Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Jesus ensina, profetiza e nos mostra o verdadeiro Poder – 25º Domingo do Tempo Comum – Ano B 

Partindo dali, atravessaram a Galileia, e Jesus não queria que ninguém o soubesse, porque ia instruindo os seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão de matar; mas, três dias depois de ser morto, ressuscitará.» Mas eles não entendiam esta linguagem e tinham receio de interrogá-lo. Chegaram a Cafarnaúm e, quando estavam em casa, Jesus perguntou: «Que discutíeis pelo caminho?» Ficaram em silêncio porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: «Se alguém quiser ser o primeiro, há de ser o último de todos e o servo de todos.» E, tomando um menino, colocou-o no meio deles, abraçou-o e disse-lhes: «Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim, mas àquele que me enviou.» Mc 9,30-37

Havia muito barulho e confusão à volta. O mestre então, para falar de coisas importantes e ligadas ao futuro, sentiu necessidade de tirar os discípulos daquele ambiente agitado. Levou-os para lugar onde, mais tranquilamente aprendessem tudo aquilo que precisava lhes ensinar. Falou-lhes então de profecias e de como deveriam usar o poder.  

Consideremos, para facilitar nossa reflexão, três partes nesta passagem do Evangelho de Marcos. Na primeira, que chamaremos “Aprendizagem”, veremos Jesus levando seus discípulos para um lugar separado, onde pudesse lhes ensinar. Na segunda, a qual daremos o nome de “Profecia”, contemplaremos o Senhor apresentando aos seguidores, o que iria em breve lhe acontecer. Na última veremos a questão do “Poder”.

Aprendizagem – Nenhuma palavra saída da boca de Jesus foi gratuita. Tudo o que disse constituía-se ensinamento para a vida plena. Na instrução aos apóstolos, os conduzia até lugares protegidos da multidão. Se para aqueles que o seguiam era difícil o entendimento, imagine-se o que ocorreria caso houvesse o povão à volta. Não era nada simples compreender o Mestre, pois suas palavras eram contrárias a tudo o que o mundo lhes propunha. Jesus caminhava pela contra mão, como nos dizia Carlos Mesters. 

Para assimilar as novidades paradoxais, era preciso largar de mão aquelas coisas até então assumidas como verdade. Para aprender de Jesus necessitavam antes, desaprender de um tanto de coisas. E isto não se dava só naquele tempo e com aquele grupo. O Evangelho continua conflitante com as regras definidas pela sociedade. Conversão também é desaprender das coisas velhas, para que o coração se encha das novidades que Ele nos traz.

Carrega-se ensinamentos vida afora que nada mais, ou muito pouco nos dizem respeito. Transportamos peso morto que só dificulta o transporte das nossas mochilas. Andamos curvados ao peso de tralhas que em nada são capazes de nos ajudar no caminho. Muito disso que se leva é fruto de "mandatos familiares, sociais e mesmo religiosos", assumidos quando crianças. Lastro inútil, talvez incoerente com nossos valores. Alguns até preconceituosos. Quem sabe um exame de consciência mais cuidadoso identificará,lá no fundo da bolsa, esses aspectos dos quais é preciso que se desaprenda.

Profecia – Jesus profetiza seu destino e obviamente não é compreendido pelos discípulos. Olhando daqui de agora a cena, a impressão é de que seria fácil compreender essas palavras duras do Senhor. Ledo engano. Como imaginar que o messias libertador, aquele que lhes traria o Reino de Deus, em breve iria se transformar em vítima?

Sem dúvida que há falta de profetas, vivemos uma época de baixa profecia. É preciso pedir ao Senhor o envio desses homens e mulheres especiais. Recordo-me do que dizia para a CVX em Fátima – Portugal o Pe. Adolfo Nicolas sj. Animava-nos quanto à urgência de formarmos comunidades proféticas”. Aqui há um fato interessante a ser analisado. Parece-me que nesses tempos globais e das redes sociais, a profecia se faz, mais do que por pessoas, comunitariamente.

A atitude profética é necessária ao discipulado. Em tempos de pouca profecia entra-se naquilo que se pode chamar de “zona de conforto”. Ela é terrível, porque instala. Faz diminuir, e até cessar o processo de crescimento. Quando tudo está bem o nível de aprendizado decai, o seguimento passa a se dar com passos mais lentos e menores e o comodismo passa a ser o comportamento usual.

A profecia desinstala, assusta, gera medo. Por isto não é fácil compreendê-la. Ela faz com que se veja aquilo que não se quer olhar e isto traz conflitos. Melhor então abafar o profeta. Não é a toa que ele costuma ser o chato a perturbar a ordem. O profeta olha além, pois vê com os olhos de Deus, fala com a sua boca e sente com o coração também do Senhor.

Poder – Esta é uma palavra complicada. Para muitos de nós trata-se de expressão associada ao mando e domínio do outro, ou de alguma coisa. Nesse sentido ter poder significa dar ordens e ser obedecido. Era também desse jeito que raciocinavam os discípulos. Na verdade, achavam que os símbolos de poder e o Poder emanado pela autoridade eram a mesma coisa. Também fazemos esta confusão. A verdade é que são bem diferentes, até porque utilizar símbolos de poder significa simplesmente que se sente falta do Poder verdadeiro.

O poder é atraente. Gosta de se mostrar em ambientes ricos, perfumados, bonitos e frequentados por gente bem vestida. Ele dá dinheiro. Ao contrário do Poder que ocorre anonimamente e mesmo que exercido por pessoas reconhecidas, gera muito mais trabalho e responsabilidades do que reconhecimento monetário.

A este poder preconizado por Jesus devemos registrá-lo com maiúscula. Já o poder de mando, que não raras vezes tem descambado para o autoritarismo e a corrupção, devemos grafa-lo com letra minúscula.

É preciso atenção para distinguir quem busca o poder daquele que anseia servir. Quem tem poder se serve dele. Quem tem Poder o usa para servir ao próximo. Exercer o Poder é, sendo cristão ou não isto não é tão relevante, disponibilizar-se para o trabalho ajudando as pessoas para que possam se desenvolver. Apoiar para que cresçam em dignidade. Deixem enfim de ser objeto, para se tornarem sujeitos da própria história. Que seja assim o poder do voto concedido em cada eleição aos nossos políticos escolhidos. Cristão que náo usa o seu Poder está fugindo da 'própria responsabilidade na vida. 

Pistas para reflexão:

- Como Jesus me ensina?

- O que preciso desaprender na vida?

- Exerço mesmo o Poder, ou me atenho ao poder? 


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 17/09/2012
Alterado em 13/09/2021


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