Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra – Um reinado bem diferente - Jesus, Rei do Universo - 34º Domingo do Tempo Comum 
 

Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: "Tu és o rei dos Judeus?" Jesus respondeu: "Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?" Pilatos falou: "Por acaso, sou Judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?" Jesus respondeu: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui." Pilatos disse a Jesus: "Então tu és rei?" Jesus respondeu: "Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz". Jo 18,33-37

Acostumado a ver imagens de Jesus coroado como rei, o jovem começou a achar que Ele fosse como os monarcas, dos quais conhecia as histórias. Reis muitas vezes preocupados mais consigo mesmos e com seu poder do que com o povo. Imperadores vivendo em castelos impenetráveis, insensíveis aos clamores e necessidades das gentes a quem deviam servir. Ao contrário, por elas acabavam sendo servidos. A partir daí, o que aconteceu com aquele rapaz foi a indiferença em relação a Jesus. Ele o sentia tão imperial e distante da sua realidade que se tornava impossível dEle se aproximar.

Nosso imaginário está povoado de figuras reais. Desde crianças nos acostumamos a escutar as histórias de príncipes, princesas e dos seus pais os reis e rainhas. Alguns, sem dúvida, maravilhosos, defensores dos seus povos, cuidadores das suas gentes. Outros nem tanto. Até de tiranos terríveis ouvimos contar variados relatos.

Inseridos nesta ambiência real, os artistas passaram a retratar Jesus como se fosse igual aos reis que viam e dos quais eram súditos. Vejamos que no início do cristianismo não foi bem assim. Os primeiros cristãos viam o Senhor e o apresentavam muito mais como Pastor. Uma breve passada pelas catacumbas romanas nos mostrará isto a partir dos ícones nelas gravados.

Pouco a pouco vai ocorrendo uma mudança e já a partir do Século IV, veremos Jesus sendo retratado também como rei, além de pastor. Assim foram criadas estas lindas imagens reais do Cristo. Nelas Ele veste os trajes mais caros e bonitos que seus criadores eram capazes de imaginar. Na sua cabeça coroas cravejadas de brilhantes, querem nos reforçar ainda mais o poderio do reinado do Cristo.

Eram tempos nos quais democracia era algo impensado. A monarquia com suas cortes, símbolos de poder, cetros, castelos e coroas é que era natural. Nesse cenário o povo só seria capaz de compreender o Poder de Jesus a partir de uma realidade assim desse jeito: imperial.

Jesus podemos ver isto pelos Evangelhos, jamais foi um rei desse tipo. Esse tipo de reinado aprendido nas histórias e que continuamos vendo quando dos casamentos reais, principalmente pela televisão. não faz parte da vida simples  de Jesus. Seu reinado é muito diferente. Muito mais bonito, profundo e significativo para nós. Seu reinado subverte a realidade, questiona os poderosos, ao invés de estar com eles. 

Notemos que o Evangelho de João. proclamado nesta festa. nos mostra exatamente isto. A cena não tem nada de pompa e circunstância. “Meu reino não é deste mundo”, responde Jesus ao ser interpelado por Pilatos. Em outras partes do Evangelho veremos em que consiste este Reino. A verdade é que se trata de uma realidade bem distante e, por que não, estranha para os padrões mundanos.

Nele há tremenda inversão de valores. Sua corte é composta de pescadores, coletores de impostos, excluídos de todas as maneiras, sofredores, prostitutas e até ladrões. Nesse Reino diferente no qual os pobres são consolados e valorizados; ovelhas perdidas buscadas e acolhidas; os filhos perdidos são resgatados. Neste Reino ninguém sofre, é injustiçado, adoece ou morre. Nele todos se realizam, eis que são abraçados pelo Pai em sua dignidade de filhos.

Este Reino não acontecerá somente no futuro. É perigosa e alienante tentação pensar assim. Ele se faz presente desde agora entre nós, nas ações boas que acontecem à volta. Ao mesmo tempo ele se distancia por causa da miséria e egoísmo dos homens e mulheres. Fato é que desde já, como parte da “corte” deste Senhor, precisamos trabalhar duro para construí-lo.

Para não embarcar em canoa furada de falsos reis, é necessário atenção. O reinado de Jesus tem três características básicas que nos levam ao seu seguimento:

1 – Preocupa-se com todos. Não se serve da sua gente. Ao contrário, Ele serve constantemente. Nosso Rei é servidor.

2 – Cuida dos pobres e pequeninos. Acolhe a todos indistintamente. Ele jamais está distante das pessoas. Nosso Rei é cuidador.

3 – Não vive somente no aqui agora e muito menos no futuro próximo. A dimensão que apresenta é a da eternidade. Ele nos livra das amarras do tempo e espaço. Nosso Rei é salvador.


Quando o Reino estiver enfim instalado, o Filho de Deus retornará para recolher enfim toda criação e nela toda criatura, em sua misericórdia e justiça. Na linda visão de Teilhard de Chardin o Cristo Cósmico virá para assumir todo o Universo numa espiral de Amor, consumando-se assim esse Reinado total de Deus sobre a criação.

Pistas para reflexão:

- Que imagens do Reino percebo à minha volta?

- De que maneira tenho servido ao Rei do Universo?

- Como vou construindo, como discípulo missionário este Reino tão diferente?


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 19/11/2012
Alterado em 12/11/2021


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