é clara e forte: a impureza não está naquilo que entra no corpo, mas sim do que sai do coração.

No interior é que nascem as coisas que contaminam o ambiente e aqui não pensemos somente em coisas do tipo da inveja, orgulho, poder despótico e mentira.

É no coração que nasce a ganância, a fazer com que nesse mundo de Deus haja tanta miséria e fome. É lá dentro dele que são geradas também as políticas que deveriam cuidar do meio ambiente e que, ao contrário, mais o agridem e poluem tornando-o impuro e inapropriado, em tantos lugares, para a vida em abundância.

Pistas para reflexão:

- Como anda minha liberdade em relação aos ritualismos?

- O tempo que gasto com o meu exterior é maior do que aquele no qual cuido da minha interioridade?

- O que tem saído do meu coração?


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 27/08/2012
Alterado em 22/08/2021


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