Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Quem faz o bem está com Jesus – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano B 
João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor. Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’”. Mc 9,38-43.45.47-48

O crack chegara avassalador. Vários jovens daquela comunidade pobre caíram em suas garras. O drama crescia a olhos vistos. As igrejas e grupos religiosos, de uma ou outra forma, desenvolviam ações para minimizar o drama. Só que eram dispersas, alcançavam muito pouco. E foi então que os espíritas, responsaveis pela creche do lugar, convocaram a todos para discutirem uma estratégia mais ampla e eficaz de combate à terrível droga. Convites para a reunião foram enviados às igrejas. Para surpresa deles o pastor de um templo bastante conservador se fez presente, mas o que chamava mais a atenção era a ausência de representantes da Igreja Católica...

Continuamos com os ensinamentos de Jesus. Depois de uma etapa de prodígios, a ênfase agora é posta na instrução. Nesse "segundo tempo" do Evangelho de Marcos. privilegia-se a ação dos discípulos e a maneira como o Senhor, cuidadoso, está sempre a ensiná-los. Jesus sabe que ninguém se tornará seguidor sem saber, a partir do conhecimento daquele que o convoca, o que deve ser feito. 

Aprende-se mais e melhor a partir da experiência. Nada mais adequado então que aproveitar os acontecimentos vivenciados pelos seus amigos, para o ensinamento. Os discípulos denotando satisfação com o que tinham feito: “proibir um homem de expulsar demônios em seu nome”, vêm até o Mestre para obter dele a confirmação daquilo que tinham realizado.

A resposta de Jesus é, mais uma vez, surpreendente: “Não o proibais”. Imagine-se a surpresa de João, porta-voz do grupo, como também dos seus companheiros. Supunham terem feito a coisa certa. Como poderiam deixar alguém agindo em nome daquele que seguiam sem que fosse seu seguidor? Muitas vezes aquilo que achamos ser o correto não é, em definitivo, o importante e necessário. Muito menos pode ser aquilo capaz de nos levar ao bem.

Esta é uma das passagens mais instigantes e geradoras de incômodo dos Evangelhos. Observamos também que este comportamento dos discípulos não se restringe somente àqueles tempos. Continuamos sendo, hoje em dia, tentados a requerer o monopólio da ação de Deus. Diante da postura aberta e tão inclusiva de Jesus, é preciso que nos examinemos para conhecermos até que ponto não estamos sendo, de uma forma ou de outra, exclusivistas enquanto Igreja de Jesus.

Será que também acolhemos o bem sem olhar de quem, ou de onde ele esteja vindo? Ou torcemos o nariz quando descobrimos que sua procedência não é assim tão “pura de origem”? Tal comportamento fará com que, ao invés de combater os demônios, expulsando-os para distante, terminemos nos confundindo, achando que os diabos são aqueles que, como nós, também lutam contra eles.

Jamais podemos nos arvorar em donos do sagrado, ou mais ainda, em proprietários de Deus. Ele é sempre maior, mais aberto e inclusivo do que qualquer um de nós, por mais religiosos que sejamos. Sentir-se assim, donos de Deus e das suas coisas, levou-nos no passado, enquanto instituição, a atitudes de fechamento e exclusão  em relação a um tanto de gente (judeus, escravos negros, índios, ciganos...) para as quais é necessário que pesçamos muito perdão. O cuidado que precisamos ter é para que não se continue a fazer coisas, em nome de Deus, geradoras de sofrimento. 

O nome no sentido bíblico tem um significado muito mais amplo do que hoje. É muito mais que designar um ser humano. O nome possui nele aquele que está nomeando.  Dizendo de outra maneira poderíamos falar que o nome é a pessoa. Ao falar o nome se está automaticamente trazendo junto o ser designado. Só pode fazer o bem quem está com o Bem e o nome dele (do Bem) é Deus.

Na segunda parte do texto, Marcos nos apresenta o Senhor tratando da questão do escândalo. Nesse sentido é preciso ter atenção com dois aspectos. O primeiro, bem óbvio, indica-nos a impropriedade de entendermos essas expressões de arrancar partes do corpo de forma literal. Não é arrancar membros, mas ordenar os afetos e estes se encontram no coração. São as nossas desordens interiores que provocam os escândalos. 

O outro ponto a ser visto convida-nos a ampliar o sentido das frases tendo agora a comunidade como o corpo. Fazendo assim, precisamos tomar muito cuidado para não escandalizar outros membros, principalmente aqueles menores e mais excluidos. Fazendo assim, não se estará agindo em nome de Jesus, mas se estará trabalhando contra Ele.  

Pistas para reflexão:

- Como reajo àqueles que fazem o bem e que não pertencem ao nosso “redil”?

- Trabalho para uma Igreja mais inclusiva e misericordiosa?

- Que significado tem para mim o Nome do Senhor?

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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 24/09/2012
Alterado em 21/09/2021


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