Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Santidade é destino a ser buscado por todo filho de Deus – Solenidade de Todos os Santos 

Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vós. Mt 5, 1-12ª

Era uma vez um rei todo bom. Seu castelo, posto no topo da montanha mais alta, podia ser visto em todo o reino. Considerava a todos como filhos, lhes dedicando amor e proteção. Eram plenamente livres e o rei sentia que várias vezes eles se faziam ausentes da sua presença e carinho. Esforçava-se então para encontrar um modo de demonstrar que se mantinha constantemente junto deles. Teve a ideia de lançar linhas invisíveis e bastante tênues, para ligar cada um dos súditos a ele. Só que toda vez que se distanciavam do monarca, a cordinha invisível e finíssima esticava-se demais, rompendo-se. Mas não nos esqueçamos: o rei era todo bom. Ao constatar tal fato se entristecia, mas mantinha a esperança de que aquele filho se arrependesse e viesse buscar seu perdão, que jamais era negado. Feliz, ao ver o filho de novo próximo e arrependido pelo afastamento, o rei corria a amarrar a linha. Só que aí começou a acontecer algo bem interessante. A cada novo nó a linha se tornava menor. Trazia aquela pessoa que partira para longe, ainda para mais perto do rei. Passado algum tempo havia tantos laços que ninguém mais estava distante. A tal linha invisível se tornara supérflua.  

A festa de todos os santos convida-nos à lembrança daqueles nossos irmãos na fé, que já se encontram vivendo as maravilhas da eternidade de Amor, na presença da Trindade Santa. Ao aceitar tal apelo, quase que automaticamente, vem-nos à memória os santos que se encontram nos altares e dos quais somos devotos.

Celebrar a santidade só assim desta maneira é bem pouco. É preciso ter atenção, pois que esta festa quer nos levar a algo ainda muito maior e mais profundo. É preciso ir além, deixar-se conduzir pelo tema, para poder contemplar duas faces muito bonitas do Pai.

A primeira é o rosto da santidade de Deus. Só Ele é o verdadeiramente santo. Não é por acaso que em todas as missas proclamamos que “santo, santo, santo, santo é o Senhor”. Esta festa então, mais do que celebrar a limitada santidade humana, quer enfatizar a santidade infinita de Deus.

É o Pai, por pura graça, que nos faz seus santos, trata-se de presente dEle. Não fora o Senhor ser santo, não haveria sentido esta celebração tão bonita. Tornar-se santo, jamais pode ser considerado mérito humano, é dom do Pai. Somos criados para a santidade porque somos filhos do verdadeiro Santo.

Como reza o ditado popular que “filho de peixe peixinho é”, é possível por analogia depreendermos que filho de Santo é no mínimo “divinizável”, ou seja, um ser passível de se tornar também santo.

Obvio que isto não tira o caráter de heroísmo dos santos venerados nos altares e de tantos e tantos outros, a imensa maioria, anônimos e mesmo esquecidos. Ao acolher a graça eles a trataram como tesouro tão grande e precioso, que nada no mundo foi capaz de afastá-los por muito tempo da presença amorosa de Deus.

Ao registrar as vidas dos santos, não é raro que os biógrafos tendam a deixar bem mais evidentes, suas faces da pureza e mesmo os milagres, em detrimento daqueles atos menos louváveis. O fato de quase sempre não terem sido registradas suas faltas, não significa, de forma alguma, que não cometeram pecados. Santidade e perfeição são conceitos bem distintos.

O grande diferencial é que eles jamais se conformaram com a ausência de Deus em suas vidas. Ao constatar que se afastavam da graça, logo corriam a pedir perdão. Ao fazer isto iam se colocando, cada vez mais perto daquele que é todo Santo. A cada retorno tornavam-se ainda mais íntimos, mais perto dEle, conforme nos ensinava a historinha dessa semana. 

Ao celebrar os santos no céu, estamos também nos dando conta desta busca, como “filhos de peixe”, da santidade. O ser cristão pode ser resumido na busca da santificação. Por isto o Evangelho deste domingo, quer nos dar ferramentas para essa procura. Oferece-nos assim as bem-aventuranças. Elas são como que o nosso “manual de instruções”.

Importante ressaltar que elas não se configuram em categorias, ou graus hierárquicos das aptidões e merecimentos para o alcance da glória de Deus. Menos ainda devem ser vistas como “lista de prêmios” a serem distribuídos, àqueles que se comportarem segundo estes critérios. Elas devem ser olhadas – e vividas – muito além deste horizonte.

É preciso que as sintamos como a maneira de Deus conduzir sua gente. O jeito pelo qual poderemos dele nos aproximar e, sobretudo a meta para a qual deverá ser guiada a nossa existência.

Outro tipo de visão equivocada da bem aventurança, é aquela de se imaginar o bem-aventurado como alguma pessoa de sorte. Um filho especial e dono de alguns privilégios. Alguém blindado por Deus, protegido de toda mazela e sofrimento, como infelizmente ainda se vê em algumas igrejas. 

Nada disto. O bem-aventurado é todo aquele que caminha com o Senhor, tomando assim parte no seu Reino. É o santo. Aquela pessoa que, a partir do “manual” distribuído no alto da montanha, passa, mesmo com seus retrocessos, a pautar a existência pelos critérios de Jesus.

Pistas para reflexão durante a semana:

- Sinto-me bem-aventurado?

- Busco a santidade?

- Como lidar com um “manual de instrução que vai na contramão do que prega o mundo?


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 29/10/2012
Alterado em 01/11/2021


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