Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Querida Laura,

Paz!

Apresso-me a responder seu email aflito. Você acaba de descobrir que seu filho de 16 anos consome drogas. Vocês, não se esqueça de incluir neste trabalho o seu esposo, precisam tomar uma atitude urgente. É Necessário cortar o mal antes que ele cresça e ele acabe viciado, pois que aí a dificuldade será ainda muito maior.

A verdade é que vamos criando com todo Amor e cuidado os nossos filhos. Sentimos que se encontram sob a nossa proteção, como pintinhos sob as asas da mãe galinha. De repente acontece o vendaval. Tudo se transforma e é então que nos damos conta de três realidades:

- Eles cresceram e vão se tornando independentes. De uma hora para outra nos assustamos com o que falam, pensam e agem. Aquelas crianças que seguiam os pais para todos os lugares, agora resistem em acompanhá-los. Buscam de uma forma ou de outra, ou seja passiva ou ativamente, resistir a obedecer às figuras de autoridade.

- Vivem em grupos e dentro deles precisam se afirmar, ou seja, fazer o que os companheiros realizam. A juventude identifica-se com seu bando. Tem nele a sua identidade. Por isto todos se vestem e se comportam de maneira bem semelhante. O que o time de amigos propõe torna-se lei e mesmo que o jovem não concorde, é muito difícil que diga não aos companheiros.

- O mundo no qual vivemos, nada mais é do que imenso supermercado de convites para que os jovens, experimentem e consumam tudo o que produz. O fato é que mesmo havendo tantas ofertas boas, muitas outras são prejudiciais e algumas dentre essas podemos considerá-las como terríveis, eis que carregam o poder de destruir toda a beleza interior do ser humano, principalmente dos jovens.


O que fazer, querida amiga? Na tentativa de ajudar, lhes proponho, em dez pontos, um caminho para que possam reverter a situação. Eu sei que muito do que vou lhes dizer vocês já fazem. Talvez seja a hora de repensar não o que esteja sendo realizado, mas a forma como tal coisa esteja sendo feita. Por isto, estejam abertos ao que lhes digo a seguir:

1 – Aproximem-se do seu filho. Estejam mais perto dele buscando não deixá-lo sozinho. Com certeza que ele resistirá inicialmente a esta aproximação. Mas vejam formas de estar com ele. Quem sabe buscá-lo na escola. Insistam nessa questão do estar mais juntos, como família. Que essa aproximação não seja algo que ele sinta como algo duro, mas que seja feita maternal e paternalmente, ou seja, com muito carinho e cuidado. Não é para tratá-lo como criança, mas sejam afetuosos com ele respeitando-o em sua juventude e nas opiniões e ideias contrárias ao que acreditam. Agir com violência só aumentará o problema. De repente, para que possam fazer isto, será necessário abrir mão de atividades que atualmente vocês pais estejam fazendo.

2 – Busquem se aproximar também dos amigos dele. Ver o que pensam, o que sentem e o que fazem. Quem sabe possam oferecer a sua casa para que se reunam para estudar, ou ouvir música por exemplo. Mas estejam por perto. Há sempre um ou outro que é mais aberto ao diálogo não deixem de se aproximar mais desses. Nesse conhecimento dos amigos, estarão também sabendo melhor quem são seus pais. É bem possível que tenham feito a mesma descoberta e estejam como vocês. Ansiosos e aflitos, sem saber bem o que fazer. Reunam-se para apoio mútuo e montar juntos um programa de ação.

3 – Envolvam a escola. Geralmente são estudantes do mesmo colégio. É hora de ir até lá e relatar para seus dirigentes o que está acontecendo. O problema da droga é uma questão também que envolve a educação. Os formadores são hoje bem preparados para lidar com problemas assim e, com certeza, poderão ajudar bastante. Sugira que ofereçam mais esporte para os alunos. Que sejam mais exigentes com os estudos, para que se mantenham mais ocupados. Esconder o problema só fará com que aumente.

4 – Criem interesses comuns entre vocês e ele. Isto significa por exemplo, fazerem ou participar do que ele gosta. Se curte skate, por que não, levá-lo a um campeonato dessa modalidade esportiva? Arrumem formas de colocá-lo para praticar algum esporte para que se sinta motivado a manter sua forma física. O que vocês gostam e ele curte? Talvez por aí encontrem interessantes pontos de contato.

5 – Diálogo é fundamental. Dialogar não significa dar ordens e muito menos fazer sermão. Tem o sentido muito mais simples de conversar. Jogar conversa um para o outro (e não fora). Batam papo, falem abertamente sobre as drogas. Não mintam dizendo que a droga é ruim. Se fosse assim ninguém quereria experimentá-la. Mostrem para ele que a droga é gostosa, mas que os riscos que traz embutidos são imensos. Quantas pessoas não se tornam viciados e perdem tudo. Família, amigos, futuro... Há filmes sobre o tema que podem ser assistidos juntos, em família. Depois discutidos entre vocês.

6 – Invistam na vida espiritual. Convidem-no para que participe do grupo de jovens, dos escoteiros, ou de alguma outra comunidade que se reuna com sentido de crescimento e de apoio entre si. Mas sejam coerentes. É fundamental que também tenham uma vida espiritual. O jovem é muito atento ao “façam o que digo, mas não o que faço”. Sejam honestos e sinceros. Eles detestam e costumam denunciar tudo aquilo que cheire a comportamento cobrado e que não esteja sendo cumprido por nós. O jovem está aberto à experiência de Deus, apoiem-no a que busque nele o sentido da sua vida.

7 – Sugiro que tenham um projeto comum familiar de solidariedade. Quem sabe não haja gente pobre por perto. Um asilo, uma creche... Sempre há tantas pessoas precisando de ajuda por aí. Criem algo para ser mais altruistas. Reparem que há muita vida fora do ambiente familiar interno. Olhem mais para fora e engagem-se nela. O jovem adora ajudar e participar. Curtem muito realizar trabalhos voluntários, lembrem-se disto. Encham o tempo dele com coisas bonitas e significativas. Este projeto pode ser ampliado e os amigos dele poderiam ser chamados a também participar.

8 – Busquem apoio de quem entende do problema. A droga é uma dificuldade universal e as saídas também estão disponíveis, graças a Deus, em muitos lugares. Não fiquem sozinhos. Vão em busca de grupos de pessoas sérias, com certeza os há por aí, que saibam como lidar com esta questão e vejam com eles como melhor agir. Um olhar mais atento em volta, fará com que vejam esses pontos de contato, aos quais poderão se agarrar. Avaliem com gente especializada o ambiente externo no qual vocês e seu filho estão vivendo. Vejam se será possível conviver com ele, ou se não será melhor que se afastem do lugar. Essa decisão precisa ser tomada com muito cuidado, eis que este problema se encontra em todos os bairros e cidades.

9 – Mais que um assunto de polícia a droga, dentro de casa, é questão de Amor. Não ajam como policiais, mas como pais que, por amarem demais, só sabem querer o bem do seu filho. Amor, mais do que falado precisa ser demonstrado. Façam isto em todos os momentos. Não se esqueçam que a droga costuma ser um grito de socorro. O que lhe está faltando? Avaliem, como casal, no que possam estar contribuindo para o problema. Sejam muito honestos nesta hora. A questão maior é o salvamento do seu filho, não é mesmo?

10 – Sozinhos nada podemos fazer. Além do apoio da escola, dos amigos, da comunidade e de gente mais especializada, busquem rezar. Rezem entre vocês. Rezem por ele. Peçam outros para rezar. Peçam na oração para que Deus, que é todo bom e infinitamente misericordioso lhes dê a força e a coragem para lutar pelo seu filho e junto com ele pela libertação deste mal.


Daqui distante também fico rezando para que logo possam agradecer ao Senhor por terem superado, como família unida mãe, pai e filho, o problema.

Receba meu abraço fraterno,

Fernando.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 06/09/2012
Alterado em 06/09/2012


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