Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Oração no Ônibus
 
Aqui estou, mais uma vez, no ônibus. O mesmo e tão conhecido trajeto. Segue cheio. Reconheço a maioria dos rostos. Sorrimos uns para os outros. Os amigos do caminho. Quando, ao passar pelos seus pontos, algum não o apanha, fico preocupado. O que terá acontecido? Foi demitido do emprego, está doente? Ou simplesmente perdeu a hora?

Nosso motorista e cobrador são sempre os mesmos. Dão-nos segurança. Somos por eles reconhecidos. Sabem o ponto de origem e aquele no qual cada qual costuma saltar. Caso algum de nós, por descuido ou sono, não se prepare para descer, retumbará aquela voz grave e bem humorada avisando do esquecimento.

Há os que só de vez em quando aparecem. Dentre esses tem aquele que de repente some e, como não era dos passageiros usuais, só me darei conta do desaparecimento bastante tempo depois. Será que se mudou, tem novos horários, trocou de emprego, ou quem sabe até esteja doente...?

Nosso ônibus acolhe sempre um ou outro novato. Gente que é transportada por um dia e bem provavelmente, jamais verei. Dos cotidianos sei mais. Quando se sentam ao meu lado conversamos. Partilhamos problemas e medos. As conquistas e alegrias pessoais e também daqueles que mais amamos.

Dos que bem pouco ou nada sei, imagino aonde vão, se estão bem, ou estão sofrendo a partir da aparência deles. Aquela mulher sempre triste e que vi no rosto, mais de uma vez, lágrimas. O jovem com o fone de ouvido e que balança o corpo no ritmo da música. O senhor com o semblante carregado, segurando com as duas mãos o envelope grande de laboratório. Têm os que vão dormindo, uns mesmo em pé. Os que viajam lendo ou estudando...

Senhor, este ônibus é sagrado. Ele é também Igreja. Nele viajamos, nós os seus filhos, em busca do sustento, da saúde, do lazer, do conhecimento, do serviço ao outro e à sociedade. Ele faz parte do seu colo amoroso. Nessa viagem seguimos, de forma consciente ou não, pelo mistério de Amor da vida que brota do seu imenso coração.

Não deixe que nos percamos por outras estradas sem sentido. Que nunca usemos o nosso ônibus para a busca da alienação, da droga, da exploração do outro. Que a gente só viaje nele para fazer o bem. Nunca o usemos para o pecado, Senhor.

Mesmo aqueles que não o sabem. Quem sabe nunca tenham ouvido falar de Você, todos que nele seguem, ansiamos profundamente, por seu Amor e cuidado. Por isto, em nome de todo o ônibus quero lhe pedir que olhe por nossos caminhos.

Esteja conosco não somente nesse trajeto de todo dia, nas horas dos engarrafamentos e naquelas nas quais o trânsito flui, mas também por tantas outras estradas que, a cada momento, somos chamados a trilhar.
Amém.
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 15/12/2012


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras